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Very Typical

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Parece que a estação mudou. Quando o dia já caminha a passo largo mas o sol ainda não se levantou há uma paz cinzenta, a brisa esfria a voz dos outros, são murmúrios apenas, e a manga cava parece um disparate.

Vou andando pelo coração da cidade em forma de batalha naval. Numa montra vendem-se batas para donas da casa, vestidos balão para bebés e roupa interior feita de malha. Noutra, cheia de pormenores cintilantes, bonecos modelos usam roupa estilosa dos anos 1980. Há uma loja vazia de typical portuguese food, no outro lado da rua, atrás de um camião de mudanças, os homens fumam cigarros na primeira pausa da manhã. Encontro o meu destino ao mesmo tempo que o Sol, chegamos ambos aos correios e ao verão.

Resguardo-me numa pequena sombra para fumar, desvio-me um pouco da fila de cinco pessoas mascaradas. Eu só me mascaro em espaços fechados. Quero apagar o cigarro, olho à volta, olho para a rua seguinte, já com esplanadas meio ocupadas por gente que se esconde do calor. Atravesso-a, apago o cigarro no chão, apanho a beata e coloco-a no caixote do lixo de um café. Parece que os cigarros estão fora de moda. Depois, ao fundo, vejo finalmente um caixote/cinzeiro e é aí que reparo na torre “Big Ben” em aço fundido, cheia de pormenores, mas tão simples o mesmo tempo. Parece um míssil que caiu ali e não explodiu. Deram-lhe o nome de uma santa, talvez tenha sido uma santa que o criou para nos elevar do tão miserável ouro até a um jardim fértil. Sobe e desce todos os dias, é o elevador mais original da cidade.

Chega a minha vez, afinal não trouxe a encomenda. Bolas! Saio dos correios, entro na rua prateada. Gosto do cintilante e elegante metal, ao contrário do piroso brilho do ouro. Numa das esquinas a loja das noivas está vazia, parece que fugiram todas do altar sem devolver os vestidos. A loja, agora nua, mais bonita do que nunca, deixou de vender histórias de príncipes encantados.

O chão é de calçada portuguesa, única no mundo, especialista em quedas e trambolhões. Já fiquei com um dos dentes da frente a abanar por causa dela, mas é como um homem que nos dá para trás e, mesmo assim, corremos atrás dele, queda após queda, e nem as maleitas nos fazem desistir. Até ao dia, o dia em que arriscamos ser atropeladas na estrada perigosa, continuar em frente e, passo a passo, largar esta calçada enfeitiçante, elegante, tão sedutora.

Flaneio pela Baixa, pelos menus em cinco línguas, pelas lojas very typical. Há espaço para os raios de sol, háespaço sem se ouvir 50 mil línguas. O vírus devolveu-nos a Baixa. Dizem que é mau para a economia, dizem que o mundo vai colapsar. Dizem muitas coisas, tantas, que já não dou ouvidos ao que se diz. Nesta manhã em que acordei antes do Sol, a cidade é minha e não há dinheiro que pague isso. Subo à rua dos saldos, vou ter com o meu poeta preferido, desço aos ecos do largo da ópera. Sinto-me livre. O vírus matou o turismo, tem até a ambição de nos matar a todos. Enquanto o perigo sobe e desce, subo e desço as colinas da cidade mais bonita do mundo porque é a minha. És tão boa Lisboa.

O que aprendeste na escola hoje?

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Muitos professores voltaram à escola esta semana, para reuniões de avaliação e atendimento aos encarregados de educação com a respetiva entrega de notas. O uso de máscara foi obrigatório, o distanciamento social foi observado e as aulas do próximo ano letivo estão agendadas para setembro como habitualmente.

Entretanto, o ministério anunciou um ano escolar mais longo para 2020/2021, com menos dias de interrupção na Páscoa e aulas até dia 30 de junho na generalidade. Ou seja, depois de um ano em que o confinamento, especialmente no 3º período, arrasou alunos, famílias e docentes, eis que a solução encontrada para suprimir lacunas de matérias é carregar e exigir mais dos elementos que fazem girar a educação no essencial.

O Ministério da Educação tem um sério problema com a escola. Nunca a encarou como lugar de qualidade. Tudo passa pela quantidade, dos números, das contas, dos documentos, dos estudos, do que quer que seja que mantem os seus intervenientes quase que em permanente estado de alerta, inundados frequentemente em cima da hora com alterações legislativas complexas e difusas, que apenas fazem eco desse navegar à deriva em que se tornou o grande barco do ensino.

