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Covid-19: novos máximos, escolas fechadas

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Hoje, novo máximo de mortes diárias: 221. Hoje, também, 13.544 casos de infeção.

O boletim epidemiológico revela também que estão internadas 5.630 pessoas, mais 137 do que na quarta-feira, das quais 702 em unidades de cuidados intensivos, ou seja, mais 21, dois valores que também representam novos máximos da fase pandémica.

A nova estirpe deste coronavírus é apontada como sendo responsável pela aceleração de contágios e consequente aumento do número de mortes. É esse o argumento agora utilizado pelo Governo para mandar fechar todas as escolas em todos os níveis de ensino nos próximos 15 dias. Esta medida entra em vigor sexta-feira, 22 de janeiro.

No entanto, as escolas terão de continuar a receber alunos com idade inferior a 12 anos cujos pais trabalhem em funções essenciais e não possam ser dispensados para ficar em casa a tomar conta das crianças.

Para além da maior capacidade de contágio da nova estirpe, o comportamento das pessoas também tem contribuído para a propagação da pandemia. Alguns não têm como evitar enfrentar riscos de contágio, como é o caso daqueles que andam diariamente de transportes públicos sobrelotados. Outros, no entanto, continuam a insistir em convívios numerosos, na rua ou em espaços fechados, e sem utilização do mínimo indispensável que é o uso da máscara.

Linha de Sintra, comboios a abarrotar

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Linha de Sintra, manhã de 20 de janeiro de 2021. Continuam a dizer que viajar nestas condições não é meio caminho andado para se ficar contagiado com covid-19. As autoridades sanitárias insistem que o problema são os restaurantes, cabeleireiros e demais lojas comerciais…

Covid-19: os números horríveis

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A situação piora a cada minuto que passa. Hoje há registo de 219 mortes relacionadas com a covid-19, um novo máximo. Significa isto que morrem nove pessoas por hora, em Portugal, com o covid-19. Há ainda 14.647 casos de infeção com o novo coronavirus, igualmente um novo máximo.

A região de Lisboa e Vale do Tejo, com 5.593 novos infetados, é a área do país com mais novas notificações, com 38,2% do total de diagnósticos nas últimas 24 horas.

Em todo o território nacional, há 5.493 doentes internados – um novo recorde de casos -, mais 202 que ontem, e 681 em unidades de cuidados intensivos (UCI), mais 11 do que na terça-feira, um novo máximo.

Governo ainda espera para decidir sobre escolas

Com a pressão a aumentar sobre o Governo para que mande fechar as escolas, a secretária de Estado da Educação assegurou que o Governo avaliará a cada momento a evolução da situação epidemiológica no país e tomará as “medidas necessárias”, compreendendo o “medo frente aos números” de casos covid-19.

Inês Ramires esteve hoje o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, na escola secundária Santa Maria do Olival, em Tomar (distrito de Santarém), no início da testagem ao novo coronavírus a alunos, professores e funcionários do ensino secundário e que irá decorrer de “forma continuada e constante” em todo o país, a começar pelos concelhos de maior risco.

Lisboa, Mafra e Viseu querem fechar escolas

No concelho de Mafra, os vários agrupamentos escolares têm, neste momento, 75 turmas em confinamento e mais 5 em avaliação, devido à multiplicação de casos de covid-19 em alunos, professores e pessoal não docente.

Neste contexto, a Comissão Municipal de Proteção Civil decidiu solicitar às autoridadesd escolares e sanitárias competentes, autorização para o encerramento de todas as escolas do concelho, passando o ensino a processar-se online.

A ideia agrada à maioria dos munícipes, pelas reações que se constatam nas redes sociais, agradará menos às famílias mais carenciadas quer não têm computador nem internet instalada na habitação. Constrangimentos que já ocorreram no primeiro confinamento geral no ano passado e que se repetem, agora.

Na opinião expressa na deliberação da Comissão Municipal de Proteção Civil de Mafra, o encerramento das escolas irá permitir aliviar a pressão sobre os hospitais que servem a região, o Hospital Beatriz Ângelo e o Hospital de Torres Vedras.

