DE NOVO O NOBEL DA PAZ

Devia ser atribuído a personalidades que deixam, para além do tempo em que vivem, a marca indelével do seu carácter e feitos.

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Já a 07 de Abril deste ano manifestava aqui o meu parecer sobre o assunto, acentuando que SIR DAVID ATTENBOROUGH merece o prémio, mais do que os outros nomeados.

Não estranhamos que se conceda destaque a quem pronuncia discursos inflamados de circunstância, ou pratica factos isolados à medida dos interesses do momento. Compreendemos que deva enaltecer-se a coragem de pessoas que enfrentam poderes hostis correndo perigo de vida, na sua defesa pessoal, ou de projectos de recorte humanitário. Mas o que marca e deve perdurar na memória colectiva, é o exemplo continuado de acções coerentes que preservem a Natureza, a vida de todos nós que dependemos dela.

Sir David Attenborough vem contribuindo, com uma entrega sistemática e apaixonada ao longo de muitas décadas, para a defesa da diversidade e equilíbrio dos ecossistemas, e para a necessidade de se colocarem de parte interesses nacionais, em prol do bem-estar de toda a Humanidade.

Merece o Prémio Nobel da Paz pela originalidade na partilha de conhecimentos, pela persistência, empenhamento e amor incondicionais aos outros homens e à Natureza. Começou aos 28 anos e ainda não parou de lutar por um mundo harmonioso e saudável. Sete décadas de entrega da sua vida a causas que dizem respeito a todos.

Em Maio aderi a uma das páginas criadas, quase todas sob o mesmo título – David Attenborough to the Nobel Prize – no sentido de ajudar a defender a sua conquista do prémio que já outras vezes lhe escapara. Passado pouco tempo pareceu-me que o objectivo que presidira à criação dessa e das outras páginas, começava a ser desvirtuado. Já não eram os feitos de Sir David que apareciam em destaque, eram negócios e autopromoção de alguns membros.

Cheguei a manifestar o meu desagrado. Não tenho nada a ver com as estratégias de cada um para “sobreviver”, mas a minha intenção ao aderir, era apenas apoiar Sir David na conquista do Nobel da Paz. Nesse sentido deixava, a 11 desse mês de Maio, uma publicação com as razões sucintas pelas quais defendia a sua nomeação e que então obtinha 118 likes e adoros, oito comentários e 4 partilhas.

É difícil encontrá-la, mas com paciência consegue localizar-se. E mesmo que não se conseguisse, importante seria reproduzir a ideia do que lá está. Diz apenas, em poucas linhas, uma verdade que não desmerece as qualidades dos outros nomes propostos, mas que enaltece as deste naturalista, historiador, zoólogo que admiro desde a adolescência e que ensinou gerações pelo mundo inteiro a conviverem em paz umas com as outras e com a Natureza: David Attenborough merece o Prémio Nobel da Paz, porque ao longo de sete décadas promoveu o conhecimento de todas as espécies animais, algumas até então desconhecidas para o homem. Só isto, e é tanto!

O que diria hoje a baronesa Bertha von Suttner, antes condessa polaca Kinsky, que depois de algum tempo em Viena, respondia a um anúncio para secretária de Alfred Nobel, então em Paris, e se tornaria uma activista da Paz e sua Amiga? Era ela quem o influenciava a criar um prémio neste domínio, colocando-o a par das suas actividades.

Ambos diriam que lutar pela paz é mostrar, pelo exemplo de vida, no caso de David Attenborough bem longa, que “é tempo de deixar os nacionalismos e trabalhar para o entendimento e harmonia globais”, como ele manifestava em sua casa, numa entrevista ao Programa 60 Minutes de Anderson Cooper para a CBS News, em Setembro de 2020. Todos deviam procurá-la no Youtube e visualizar. É linda!

Era tempo de pandemia. Em confinamento obrigatório, dizia ele, o mundo percebia que a desaceleração de vida promovia uma serenidade diferente, dava espaço a outras espécies para usufruírem do direito ao seu habitat. As águas ficavam cristalinas, o equilíbrio ecológico era retomado. Os homens conseguiam ouvir os pássaros e entender que faziam parte da Natureza.

Muitas são as vezes em que Sir David Attenborough se manifesta ainda sobre o perigo das alterações climáticas pela avidez do poder, denunciando os que não se detêm em ambições, provocando desigualdades e injustiças gritantes, ou “envenenando o mundo” para obterem lucros fabulosos em recursos energéticos que uma fracção de sol poderia fornecer.  Daí a minha admiração e respeito ilimitados.

Só gostaria de obter aqui adesão a esta defesa do seu nome para o Prémio Nobel da Paz de 2023. Afinal é bem pouco para um SENHOR que vai a caminho dos 98 anos e que contava a várias gerações do mundo inteiro em 1979, num documentário fabuloso chamado Vida na Terra, a mais bela história sobre a evolução deste planeta que é a nossa casa comum.

5 COMENTÁRIOS

  1. Que homem extraordinário. Bem merecia o Prémio Nobel da Paz este ano. Era bom que não se esquecessem do conceito e meditassem no merecimento de David Attenborough.
    É muito oportuna esta crónica de Helena Ventura Pereira. Obrigado pelo esforço e oxalá que este admirável naturalista fosse agraciado.

  2. Subscrevo, sem hesitação!
    Que justa e meritória é a causa que aqui tão elegante e persistentemente defende. Sempre fui um grande admirador de Arthur Attenborough e sobretudo da paixão e ternura com que, nos seus belíssimos documentários e programas, manuseava os mais humildes seres e simples elementos que povoam e compõem o nosso (ainda) belo Planeta.
    Prémio da Paz? Obviamente. Lutar pela preservação da Natureza e por um Planeta sustentável é um dos mais fortes contributos para a Paz!

  3. Que causa tão nobre esta para a qual Helena Ventura Pereira nos convida! Já tinha aderido ao movimento numa fase anterior e mais do que nunca me convenço da sua justeza.

    Sir David Atrenborough impõe-se pelo seu formidável trabalho de divulgação científica e luta pela defesa da biodiversidade e diversidade animal, defendendo-as como bem comum planetário. Mas não se impõe menos pelo exemplo que significa, sobretudo para as gerações mais jovens, devedoras que lhe ficam de uma vida na terra muito mais rica graças à sua acção.

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