Perante esta abordagem substancialmente numérica, tanto quem ensina como quem aprende têm sido meras cobaias de experimentalismos vários, de decisões tomadas em cima do joelho, para dizer que se fez alguma coisa de diferente, nem que seja basicamente ter mudado a nomenclatura e te-la tornado mais hermética e sempre fértil em novidades documentais, que as escolas e colegas papistas logo tratam de executar.

Reflexão? Dizer que não, que não serve? Não há tempo, não há vontade, não há força. Poucos serão os diretores verdadeiramente honestos intelectualmente que ponham o interesse do real saber e do equilíbrio de trabalho à frente da fotografia e dos seus próprios números. Aos que o tentam, mesmo encontrando pela frente uma tutela surda e muda, reconheça-se o mérito e a coragem.

A redução do numero de alunos por turma vinha mesmo a calhar, a bem de todos. Tínhamos este ano, em plena pandemia, uma hipótese de ver reduzido o número de miúdos concentrados em salas por vezes demasiado pequenas sequer para o professor circular, alimentando a indisciplina e afetando a qualidade do ensino e das aprendizagens.

A decisão do parlamento, há sensivelmente duas semanas, foi a de chumbar a proposta do BE neste sentido, aprovada apenas com os votos deste partido, do PCP, do PAN e do PEV. Assim, regressaremos em setembro com as salas cheias e de máscara, porque não parece que a situação de contágio esteja completamente erradicada até lá. Até aqui tudo bem, desde que haja também funcionários para desinfetar (nesta quinta feira, havia muitas, no feminino, disponíveis e simpatiquíssimas, como sempre). Ora isto significa que tem de haver pessoal auxiliar suficiente nas escolas todas, o que não corresponde à realidade.

Por outro lado, como manter o distanciamento social já em setembro com as salas com 28 ou 30 alunos? Trabalhar por turnos é uma hipótese, já várias disciplinas funcionam assim nalgumas horas por semana e os ganhos são manifestamente muitos. Os próprios alunos reconhecem um foco diferente e uma aprendizagem mais eficaz dessa maneira. Haverá salas suficientes? E professores? O ministério anuncia mais docentes para o próximo ano letivo, possivelmente indo buscar aqueles que pôs fora neste últimos anos.

As voltas que tudo isto dá não deixam de ser supreendentes. Como prever o imprevisível? Esta pergunta encaixa também na interrogação que constitui o início das aulas em setembro nestas condições. Isto se voltarmos, já agora. Esperando que sim, a verdade é que podem não estar reunidos os requisitos para tal. Para continuar em saúde e segurança.

Covid-19: pandemia continua indomável na região de Lisboa

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Sete mortos e mais 413 infetados, dos quais 317 na região de Lisboa e Vale do Tejo, são os dados oficiais da Direção Geral de Saúde sobre a evolução da pandemia covid-19 em Portugal nas últimas 24 horas.

Os sete óbitos registados ocorreram todos na região de Lisboa e Vale do Tejo, aquela onde se regista um maior número de novos casos nas últimas semanas.

Ainda em relação à região de Lisboa e Vale do Tejo, a DGS mantém a informação de que há 200 casos ainda por incluir no total, referentes a testes realizados por um laboratório que em três dias desta semana não os registou no sistema para o efeito, estando a sua distribuição ainda a ser analisada pelas autoridades de saúde.

Por concelhos, o top-5 dos mais infetados está assim ordenado:

1- Lisboa, com 3.645 casos (+81)

2- Sintra, com 2.850 casos (+35)

3- Loures, com 1.910 casos (+23)

4- Amadora, com 1.780 casos (+7)

5- Vila Nova de Gaia, com 1.678 casos (+8)

Caso notável é o do Porto que não tem nenhum caso de contágio no último mês (malgrado todas as dúvidas que isso levanta), e os de Braga Matosinhos e Gondomar, igualmente com zero contágios hoje.

Na Área Metropolitana de Lisboa, temos ainda Odivelas, com 1.183 casos (+26) e Cascais, com 1.061 casos (+20).

Testar quem chega aos aeroportos

A ministra da Saúde disse hoje que nas últimas 24 horas foram realizados 200 testes à COVID-19 a passageiros provenientes do Brasil, Estados Unidos e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) no Aeroporto de Lisboa.