Na sequência desta atitude, a Comissão Distrital de Proteção Civil de Lisboa decidiu também  pedir ao Governo o encerramento imediato das escolas e um alargamento das restrições para forçar a população ao confinamento, face à evolução da pandemia de covid-19.

Decisão semelhante teve a Comissão Municipal de Proteção Civil de Viseu, exigindo ao Governo que mande suspender as atividades letivas em regime presencial do 3.º ciclo e ensino secundário no concelho.

Uma decisão unânime da Comissão Municipal de Proteção Civil de Viseu, que reuniu na terça-feira para avaliar a propagação da pandemia e, em particular, o impacto da situação nos estabelecimentos escolares.

“É fundamental minimizar a transmissão comunitária ativa e aliviar a pressão existente nos serviços de saúde”, diz o comunicado divulgado deste organismo da Proteção Civil de Viseu que lembra “a situação de rutura vivida no Centro Hospitalar Tondela-Viseu”, razão para a suspensão da atividade escolar na opinião destes responsáveis municipais.

O cerco…

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2020 começa a falar-nos de um vírus, um morcego e uma China longínqua… Num instante tínhamos um mundo infetado, um mundo a morrer, sem se ter tempo nem de pensar sobre o assunto. Feche-se tudo, fique-se em casa, isolemo-nos. Lavemos as mãos.

Assim fizemos, uns melhor outros pior, mas fizemos. Enquanto isso, uns já tinham sido contaminados outros não e outros -pelo discurso- gostariam de ser e mostrar o seu resultado positivo, como se de um exame de escola se tratasse.

Numa primeira fase, os céus sossegaram por algum tempo, ainda assim era livre o “cá e lá”… a febre, o termómetro apontado à testa era o ponteiro que ditava se ias ou ficavas. Quem, como eu, vivia num outro país, o emigrante, era o grande responsável pelo cá e lá, por levar o “bicho” a passear sem chip ou trela num avião. Os culpados. A culpa, essa puta que serve para outros sacudirem a água dos capotes.

As vozes que se ouviam de quem, sossegado em casa, via a banda passar, era para fecharem fronteiras, numa primeira, numa segunda e numa terceira fase. Não era dar soluções viáveis e práticas para quem usasse o avião como meio de transporte, para quem como nós, pudéssemos ir a casa de uma forma segura e economicamente aceitável. E no último dia de 2020, com as 12 badaladas do Big Ben, desta vez quase mudas, entrámos numa nova era, o pós-Brexit.

Janeiro de 2021. Os números começam novamente a subir, os hospitais a rebentar, a vacinação em massa, uns morrem outros sobrevivem, mas dizem que é a lei da vida … dizem. Os passaportes vão agora ser exigidos para entrar na ilha se não tiveres cá residência. A vacina vai ser exigida para viajar. Vistos serão precisos para cá permanecer. Os preços vão subindo 5p, 10p, 15p, por item… só se percebe no final que a conta encareceu no total mais 1£, 2£, 5£ … 15% foi quanto já notei em alguns dos produtos importados. A falta de trabalho, a exigência cada vez maior para conseguires um trabalho, tudo “on-line”, tantas pessoas a desistirem, uns por falta de meios outros por falta de humanidade.

Estou há 1 ano sem viajar, eu assídua das viagens, da visita aos meus, não vou, não arrisco a vida dos outros para meu conforto ou conforto dos que ainda vão notando a ausência dos que como eu, estão fora de “casa” … não confio no teste de 72h antes da viagem, dá mais que tempo para apanhar o vírus e o levares na “bagagem de cabine”. Fecharam o país onde escolhi viver ao país que me viu nascer. Fecharam a ilha. Dizem que a nova estirpe é inglesa … será!? O mundo está a fechar-se. As fronteiras estão a ficar cada vez mais visíveis. O mundo está aos retalhos, a Humanidade retalhada. E eu, como muitos, continuamos à espera, a sobreviver, com falta de vitamina D, a tão importante vitamina D, que quem a tem como privilégio, nem por ela dá.

Isto para vos dizer que se eu sobrevivi a 7 anos sem quase sol, cercada de água, vocês que o têm quase todos os dias e estão nas vossas casas, também podem sobreviver mesmo sem sair dela. Usem as janelas, olhem o horizonte e pensem que para lá dessa linha que veem há quem como eu queira ver o mesmo horizonte que vocês. Vou esperar o mundo abrir. Um dia destes vou a casa.

