É um romance que se agarra e só se larga na última página. Carmen Laforet leva-nos numa viagem pelo interior das mais profundas angústias humanas, numa família, numa casa, numa cidade – Barcelona – onde a protagonista viveu um ano apenas. Um ano em que tudo foi sempre nada, numa sufocante história de vida pessoal e familiar salpicada de momentos e paisagens e objetos e sentimentos disfóricos.
Tudo neste livro nos remete para almas adormecidas, fechadas e solitárias… As outras personagens apresentam-se afundadas em preto, alongadas e sombrias. Há nestas 275 páginas um profundo desamparo, um absoluto abandono… E Barcelona, que deveria ser o porto de abrigo da jovem recém-chegada à casa da avó materna, acaba por revelar-se uma cidade de sombras e de gritos onde o ar está carregado de tristeza.
NADA é a prova de que as famílias podem ser tão disfuncionais como o desabar de uma forte tempestade. Só raramente a protagonista se sentiu solta e livre na cidade deserta de gente sua, sem medos nem fantasmas, uma cidade de uma solidão impressionante, como se todos os habitantes tivessem morrido.
Adorei a personagem central do romance, com quem adormeci e acordei nesta última semana. Como ela, “gosto de pessoas que vêem a vida com outros olhos, que consideram as coisas de forma diferente da maioria… pessoas com aquele átomo de loucura que faz com que a existência não seja monótona, ainda que sejam pessoas infelizes e estejam sempre nas nuvens…”
Eis um livro onde a vida aparece nua e sem pudores e nos grita intimidades tristes.
Tudo o que importa saber acerca deste Gabinete Português de Leitura da Bahia– que é um dos 28 gabinetes portugueses de leitura criados pelo Brasil desde 1830 (o 1º foi em Porto Alegre) e até 1916 (o de Viçosa do Ceará) – está consignado no livro de Regina Anacleto, acabado de publicar (2024) pela Quarteto Editora*, de Salvador (Bahia). 166 páginas, em formato A4, mui significativo acervo fotográfico a cores no final. Edição financiada pelo Arquiteto Abel Travassos, que na ficha técnica vem apresentado como «português, ex-Presidente da Casa e abnegado sócio».
Regina Anacleto, recorde-se, especializou-se no estudo das arquitecturas neomedievais, designadamente a neomanuelina, tendo analisado miudamente, na sua tese de doutoramento (Arquitectura neomedieval portuguesa. 1780-1924, defendida em 1992), entre muitos exemplares portugueses desse tipo de arquitectura, o Palácio Nacional da Pena (em Sintra) e o Palácio da Duquesa (em Cascais). Manteve sempre grande relação com o Brasil e publicou, em 2010, uma primeira monografia deste teor, intitulada Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro: ponte de artistas entre dois mundos.
Não admira, por isso, que, neste livro, depois de referir as circunstâncias em que os gabinetes de leitura foram surgindo no Brasil, se debruce sobre esse tema das arquitecturas ‘revivalistas’ (perdoe-se-me o uso deste adjectivo), mostrando o interesse que devem despertar edifícios como o referido Paço da Pena, o Mosteiro dos Jerónimos, a estação central do Rossio, o edifício dos Paços do Concelho de Sintra. Uma palavra especial é dada à «reinvenção cenográfica da arquitectura manuelina», tanto no que designa «o paraíso romântico do Buçaco» como na «magia romântica da Quinta da Regaleira».
Essa moda também seduziu o Brasil – recorde-se que esse século XIX correspondeu à grande imigração portuguesa (os «brasileiros de torna-viagem» de que tanto eco há na literatura da época) – e é nesse movimento que se insere a criação deste gabinete de leitura em Salvador da Baía.
Lê-se na acta fundacional:
«Os fins da presente sociedade consistem na aquisição do maior número de obras de reconhecida utilidade escritas nos idiomas Português e Francês e mais aquelas que posteriormente se julgarem mais precisas, assim como os principais jornais publicados em Portugal e no Brasil» (p. 137).
Anote-se, para que conste: em Português e em Francês!
Todo o capítulo 6 é dedicado a dar conta das principais efemérides que constam da história do Gabinete, história que é depois referida em sequência cronológica, desde 1830 a 1947 (p. 124-137).
Permita-se-me que releve dois ou três desses factos – pelo especial significado que se lhes pode atribuir.
Assim, fica-se a saber que, por iniciativa da direcção do Gabinete, se promoveu, em 1878, uma subscrição «para fazer face às despesas com as exéquias a Alexandre Herculano». Quem diria?