Nem todos os dias as coisas correm dessa maneira, na quinta-feira passageiros TAP provenientes de Luanda afirmaram que não fizeram testes por falta de zaragatoas.

Na conferência de imprensa de atualização dos dados da pandemia, Marta Temido contou que o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e o Instituto Nacional Ricardo Jorge têm estado a apoiar o Aeroporto de Lisboa para a aplicação de testes a passageiros dos PALOP, Brasil e Estados Unidos.

“No caso de os passageiros não trazerem um teste, essa falta é suprida no aeroporto”, esclareceu a governante, destacando que “enquanto não temos a certeza de que sejam portadores de teste negativo, estamos a complementar, para garantir que ninguém fica prejudicado”.

Não há nenhuma obrigatoriedade de quarentena, apesar do teste não garantir que o viajante não esteja contaminado.

Portugal furou o bloqueio, mas os ingleses não sabem!

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Todos os noticiários do passado dia 3 de Julho de 2020 (faço questão em registar a data completa!…) veicularam as declarações amargas de Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, a comentar o facto de o Reino Unido ter, de certo modo, fechado as fronteiras à entrada de portugueses e desencorajado os ingleses a virem a Portugal.

Não me admirei, porque a nossa História – independentemente de, em meados do século XIV, se ter selado um pacto de amizade entre os dois países, com o casamento de el-rei D. João I com D. Filipa de Lencastre – está semeada de gestos menos amistosos por parte dos britânicos. Aliás, quando cantamos «Às armas! Às armas! Contra os canhões marchar, marchar!», que canhões eram esses? Os dos ingleses, que, a 11 de Janeiro de 1890, nos haviam feito um ultimato, a obrigar-nos a entregar-lhes os territórios entre Angola e Moçambique, representados no Mapa Cor-de-Rosa.

Já não refiro o facto de o Tratado de Methween, assinado a 27 de Dezembro de 1703, só aparentemente nos ter sido favorável, porque o interesse britânico era o de chegar mais facilmente aos barcos vindos com o ouro do Brasil…

Querem bloquear-nos agora? Estão no seu pleno direito de ignorarem a História, pois foi precisamente para os seus barcos poderem vir abastecer-se à costa portuguesa, que Portugal não respeitou o Bloqueio Continental decretado, a 21 de Novembro de 1806, por Napoleão Bonaparte e sofreu, por isso, três invasões que nos depauperaram. Sim, eles, os britânicos acabaram por vir ajudar-nos, mas, não fora o movimento surgido após a frustrada conspiração de 1817 contra o marechal inglês Beresford, mais tempo ainda eles estariam por cá – que a governança, com Suas Majestades no Brasil, lhes era bem favorável!…

Deixemos, pois, esses senhores e voltemos, então, às invasões, porque nos comprometemos a contar histórias relacionadas com o burgo cascalense.

E a vila muito sofreu, na verdade, com a primeira invasão, de 1807, porquanto sua excelência o comandante Junot se aboletou na vila e não dava mostras de querer ir-se embora. Sim, vencemos as batalhas de Almoster e Asseiceira e veio de seguida o representante do governo inglês, Almirante Sir Charles Cotton (1753-1812), que foi quem assinou com os franceses a retirada. Esteve hospedado Cotton na casa de D. Inês Margarida Antónia da Cunha, que foi depois dos Condes da Guarda, os actuais Paços do Concelho. Junot terá estado no que é hoje o Solar D. Carlos e há fortes probabilidades de ali – na bonita sala que a foto mostra – ter sido assinada a tristemente célebre Convenção de Sintra. ‘Tristemente’, porque em nada nos foi favorável, até do ponto de vista cultural, pois muitas das preciosidades que pilhara em igrejas e conventos a soldadesca teve hipótese de levar consigo. Cita João Paulo Ferreira Silva (em Primeira Invasão Francesa 1807-1808, edição da Academia das Ciências de Lisboa, 2015, p. 14), o que um jornal francês noticiou:

«Os 7000 franceses que desembarcaram em Quiberon vinham carregados de ouro e não havia nenhum soldado que não trouxesse à volta do corpo cintos repletos de moedas de ouro».

Aliás, não se estipulava também aí, nessa Convenção, que as fortificações e praças apreendidas pelos franceses eram entregues aos… ingleses?