(Dedicado aos meus pais que não vejo há 1 ano)

Enquanto os “sonhadores” morrem…

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Diz o nosso povo que, uma vez médico, se é médico para sempre. Ainda o covid-19 mal se aventurava por “mares nunca dantes navegados” e já eu, médico que “arrumara a bata” um ano antes, avolumava preocupações clínicas. E, vítima de uma quase obsessão, em breve me embrenhava pela parca informação disponível e procurava trocar ideias com colegas.

Foi assim que, muito cedo, pude traçar uma vasta “história clínica da pandemia” de que não retiro uma vírgula: certeiro no diagnóstico, nas estratégias de prevenção e tratamento e até nos prognósticos, cedo ditei que desta vez é mesmo a sério e que o SNS se deve preparar para a maior batalha das nossas vidas. 

Para depois, perante a multiplicação de graves erros, desvios e omissões que observava em todo o mundo, e a todos os níveis, não hesitar em subscrever variadíssimos recados e denúncias, profusamente publicados.    

Tendo “decretado” o uso obrigatório de máscara, uma munição que, na altura, só se encontrava fora do mercado, por essas e outras “barbaridades” me “estendi” perante entidades mudas, uma Ordem dos Médicos que respondia com agradecimentos protocolares e um Sindicato Independente que me ignorava.

Assim passei semanas, até de 19 de março, quando a OM entendeu convocar um conselho técnico pluridisciplinar que arrasou os responsáveis nacionais e a comunicação social respondeu com o silenciar das vozes lúcidas e deu posse oficial a meninos reguilas, que fazem precisamente o contrário do que os pais recomendam.

Nos dias seguintes, com o Presidente da República a regressar a Belém, ainda o Primeiro-Ministro, sem planos de contingência desenhados, aparecia na TV em visita a uma “Unidade Covid”, sem quaisquer precauções e rodeado de dezenas de emplastros. Contra o coronavírus marchar, até a Assembleia da República reiterava tão “belos exemplos” ao comemorar o 25 de Abril.

Cansado de pregar no deserto, foi então que desisti de “produzir ciência” e, percebendo que estava a insistir no pior dos erros, que é ter razão antes do tempo, optei pelo sarcasmo e pela ironia.  

O tempo passou e só quem anda mesmo a dormir – ou for insensível – não entende uma evidência que até fura os olhos: com 3 mil novos casos diários de covid, o nosso SNS entra no “amarelo”, deixando de corresponder a várias patologias; aos 5 mil, é óbvio que dispara o “laranja”, o que ainda obriga a maiores restrições. E foi já perante este cenário que, pelo Natal, se apagaram os semáforos para se cair no “vermelho”. E assim, irresponsavelmente, Portugal saltou do meio da tabela e hoje é o país mais atingido em todo o mundo. Uma realidade que só foi possível porque, preterida a ciência, e com eleições à porta, venceu o “superior interesse” de uma classe política tão arrogante como oportunista e ignorante.

Perante este drama, e tal como os demais portugueses, também eu fiquei limitado a lutos diferentes dos habituais, impedido de prestar a derradeira homenagem a alguns “sonhadores” que marcaram a minha vida e que, entretanto, faleceram. Tendo crescido em Coimbra, irei hoje evocar três grandes nomes da cultura portuguesa, com quem aí privei: 

– O lisboeta Artur Portela Filho que, ameaçado na capital e em outras cidades, aqui encontrou asilo para o seu jornal durante o “Verão Quente” e participou num colóquio organizado pelo PS, no Inatel, com Carlos Candal e Paulo Quintela. Num estreitar de relações pessoais, foi uma honra ter sido convidado como o mais jovem colaborador da revista “Opção”, que ele então congeminava. .

– Eduardo Lourenço, um “coimbrão” a quem nunca a cidade de Vence convenceu, e que também aqui buscou agasalho moral e intelectual, marcado pela presença assídua, com a família, na sede do “nosso” PS.