Também se festejou em Salvador, no ano de 1880, o tricentenário da morte de Camões. No ano seguinte, a direcção dos festejos comemorativos ofereceu ao Gabinete o busto que, eventualmente, merecera lugar de honra no decorrer das cerimónias.
A patriótica indignação contra a nossa «mais velha aliada», a Inglaterra, que, traiçoeiramente, nos lançou, em 1890, o Ultimatum, também se alargou a terras brasileiras, onde se abriu uma subscrição «a fim de angariar fundos destinados a comprar unidades navais para equipar a marinha de guerra portuguesa» (p. 131).
Com os fundos obtidos se construiu, no Arsenal da Ribeira das Naus, em Lisboa, a canhoneira «Pátria», entregue à armada portuguesa em 1903 e que, em 1905, demandou os principais portos brasileiros para manifestar a gratidão pelo movimento patriótico espontaneamente gerado no Brasil. Na circunstância, a 9 de Setembro, os oficiais da canhoneira foram recebidos em sessão solene, tendo a direcção do Gabinete entregado ao comandante, Capitão Tenente António Alfredo da Silva Ribeiro, o diploma de sócio honorário. O ensejo foi igualmente aproveitado para se entronizar «a maqueta do monumento a Pedro Álvares Cabral, da autoria de Costa Mota, que havia sido adquirida por um grupo de sócios num leilão da alfândega e oferecida ao Gabinete» (p. 133-134).
Tudo isto para mostrar que, afinal, este Gabinete de Leitura da Bahia – como, de resto, os demais – não constituiu mero repositório de publicações de leitura presencial ou domiciliária; em seu redor – como no dos demais – manteve-se e alimentou-se o espírito português. Uma obra arquitectónica, sim, mas a arquitectura é, aqui, o invólucro exterior de uma missão com objectivos culturais bem definidos e muito maiores.
Está de parabéns a Autora, por mais esta obra com que nos quis brindar.
Surgiu nas redes sociais guineenses, como fogo na palha. Um jacto privado aterrou em Bissau carregado com droga, mas a viagem do avião estava a ser controlada pela DEA norte-americana em conjunto com a Polícia Judiciária guineense.
Tudo indica que se trata de um grupo de traficantes com ligações a dirigentes políticos da Guiné-Bissau, dado o modo como a operação terá sido delineada. “Primeiro criam instabilidade política, depois fazem estas operações de tráfico aproveitando a confusão do momento”, dizem-nos fontes em Bissau.
O que as imagens revelam é o aparente à vontade com que os traficantes atuaram, uma vez que a droga nem sequer foi dissimulada. A carga ocupava todo o espaço da cabine e vinha “sentada” nos bancos dos passageiros. Isto poderá significar que os traficantes não estariam à espera de que a polícia quisesse sequer olhar para dentro do avião.
O avião está retido e a tripulação sob custódia policial, enquanto decorrem as averiguações. O pouco que se sabe é que se trata de um grande carregamento de droga proveniente da Colômbia.
O Presidente Umaro Sissoco Embaló está fora do país, numa visita de Estado ao Vietname, mas está a acompanhar a par e passo a evolução dos acontecimentos, segundo fonte próxima da Presidência em Bissau.
BISSAU É ENTREPOSTO
A droga que chega a Bissau não é para consumo interno, destina-se ao mercado europeu e, alguma, irá para a África do Sul. As polícias europeias e norte-americanas conhecem há muito os percursos delineados pela chamada “Portuguese Conexion”, rotas que partem da América Latina e que têm bases logísticas em vários países africanos de língua portuguesa. A entrada da droga na Europa faz-se, em boa parte, pela fronteira portuguesa.
É assim que a Polícia Judiciária portuguesa tem especial atenção às movimentações dos traficantes, tanto em Bissau ou na Cidade da Praia, como em Portugal. As detenções e apreensões têm sido frequentes. Lembramos o caso, recente, de um deputado guineense, Manuel Irénio Nascimento Lopes, que foi detetado com 13 quilos de cocaína dissimulados na bagagem após um voo da transportadora aérea portuguesa TAP proveniente de Bissau, ou o caso do procurador Eduardo Mancanha detido “em flagrante delito” na posse de dois quilogramas de droga também no Aeroporto de Lisboa.