Não fora, porém, nada serena a estada das tropas francesas por Cascais nesse ano de 1808. Além de os soldados portugueses mais válidos terem sido de imediato incorporados na Legião Estrangeira e enviados para França, foi de polé o tratamento dado, por exemplo, pelo general Morin, conforme relato do então Juiz de Fora, José Belo Madeira (veiculado por Ferreira de Andrade, em Cascais Vila da Corte – p. 260). Diz Belo Madeira que, ao chegar, o general «sem civilidade e em tom napoleónico», lhe «deu uma ordem por escrito para fazer aportar 1200 rações de pão, carne, vinho, legumes e lenha para, no dia seguinte; fornecerem a tropa».

Não houve luta aberta, mas o povo sabia-as fazer pela calada. Num relato da época se conta que, nas redes, de vez em quando lá vinha mais um cadáver francês!…

Nove meses aturou Belo Madeira os despotismos franceses, mas, ao recordar esse ano, em carta de 1810, confessa sentir-se desvanecido por não ter visto correr sangue cascarejo; por o povo de Cascais nem um real ter pago para a contribuição dos 40 milhões; por ele próprio não ter desarmado o povo, impedindo assim que o saque à vila tivesse sido maior. Conta também que, um dia, por o general francês o haver desmentido, se foi a ele, lhe agarrou na espada e com ela o trespassaria se os ajudantes não tivessem acorrido…

O certo é que todas essas atrocidades se cometeram contra o povo português, por termos sido fiéis à «velha aliança britânica». E nem a dita Convenção de Sintra, assinada em pleno coração da vila cascalense entre ingleses e franceses nos valeu!

Respeitem as farmácias

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Antes de iniciar este artigo, declaro sob palavra de honra que não tenho nenhuma farmácia, nunca tive nenhuma farmácia, não pretendo adquirir nenhuma farmácia e nenhum familiar meu é ou foi proprietário de uma farmácia.

Cumpre-me no entanto o dever de alertar os cidadãos para a situação destes profissionais.

Muitos foram os que bateram palmas aos médicos e enfermeiros que combateram e têm vindo a combater a pandemia.

No entanto, não vi ou ouvi uma palavra de apreço para com as farmácias que foram as primeiras a acudir a população, estávamos ainda no mês de março e o medo era absolutamente avassalador.

Foram as farmácias as primeiras a estar na linha da frente. Foram estes profissionais os primeiros a arriscar a própria vida numa altura em que ainda não era obrigatório usar máscara – mas já existiam infectados, ainda não era obrigatório usar viseira – mas já existiam infectados, ainda não havia álcool gel na entrada dos edifícios – mas já existiam infectados, as pessoas ainda mexiam nos produtos expostos – mas já existiam infectados, ainda não era obrigatório manter distância social – mas já existiam infectados, as farmácias ainda não dispunham de acrílicos nos balcões – mas já existiam infectados. E os farmacêuticos estavam lá, desprotegidos, arriscando a própria vida e a vida dos seus!

As farmácias foram as primeiras vítimas do negócio que se gerou.

E para acudirem à população pagaram o que lhes foi pedido. Máscaras e álcool gel a preços pornográficos.

Dizem os entendidos que é a lei da oferta e da procura. Existindo muita procura aumenta o preço e as farmácias, que nada tinham a ver com a escalada dos preços, ainda foram acusadas, por muitos ignorantes, de serem as culpadas pelo que estava a acontecer.

Não foram e não o são.

As farmácias foram as que estiveram nas trincheiras para que o desespero não tomasse conta da comunidade.

Hoje as farmácias têm centenas de unidades de álcool gel. Não o vendem porque o povo se esqueceu delas e prefere comprar noutras superfícies comerciais. É mais barato e o dinheiro não abunda. E eu percebo.

Hoje as farmácias não vendem máscaras. São muito caras e há quem as ofereça na compra de mercearia. O dinheiro não abunda, e eu percebo.

Hoje as farmácias têm centenas de máscaras e agora, que não há escassez de produto, os presidentes de câmara e de freguesia até as oferecem à população e a população (pasme-se) agradece. O dinheiro não abunda e eu percebo.

No entanto, já que o povo passa dificuldades e tem de comprar ao melhor preço, porque não ajudam as autarquias as farmácias a escoar o produto?

E as farmácias que se viram obrigadas a comprar produtos a preços astronómicos para valerem à população o que fazem com eles?

E nós? Será que em muitos casos a diferença de preços nos prejudica? Ou seremos apenas uma cambada de ingratos?

Sim, as farmácias são o parente pobre da saúde e isso, eu garanto-vos, que não percebo. E jamais perceberei que o povo seja sempre o primeiro a esquecer-se delas.

