Era então ABRIL NO MECO e os corpos integralmente nus pousavam na toalha branca de areia para um afago do sol. UM TAXISTA FALADOR levantava a voz, soprando sobre as cabeças dos outros, que sabia de um lugar ainda melhor lá para OS CUS DE JUDAS.
Garantia a perdição em nichos de paz, que A DOÇURA DO SILÊNCIO era a erva que rodeava os cantões onde todas as línguas de pureza se falavam. Hummm…
Se havia restaurante, perguntava outro. Restaurantes dois, adiantava eu, onde A GORJETA era um afago ao tacto dos cozinheiros para mais delícias futuras do palato.
HELENA, a que misturava poesia nos temperos, só esperava um telefonema por indicação amiga. Já tivera problemas com O PERFIL DOS FALSOS PERFIS e ainda não conseguia dizer quem era quem. Só recebia com recomendação de gente de confiança, por causa dos engraçados que na hora de pagar tinham perdido a carteira…
Eu bem conhecia a casa. Havia um canto com lareira onde era possível descobrir A BELEZA DOS VELHOS LIVROS e discutir DE NOVO O NOBEL DA PAZ, que tanta divergênca de opiniões tinha gerado em tempos, quando ali se pernoitava.
Sim, já tinha sido pousada e EU ESTIVE NA ETERNIDADE durante uma semana com uma certa companhia. Agora NÃO VALE A PENA. Os caminhos tornaram-se ruidosos pela descoberta do paraíso e a última vez que lá ficava só conseguia ler O LIVRO QUE NÃO EXPLODIU.
VOLTAR A TIMOR – calma, falo de outro livro que levava, não de ir à ilha do crocodilo – já não conseguia acabar, porque ainda havia barulho permitido nos cinco quartos. De tal modo que antes de adormecer ouvia O PIROPO que um gajo debitava à namorada, linda moça de OLHOS VERDES, muito amiga de escrever, pela tardinha, no canto reservado às discussões.
Um dia perguntava-lhe porque estava sempre distante. E ela, numa vozinha de cristal debitando banal metáfora: “não é só O OCEANO DA ESCRITA que me chama. Lá nado, esbracejo a maioria das vezes, para manter uma história de felicidade à tona”.
Andava-me a roer os miolos, a lembrança daquela loura, mas ainda tinha na cabeça MARTA E OS CRAVOS DE ABRIL, uma ingrata a quem comprava uma casa e ficava arruinado. Nunca mais de lá saía depois de me pôr as malas à porta, precisamente no dia em que divulgavam um nome: O PRÉMIO NOBEL DA PAZ.
E eu em guerra com as contas, com fome de quase tudo, todos os dias a bater-lhe à porta. Ela com o rolo da massa a mandar-me embora, sem ver que aquela miséria humana era toda POR AMOR.
Até que uma noite de lua cheia avistava SANTA MARIA DO MAR, adormecia numa cela do Mosteiro e de manhã acordava com A LUZ MAIS PRECIOSA abraçada a mim. Só depois me lembrava que me tinha embebedado na noite anterior na taberna OS LOBOS e que uma linda fera me amparava quando eu começava a ver dobrado e julgava ter duas lobas numa única bebedeira. Quase pegava em mim, conduzía-me. Não me lembro de mais nada. Ela jura que houve mais…
Vínhamos à varanda da cela. Bela era a TERRA MÃE estendida à nossa frente em variados matizes. Num velho transístor falavam de um deslize de mais um político. ENTÃO GOVERNEM, dizia a minha salvadora de quem nem sabia o nome. Importa que melhorava de feitio, arranjava emprego e vinha assumindo a identidade de UM SANTO POR DIA, para não me cansar de ser bom. Ela, boa como o milho, ou para ser mais delicado, PÃO COM MEL, sempre a dizer-me o lugar da barraca de onde vinha, porque A MISÉRIA NÃO É UMA INVENÇÃO e muito batalhava para sair de lá.
Gosto da Papoila. Tem um nome de flor por estação. Não quero saber o nome de baptismo. Já tive curiosidade em lhe perguntar QUE IDADE TEM? mas acreditem que me estou nas tintas. O velho naturalista inglês – DESCULPE SR. ATTENBOROUGH – não parece ainda um pedaço de homem? Ela diz que sim, está sempre a elogiá-lo. Acho que é uma forma de pedir uma viagem a Londes.
Levou-me para casa dela. Já não era sem tempo. Temos ficado assim na mornidão das noites e um dia destes perdi a vergonha e escrevi-lhe uma CARTA DE QUASE AMOR. O resto? Bem, o resto é um bocadinho de sal e pimenta nos ovos da manhã e o AMARGO E DOCE do café da vida.




Delícia! Um género bem diferente daquilo a que nos tem habituado mas escrito com imensa graça e a propósito.
Um fresco refrescante de uma certa maneira de ser português/a.
Muito bom.
Tão bom!
É sempre um deleite para quem gosta de palavras, palavras qye rodopiam na nossa imaginação.
Como é rica a escrita da Helena!
Venham mais textos.
Helena gostei tanto de ler este texto, diferente do que estava habituada a ler seu, mas belo, muito belo e com a mesma riqueza de linguagem que a poeta sempre nos deu a ler. Obrigada.