Um querido Amigo lembrava-os há uma semana numa excelente crónica – amoladores antigos e recentes – e desse encantamento que me envolvia na infância, retirava eu umas franjas luminosas que ainda acendiam o olhar e dilatavam o sorriso.
O traço de união entre eles era o tempo atmosférico, cinzento-escuro anunciando aguaceiros e aquela melodia chorosa de raízes orientais, tocada com pouca variação de notas.
A gaita de beiços passava a chamar-se harmónica bucal. A bainha das calças já não se prendia com molas de roupa. Só o invarável apito e o meio de transporte se mantinham, como símbolos de resistência de um mister secular.
Muito pequena já corria à varanda para os ver chegar, como se fossem poetas deixados num pinhal por uma nave invisível vinda das estrelas, a esfera da Poesia. E já montados nas bicicletas, ou apeados à espera de um serviço, angariavam umas moedas para o almoço frugal, porque família não deviam ter os poetas, achava eu…
Analogias à parte, levada pelos amoladores da nossa estabilidade emocional, lembrava-me que afiavam facas e tesouras diante dos nossos olhos pela magia de uma roda que fazia um ruído agudo de arrepiar. Mas havia um ou dois que apenas desafinavam, notas e instrumentos, desencadeando inesperada tormenta em vez de uma acalmia poética. Como aquele que ao colocar uns pingos nas varetas do meu lindo guarda-chuva, os ia deixando cair pelo tecido verde-lima que ficava um regador…
Passados anos voltavam. Morava então no último andar de uma casa grande, projectada na varanda de sete metros de comprido. Dali avistava mar até à foz do Tejo, a ponte sob um céu tão cinzento certo domingo, que ameaçava verter amoladores e bicicletas em quantidade bastante para encher a marginal.
Ouvia a melodia meio confusa do apito, corria à varanda das vistas largas que os prédios mais altos haviam de ir escondendo. Encostava-me ao ângulo mais chegado a Norte, o lado de onde vinha o som. Queria ver-lhe o aspecto, submeter os utensílios rombos da minha cozinha a uma operação estética. Afinal eram dois, um adulto de quase cinquenta anos e um adolescente a rasar os 13. Os cabelos não veriam pente há séculos. As roupas estavam amarrotadas, com pontas de palha ainda penduradas aqui e ali. A bicicleta era velha. Não tinha roda de afiar, teria?…
Parte das tropelias da vida acontecem por lhes abrirmos as portas da boa-fé. Hoje pergunto-me por quê? Prevenir é sempre a melhor forma de evitar. Fazia-lhes sinal para subirem. Vinha o garoto recolher o material para arranjar. Lá em baixo entregava-o ao mais velho, respeitando a hierarquia. Estranhava o homem virar e revirar as facas e tesoura de cozinha, como se lhe fossem objectos estranhos. Aqueles dois não vinham das estrelas…
Esperava que do alforge trazido a tiracolo, aparecesse uma lima, um afiador, uma ferramenta milagrosa que deixasse as minhas facas e tesoura lisas, mas qual quê! A uma ordem do mais velho o pequeno arrancava uma pedra meio solta do passeio, e entregava-lha com devoção. Depois, fazendo da beira do lancil ferramenta, “afiava” as facas enquanto o mentor, da parte larga, aproveitava cama estável para desatar à pedrada à minha pobre tesoura.
Sei, porque via, estarrecida, dois trogloditas com a roupa cheia de nódoas massacrarem os meus utensílios com violência inaudita, preparados para me deixarem as lâminas imprestáveis.
Ia lá dentro, mal-disposta. Interrompia as sanduíches com atum e ovo que amorosamente preparava para o miúdo e voltava. Perdia a vergonha e gritava já com público às varandas: “Alto aí, mas o que vem a ser isto? Vocês são amoladores, ou exterminadores de metal?”
“Blá, blá, blá …”gaguejava o mais velho em tom pastoso e aspecto embrutecido.
“Suba já o senhor e traga-me as facas e a tesoura sem demora”
Lá em cima a conversa azedava. Nada me convencia de serem profissionais. Olhando a minha pobre tesoura cheia de amolgadelas, atropelada por uma pedra como se fora por uma marreta, as minhas duas facas mais rombas do que podoa cansada de trabalho duro, estava capaz de o atirar escada abaixo, mas sempre queria ouvir…
“E agora, quanto lhe devo?”