– E, finalmente, Telo de Morais, médico e filantropo falecido há dias, que embora menos conhecido é também merecedor de profundo reconhecimento. Homem de rara cultura e sensibilidade artística, e tendo doado à cidade de Coimbra um vasto espólio, hoje exposto no Museu Chiado, que emoções me proporcionou o seu saudoso sorriso quando, este verão, o visitei em sua casa? Com que prazer o ouvi então puxar de recentes poemas da sua autoria, área em que se revelou brilhante? E como ainda recordo a mágoa que li na sua face já muito gasta, quando aludiu a uma coleção de duzentos e sessenta quadros de pintores modernistas portugueses, que a preço simbólico havia destinado à Câmara de Coimbra e se encontram sabe-se lá como? Uma coleção tão única, quanto honesta…  

À minha frente, e esta é mesmo a triste realidade que a minha vista alcança, espalham-se os quarenta quilómetros de desolação a que hoje está reduzido o Pinhal de Dom Dinis. Dinheiro não falta, ao que apregoam, mas até a pequena pérola que é a mata de São Pedro, e que foi resgatada com heroísmo, continua à mercê de inconscientes.  

Não é fácil sonhar, neste dia em que Portugal bate recordes mundiais de incompetência e as atenções se dispersam por candidaturas presidenciais que, hábeis em papaguear “opiniães” sobre qualquer matéria, não apresentam um único projeto consequente para mudar o nosso país. Não é fácil no dia em que um prestigiado cientista vem declarar que os anticorpos contra os primitivos coronavírus não atuam em novas variantes que, entretanto, se espalham… 

No entanto, a vida tem mesmo de ser tocada para a frente e, cumprido este “dia de luto”, há que acreditar no futuro. 

Um futuro muito difícil sem que, antes, se encontre a fórmula que permita replantar o Pinhal de Leiria.

Covid-19: 218 mortes, escolas poderão fechar também

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A contagem de hoje dá 218 mortes e 10.455 novas infeções, nas últimas 24 horas. Depois dos números de ontem, hoje temos novo máximo de mortes diárias.

Quanto aos internamentos hospitalares, o boletim epidemiológico da DGS revela que estão internados 5.291 doentes, mais 126 em relação a segunda-feira, das quais 670 em cuidados intensivos, mais 6. E continuamos a bater recordes…

Desde o início da pandemia, Portugal já registou 9.246 mortes.

Escolas poderão fechar

As novas medidas mais restritivas para se tentar diminuir o contágio do novo coronavírus entre a população entram em vigor já amanhã, 4ªfeira. Mas, entre essas medidas, não está o encerramento das escolas, opção que está a colher muitas críticas, nomeadamente dos sindicatos de trabalhadores do Ensino, mas também de médicos e especialistas em infeciologia.

A opção do Governo por manter as escolas a funcionar é para evitar a paralisia absoluta da economia. Com os filhos em casa, muitos pais terão de ficar em casa também.

Esta questão vai ser reapreciada na próxima semana, avisou já o Presidente da República. Numa nota divulgada no site da Presidência, pode-se ler que “haverá nova reflexão com os especialistas acerca de outras temáticas, como as respeitantes ao ano letivo em curso, e beneficiando já de mais dados sanitários”.

Campanha eleitoral, crónica satírica

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Faltava “baptizar” Marcelo Rebelo de Sousa, mas não perdeu pela demora. Depois de ter comparado a candidata Marisa Matias a uma boneca insuflável, depois de ter apelidado a candidata Ana Gomes de  “cigana” e “contrabandista”, depois de ter chamado a Jerónimo de Sousa “avô bêbado” e ao candidato João Ferreira “comunista beto”, Marcelo ficou hoje a saber que o epiteto “cobarde” lhe foi colocado por André Ventura, “o fascista”. Porquê “cobarde”? Isso não interessa nada.

Os candidatos Vitorino Silva e Tiago Mayan já reclamaram pela discriminação a que foram sujeitos (não têm nenhuma alcunha insultuosa por parte de Ventura) e espera-se a todo o momento uma reação da Comissão Nacional de Eleições que deverá apreciar com urgência a queixa que, por certo, foi apresentada pelos dois preteridos.

