Cada casa terá habitualmente duas ou mais janelas. O contacto com o exterior. A abertura a merecer a atenção do arquitecto, o gosto do proprietário. Sardinheiras à janela! «A janela da coscuvilhice»… Por isso, há estilos, hábitos, a percorrerem gerações.
O livro de José Luís Madeira e Jorge de Alarcão, Janelas Portuguesas dos Séculos XV a XVIII, edição do Centro de Estudos em Arqueologia Arte e Ciências do Património (Coimbra, 2024; ISBN: 978-989-36060-0-1, 333 páginas), não pretende apresentar o catálogo de todas as janelas assinaláveis dessas bem remoras eras.

A ideia dos autores foi de, através de minuciosos desenhos e sintéticas descrições, darem conta das características estilísticas patentes ao longo dos tempos, para que, depois, se possa dizer, com o apoio destes testemunhos, «Esta é uma janela do século XVI, da segunda metade do século XV» e assim por diante. Por isso, o título do volume é janelas portuguesas e não as janelas portuguesas.


Não quer isto dizer que não estejam aqui documentadas as principais janelas dos períodos em análise. Estão-no seguramente; contudo, foi também intento discutir conceitos: o que é um solar, uma casa solarenga, um palácio, uma casa de sobrado, a casa corrente ou comum, uma casa fidalga… E o que é uma aldraba, uma portada, um muxarabiê?…


«Lateralmente, as portadas articulam-se por meio de peças de ferro, os lemes, providos de espigão que se insere num pequeno copo ou cachimbo» (p. 26): um exemplo de como, em poucas palavras, se dá conta duma série de designações, a tal terminologia técnica que devia conhecer-se no cotidiano, a fim de evitarmos palavras e expressões como «o coiso», «aquela coisa»… Tudo, afinal, tem nome próprio e há que o saber, mesmo não sendo carpinteiros ou construtores civis, para melhor nos entendermos.
Se vale a pena folhear pausadamente este volume, com 180 números, cada um deles a referir a uma ou mais janelas de um edifício, acompanhados os desenhos por adequada e fundamentada descrição? Sem dúvida!
Relevante pela exaustiva bibliografia apresentada, pela integração histórica e, de modo especial, pelos excelentes e preciosos desenhos de José Luís Madeira. Pois não se mostram só os pormenores sugestivos de cada janela, há delineada a representação da respectiva casa na sua totalidade.

Dará seguramente muito gosto e proveito a leitura vagarosa destas páginas, onde, a par do rigor descritivo, campeia a enorme sensibilidade gráfica que destes desenhos dimana.
Um livro para ter na mesa da sala de visitas, a fim de ser folheado não uma mas muitas vezes. No fundo, um passeio bem diferente, guiado por bem argutos olhares, por esse Portugal de antanho, que tanto, afinal, tem para admirar.