“Bem, pelo arranjo da tesoura são 500 escudos, das facas são mais 500 cada uma, desgaste do material…”
“Mas qual material, seu asno? O Senhor desgastou foi o passeio”
O vizinho de baixo, um engenheiro muito amigo de novidades, passava para subir até à arrecadação onde, pretensamente, ia procurar equipamento. Diria depois à mulher, matemática, quando voltava a passar:
“A conta já vai em mil e quinhentos escudos…falta saber o desgaste do material.” E riam muito, conforme ela me contaria mais tarde. Devorado pela curiosidade ainda voltava a passar para ouvir o estado das negociações, mas o troglodita, mal atirava mais quinhentos escudos para manutenção da bicicleta, ficava mudo quando eu, tão alterada como o tempo, o ameaçava com a polícia para o fazer pagar as facas e a tesoura arruinadas.
O miúdo era o primeiro a desaparecer. O outro seguia-lhe o rasto sem demora.
Ainda os via saltarem do passeio para a rua, o mais velho ja montado na bicicleta desconjuntada, o miúdo a empurrar vermelho como um tomate. E com aqueles dois lá iam as minhas recordações de infância estraçalhadas para o resto da vida.
Quando voltava para dentro via as sanduíches do miúdo. Tinha pena, mas não ninguém poderia consertar a vida dele, enquanto tivesse o outro como mentor.
Hoje continuo a sofrer consequências de impulsos altruístas. Se me livrei de amoladores de tesouras, não escapei aos da paciência que nascem como cogumenlos ao tronco do mais pequenbo vislumbre de simpatia.
Arrenego-os. Estragam-me a orientação do caminho para as estrelas.
Enquanto o Governo anda atrapalhado com as questões difíceis da governança (Saúde, Ensino, Justiça), para as quais parece não estar preparado para resolver, apesar dos anos que os partidos da AD passaram na oposição, o líder do PS faz visitas mais ou menos lúdicas e aproveita o cortejo de jornalistas para ir passando mensagens.
Nos últimas dias, Pedro Nuno Santos e outros dirigentes socialistas, têm repetido a mesma ideia: o PS aguarda aguarda há mais de 1 mês por informação do governo que lhe permita iniciar um processo de negociação para o Orçamento do Estado de 2025.
O PS diz que se trata de informação que o Governo tem de fornecer por obrigação legal, e que não está a ser cumprida.
A isto, o atual primeiro-ministro responde que tem havido “negociação secreta” com o PS, com vista à aprovação do OGE 2025. O namoro escondido já provocou reações de despeito e ciúme, nomeadamente de André Ventura que, qual marido enganado, já prometeu vingança. Esperemos que não lhe dê para a violência doméstica.
A isto, Montenegro dirá que cada qual escolhe com quem se deitar.
Os dois condenados são ex-editores do jornal Stand News. Esta sentença estabelece um “precedente perigoso” para a liberdade de imprensa em Hong Kong, território governado pela China. O jornal Stand News já não existe. O Governo de Hong Kong decretou o seu encerramento compulsivo em 2021.
O tribunal acusou o ex-editor-chefe Chung Pui-kuen e o antigo editor-chefe interino Patrick Lam de aprovarem a publicação de 11 artigos “sediciosos” que “pretendiam levar ao ódio” contra as autoridades centrais chinesas e o Governo de Hong Kong. O termo sedição significa “revolta” ou “motim”, “sublevação”, ideias desalinhadas com a ordem pública que a ditadura chinesa não admite.
Chung e Lam estão em liberdade sob fiança, não se podem ausentar de Hong Kong, irão escutar a sentença no próximo dia 26 deste mês. O que os espera são dois anos de prisão, segundo diz a organização Hong Kong Free Press.
Num depoimento escrito, lido em tribunal, Lam escreveu que a sua equipa de jornalistas do Stand News apenas fez jornalismo independente de interesses políticos e comerciais. Na carta diz que assumiram o compromisso de “falar pelos impotentes, marginalizados e minorias”, mesmo diante de “condenações e ataques”.
“Isto porque acreditamos na liberdade de imprensa e na liberdade de expressão, e só a liberdade de divulgar ideias pode proteger a liberdade de todos.”
Entre os 11 artigos publicados pelo jornal que serviram para condenar os jornalistas, estão denúncias de casos de corrupção que indiciam alguns membros do Governo de Hong Kong.
A organização Repórteres Sem Fronteiras diz que este caso é “terrível” porque “estabelece um precedente muito perigoso para os jornalistas”.
“A partir de agora, qualquer pessoa que reporte fatos que não estejam de acordo com a narrativa oficial das autoridades pode ser condenada por sedição”, escreveu Cédric Alviani, diretor do escritório Ásia-Pacífico da organização, em um comunicado.