Covid-19: 11 mortos e confusão nos dados divulgados pela DGS

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Portugal regista hoje mais 11 mortos devido à doença covid-19 do que na quinta-feira e mais 374 infetados, dos quais 300 na Região de Lisboa e Vale do Tejo, divulgou a Direção-Geral da Saúde.

Os números parecem indicar um agravamento da situação da pandemia na regiºao de Lisboa e Vale do Tejo.

Segundo o boletim epidemiológico diário da DGS, o número de mortos relacionados com esta doença respiratória infecciosa totalizou hoje 1.598, enquanto os casos de infeção confirmados desde o início da pandemia no país somam 43.156.

O número de pessoas que recuperaram da infeção causada por um novo coronavírus subiu hoje para 28.424 (+327).

O relatório foi divulgado muito mais tarde que o habitual e até às 23 horas de sexta-feira, dia 3, os números por município não foram atualizados no site da Direção Geral de Saúde.

Na conferência de imprensa, a ministra da Saúde reconheceu haver discrepâncias nos dados recolhidos pela Direção Geral de Saúde e falou num montante de 200 casos positivos que surgiram agora, alegadamente na sequência de uma recontagem dos números recolhidos. Disse a ministra que estão a tentar perceber se esses 200 casos já tinham ou não sido incluídos nos números divulgados. Confusos? Nós estamos.

Falta de rigor nos números que nos apresentam

Já estavamos, antes disto estar a acontecer. Por exemplo, no município do Porto há perto de um mês que não há um único caso de novo contágio. Nem um. Mas não é isso que acontece nos municípios circundantes ao Porto nem é isso que acontece no resto do país. É como se o Porto tivesse ganho imunidade em relação ao covid-19, o que não é possível, como se sabe.

Duas Linhas contactou uma fonte hospitalar na cidade do Porto que, sob anonimato, relatou o seguinte: “Não pretendo nenhuma polémica. Pretendo somente fazer uma chamada de atenção para a falta de rigor dos números que todos os dias nos apresentam. No período a que se referem houve no meu hospital, que não é o único que recebe utentes dessas áreas, vários diagnósticos efetuados de covid no concelho do Porto, como também de resto em Gondomar e na Maia por exemplo, pelo que a mensagem que se está a passar, ao ser errónea, poderá induzir também algum laxismo da população em termos de medidas de proteção. Uma forma simples de corroborar esta informação seria naturalmente questionar os delegados de saúde dos ACES Porto Oriental e Porto Ocidental no que ao concelho do Porto diz respeito.”

Fica a dica para os jornalistas sediados no Porto.

Assembleia não quis Joacine online

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Joacine Katar Moreira entrou hoje em quarentena voluntária depois de ter contactado com uma pessoa infetada pela covid-19.

A deputada pretendia continuar a participar nas sessões plenárias da Assembleia da República, mas a instituição não lhe proporcionou meios para que tal fosse possível.

Numa nota enviada às redações, Joacine diz que “por ter tido contacto direto com uma pessoa infetada pelo novo coronavírus, e apesar do resultado negativo do teste, o SNS pede-me que fique em casa durante 14 dias, coisa que cumprirei com todo o sentido de responsabilidade”.

Curiosamente, hoje o plenário discutiu a situação de teletrabalho no país, debate marcado pelo PAN. Joacine queixa-se da recusa que recebeu quando pretendia continuar a trabalhar online: “Foi-me recusado um requerimento no qual solicitava ao Presidente da Assembleia da República a participação via videoconferência nos trabalhos em plenário, para poder votar iniciativas legislativas e marcar presença, tal como já acontece nas Reuniões Ordinárias das Comissões Parlamentares”, diz a deputada.

“Num tempo de medidas de exceção, a Assembleia da República prova mais uma vez que tem enormes dificuldades em corresponder àquilo que é pedido a todo o país: que se adapte e que não deixe ninguém de fora”, criticou a deputada Joacine Katar Moreira.

A propósito do discurso de ódio

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Transcrição da crónica:

“Hoje vou falar de uma notícia realmente interessante e que está a causar comichões a muito boa gente…

Então, diz a notícia que o Governo vai monitorizar o discurso de ódio nas plataformas “online”, e que estará prestes a  dar início a uma ação de acompanhamento e identificação de ‘sites’ que promovem esse tipo de discurso.