A Amnistia Internacional diz que a condenação dos jornalistas é “mais um prego no caixão para a liberdade de imprensa em Hong Kong”.
A marca alemã é uma das vítimas da política de sanções ocidentais contra a Rússia e a China, mas é apenas um exemplo do que se passa hoje com as empresas que durante décadas investiram na Rússia e na China e, agora, estão a ser obrigadas a se reestruturarem face às novas circunstâncias.
A Volkswagen iniciou a sua atividade em 1937 e foi um dos pilares industriais da Alemanha nazi. Gabava-se de nunca ter despedido um funcionário alemão, mas está a fazer contas à vida e, sobre os operários, paira agora a ameaça do encerramentos de fábricas inteiras.
Não é apenas o “assalto” das marcas de carros chineses ao mercado europeu, mas é principalmente o aumento dos fatores de produção, desde que rebentaram com o gasoduto Nord Stream que levava gás da Rússia para a Alemanha. Era energia barata para toda a indústria alemã, mas acabou.
As sanções contra a Rússia obrigaram a Volkswagen a abandonar o mercado russo que em 2022 era o principal consumidor de veículos alemães na Europa. Ao mesmo tempo, a empresa abandonou também a fábrica que tinha em Kaluga, na Rússia.
Quando a Volkswagen foi forçada a sair do mercado russo, não perdeu apenas uma fábrica, perdeu 3 mil operários e uma rede de outras empresas criadas a partir da empresa mãe e respetivos circuitos comerciais: Audi Russia, Škoda Group Russia, Scania Russia e Volkswagen Commercial Vehicles Russia.
A verdade é que, hoje, este complexo industrial automóvel está a trabalhar, sob gestão de empresários russos, e a produção já igualou os níveis pré-guerra de 2022.
A isto acresce o cenário chinês. A China era o maior mercado de veículos Volkswagen, já deixou de ser. Em 2021, a empresa alemã vendeu cerca de 2 milhões de automóveis na China. Em 2023, verificou que tinha perdido 25% desse mercado, tendo sido ultrapassada pela BYD, um fabricante de EV. A imposição de elevadas barreiras alfandegárias à importação de EV chineses também não ajuda a melhorar a situação das empresas que deslocalizaram unidades de produção e investiram na China. A retaliação chinesa será dolorosa.
O tempo passa e o desastre agrava-se. Já este ano, no primeiro semestre, a quota de vendas de automóveis de construtores estrangeiros na China desceu para 33%, segundo dados da Associação de Automóveis de Passageiros da China (CPCA). E ao mesmo tempo que as marcas chinesas conseguem manter preços baixos de venda ao público, as marcas estrangeiras (principalmente europeias) têm tido agravamento dos custos de produção e a consequente diminuição dos lucros, com alguns dos fabricantes a registar prejuízos, como é o caso dos japoneses da Toyota ou da Mitsubishi e dos norte-americanos da General Motors.
E pensar que tudo começou devagarinho em 2014 quando na Ucrânia começaram a bombardear as regiões separatistas do Donbass.
As sanções americanas são dirigidas a 10 personalidades e duas empresas russas devido a “interferência hostil em eleições presidenciais”. Neste momento, corre a campanha eleitoral para as próximas eleições presidenciais nos EUA.
Entre as 10 pessoas que ficam, agora, sujeitas a detenção, julgamento e prisão nos EUA, se forem apanhadas em algum país que siga a fatwa americana, está a jornalista Margarita Simonyan (foto acima), apelidada de “propagandista” pelo Governo da Ucrânia.
Já em 2022 e 2023, Margarita tinha sido alvo de outras demandas sancionatórias por “promover desinformação”.
Esta jornalista tornou-se conhecida quando no ano 2000 foi enviada para reportagens sobre a guerra na Chechénia. Na altura, a Rússia combatia movimentos terroristas chechenos e o ocidente, principalmente depois do massacre de Beslan, com centenas de vítimas numa escola, não encontrou razões para grandes críticas sobre o modo de fazer a guerra ou sobre o trabalho dos jornalistas na Chechénia.
Mais tarde, Margarita trabalhou na Krasnodar TV (televisão local), no canal de notícias Russia 24, até ser contratada para editora-chefe do canal RT, com apenas 25 anos de idade.
Se a considerarmos “propagandista”, temos de dizer que perseguir Margarita Simonyan é como perseguir Nuno Rogeiro ou José Milhazes, entre tantos outros propagandistas pro-NATO e pro-Ucrânia espalhados pelo mundo.
A propósito da necessidade do Benfica encontrar um treinador, depois de ter despedido o que lá estava, Tadeia escreve que há uns “relações-públicas” que vão a jogo, sempre que é preciso. Não são funcionários do clube, mas talvez ganhem algum a título de prestação de serviços, admitimos nós.
Depois de explicar as dificuldades em encontrar, nesta altura, um treinador de topo disponível, Tadeia faz notar que “ontem, três ex-jogadores do Benfica que não me recordo de terem dado entrevistas nos últimos tempos, apareceram nos três jornais desportivos a prestar declarações “exclusivas”, não acerca das suas carreiras, mas do quão excelente é Bruno Lage”.
Ou seja, os três jornais desportivos tiveram a mesma ideia em simultâneo, plim! Um falou com Rafa (que está jogar na Turquia), outro foi falar com Grimaldo (que está na Alemanha) e outro escutou João Félix, acabado de retornar ao clube onde foi lançado para a ribalta por Bruno Lage, precisamente. Os três entrevistados recomendaram a contratação de Bruno Lage. Tudo isto é muito interessante.
Isto pode indiciar que há uma campanha para dar brilho à contratação deste treinador e que jornais se prestam à função. Poderão até ter “combinado jogo” e escolhido quem ia entrevistar quem. Ou receberam essa papinha já feita, não sabemos. Mas, neste cenário, tudo é possível.
Independentemente do valor profissional de Bruno Lage, que não discutimos, importa realçar o que parece ser o “papel de embrulho” do jornalismo nisto tudo. É isso que estamos a lamentar.
Está prestes a encerrar-se, em Viseu, a celebrada Feira de S. Mateus que em Viseu nasceu há mais de 600 anos, criada por Carta de D. João I em sua visita à cidade onde lhe estabelece lugar dentro da misteriosa Cava de Viriato de onde transitará, no reinado de D. Manuel I, para o Campo da Ribeira onde ainda se mantém, ora com a duração de um mês, como as primeiras. Feira Franca, chamada ainda pelo povo, que agora franca já não é, e ali vinha o povo, como vem ainda, por alongados caminhos para comprar e vender. E ali de tudo se achava, de quanto havia debaixo da “rosa do Sol”. De quase tudo.
Que, uma apreciada guloseima, as ditas “farturas à moda de Lisboa”, hoje ainda apetecidas por sôfrega multidão que enfileira frente ao gigantismo das tendas que as fabricam, essas ali se provaram, pela primeira vez, no ano de 1913 quando um empresário local de seu nome Luciano Dias de Sousa, um “homem das Arábias” como eu lhe chamei, pela primeira vez as serviu com a designação de “doce da moda” num esquisito Salão decorado ao jeito árabe junto ao Pavilhão de Cinema onde os feirantes riam a bandeiras despregadas com as fitas, como se contava. “Farturas à moda de Lisboa”, de onde a moda trouxera, que em Lisboa tiveram berço, “farturas de Lisboa”, reinvenção curiosa a partir dos “churros” espanhóis que os galegos fritavam nas feiras com receita não revelada a quem a requeria. Até que um dia um tal Manuel Jorge, natural de Candosa, Tábua, migrante em Lisboa, intenta negócio semelhante mas da receita ninguém lhe revela o segredo.
Mas teimando em seu intuito, experienciando, com sua mulher, veio à posse do segredo que os galegos guardavam e ao ver a massa solta e dourada na sertã, terá gritado, ao jeito de Arquimedes: – Eureka!… Eureka!… Era em Lisboa no ano de 1894.
Em breve nas feiras de Alcântara, de Belém, de Santos e nas feiras das terras saloias se vendia a guloseima encantada cheirando a açúcar e canela. Que sem nome ainda se vendia.
Até que um dia um divertido forasteiro se aproxima da tendinha, pede um desses talhes da massa que se apresenta, dourada, no balcão e com ela já na mão quer saber do preço.
– Dez réis, requer o vendedor!…
Mas não acha graça o comprador olhando, com desdém, o pouco franco talhe do bocado.
Deu-se conta o vendedor que ripostou: – Por dez réis é uma fartura!…
Verdade ou lenda, não sei. Mas achou graça o Zé Povinho que esperava, em fila, a sua vez. E assim se achou nome para a guloseima popular!…