Éh, pá. Até que enfim que alguém se mexe a sério para conter esse bando de criminosos que tomaram de assalto a net e que intimidam, exercem bullying, ameaçam – há ameaças de morte, até – alusões a balas perdidas, imaginem só, e isso não pode ser. Não é tolerável.

É bom até que o governo tenha a percepção real do perigo que essa malta constitui, até porque não são só reacionários da extrema-direita racista e xenófoba, na maioria dos casos, como há, nessa amálgama de gente, pessoas ligadas às forças policiais e, dizem, ao exército…

Estamos a falar de gente que pratica crimes. É crime ameaçar de morte alguém (por exemplo, fazer isto que este tipo fez ao escrever “vê lá se não aparece uma bala perdida por aí”… ), isto é crime, Tonny vai falar com um advogado, pá.

É crime fazer a apologia de ideias fascistas e nazis… (este tipo aqui escreveu que uma “bomba limpava esta merda toda…”)

É crime promover o racismo… (nesta cena entre polícias e negros, este tipo escreveu que “era abrir fogo neste filho-da-puta),apologia à violência, à morte, ao ódio racial, não vai ser difícil encontrar inúmeras situações, caso queiram mesmo preocurar.

Todos estes crimes constituem o tal discurso de ódio de que fala a notícia.  Acho muito bem que se dê caça a criminosos, muitos deles alojados num único partido político, e será interessante que se faça esse cruzamento de dados ao identificar os criminosos, saber que simpatias políticas tem.

O que eu espero é que tudo isso seja feito em tempo útil, que não fique tudo na gaveta das boas intenções e que se passe à ação com rapidez, eficiência e eficácia… porque a Democracia não pode ser branda com quem a ameaça… não podemos deixá-los crescer até serem imparáveis… e já vimos isso acontecer em muitas partes do Mundo… e não estou a falar apenas da ascenção ao poder de Hitler, na Alemanha… meto no mesmo saco os atuais ditadores da Russia e da China e os candidatos a ditadores que estão neste momento no poder no Brasil e nos Estados Unidos… é tudo farinha do mesmo saco, meus amigos.

A Europa tem muitas ameaças à Democracia, é o Salvini na Itália, o Orbán na Hungria, a Marine Le Pen em França, em quase todos os países europeus a extrema-direita racista e xenófoba cresce, com discursos alicerçados no medo e em mentiras securitárias e em bodes espiatórios para os problemas sociais e económicos… e contra este tipo de discursos de ódio que floresce nas redes sociais, a opinião pública já conseguiu fazer com que grandes anunciantes tenham decidido penalizar o facebook, por exemplo, por permitir que isso aconteça impunemente nesta rede social…

Bom, o Estado que se apetreche com esse mecanismo de sinalização e identificação das fontes do discurso de ódio, e as pessoas que se sintam alvo desse discurso que não tenham medo de denunciar os criminosos que as ameaçam.

Afinal de contas, os tribunais estão aí para julgar também esse tipo de crime.

Covid-19: Aeroporto de Lisboa sem “cotonetes” (zaragatoas)

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Ontem à noite aterrou um voo vindo de Luanda. Não se tratou de um voo regular, o espaço aéreo angolano continua fechado mas tem havido autorizações pontuais para ligações com Lisboa a título de “voos humanitários”, embora os passageiros tenham de pagar bom preço por um lugar num desses voos.

Segundo as regras em vigor, todos os passageiros que não tenham comprovativo de um teste covid-19 recente têm de fazer teste à chegada. Foi isso que aconteceu ontem, com centenas de pessoas em fila muito lenta para os testes. Só que a meio “acabaram-se as cotonetes”, segundo relato que uma passageira fez ao Duas Linhas.

Protestos, indignação, tudo serviu para adensar teorias da conspiração quanto às regras de combate ao covid-19 em Portugal, ninguém percebeu como deixam esgotar material de recolha de análise num posto fronteiriço como é um aeroporto internacional.

O teste obrigatório “acabou por não ser preciso”, como referiu a passageira que pediu para manter o anonimato. Centenas de pessoas entraram no país sem qualquer filtro sanitário nem recolha de dados sobre onde residem, por exemplo, de modo a puderem ser, eventualmente, seguidos pelas estruturas de saúde dos locais de residência.

De notar, ainda, que segundo o relato que nos foi feito, o “avião veio cheio, sem lugares vagos, todos os passageiros usaram máscaras que tiravam quando precisavam de beber água ou de comer alguma coisa e não havia nenhuma possibilidade de manter distanciamento social” entre os passageiros.