A azáfama nas diferentes campanhas é imensa. Enquanto a maioria dos candidatos tenta chegar ao eleitorado pela internet, em conferências online, em vídeos difundidos pelas redes sociais, para evitar aglomerações desaconselhadas em tempos de pandemia, o candidato Ventura desdobra-se em almoços e jantaradas não autorizados, em pequenas salas cheias de apoiantes que, em manada, aplaudem tudo e mais um par de botas que saia das goelas do candidato. Depois de ter inventado um casal de ciganos apoiantes da sua candidatura, que mais irá Ventura tentar para enganar a malta?

Covid-19: quase 10 mil mortes, pior que na guerra colonial

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Nas últimas 24 horas registaram-se mais 167 mortes relacionadas com a pandemia covid-19. Nunca antes houve tantas mortes num só dia provocadas pela covid-19. Portugal aproxima-se a passos largos das 10 mil mortes, o número estimado de soldados portugueses que morreram em 11 anos de guerra colonial em três frentes simultâneas. Os que protestam contra o confinamento, pensem nisso.

Quanto aos internamentos hospitalares, o boletim epidemiológico revela que estão internados 5.165 doentes, mais 276 em relação a domingo, das quais 664 em cuidados intensivos, mais 17. O boletim regista, ainda, mais 6.702 pessoas infetadas pelo novo coronavírus.

Afinal, é bom viver numa ilha isolada

O número de concelhos em risco extremo devido ao número de casos de covid-19 quase triplicou nos primeiros 12 dias de janeiro, passando de 57 para 155.

O boletim da Direção Geral de saúde explica que 155 concelhos registaram uma taxa de incidência de casos acumulados de infeção pelo novo coronavírus superior a 960 por 100 mil habitantes, entre 30 de dezembro de 2020 e 12 de janeiro.

No último relatório com dados relativos ao período entre 23 de dezembro e 05 de janeiro, havia 57 concelhos com incidência de casos acumulados de infeção pelo novo coronavírus superior a 960 por 100 mil habitantes.

Com zero casos de infeção estão quatro concelhos, menos três em relação aos dados anteriores: Corvo, Lajes das Flores, Lajes do Pico e São Roque do Pico, nos Açores. Não será por acaso: as ilhas do Pico, Flores e Corvo são as mais isoladas de todo o arquipélago açoreano.

A PSP e a Democracia

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Pintar os lábios de vermelho é a expressão de repúdio perante a política rasca e brejeira de um político da extrema-direita, mas é fácil. Nestes dias de brasa, em que vemos os ovos da cobra começar a eclodir, lembramo-nos de gente que teve outro tipo de atitude e que enfrentou a besta de forma corajosa.

Quando a extrema-direita controlou e manipulou uma manifestação de polícias em frente à Assembleia da República, um dos agentes que lá estavam a garantir a inviolabilidade da casa da Democracia disse: “Senti nojo. Houve um assalto de Ventura à manifestação, o que não é admiração para ninguém atento”. Quem falou assim foi Manuel Morais, agente da PSP há 30 anos, que trabalha no Corpo de Intervenção e foi vice-presidente da Direção Nacional da ASPP, o mais antigo sindicato de polícias em Portugal. As declarações que acabámos de citar valeram-lhe um processo disciplinar movido pela direção nacional da PSP. 

fotografia do Facebook de Manuel Morais

Em 2019, foi afastado das funções sindicais por pressão de polícias racistas quando decidiu denunciar a situação de segregação e abuso de violência que grassa na corporação. No sindicato ninguém teve peito para o defender. É plausível que a mesma pressão que levou Morais a sair da ASPP se faça sentir nas “casernas” da polícia, de modo igual.

Mas Manuel Morais resiste e, como sabemos, resistir é vencer. Quando foi corrido da associação sindical, Morais disse: “Sou demitido porque penso, porque sou um cidadão livre”, mas acrescentou que não seria assim que o vergavam. “Não recuo um milímetro. Vou continuar a minha luta fora da ASPP. Nunca irei desistir daqueles que são as grandes linhas da minha vida: uma sociedade e uma polícia melhor! Serão os meus objetivos até ao último dia da minha vida”.

Não se pense que a denúncia que abalou a corporação foi fruto de um ímpeto. Não tinha sido a primeira vez que este homem da polícia denunciava o racismo. Já o tinha feito antes em entrevistas ao Diário de Notícias e à TSF e, por escrito, numa tese de mestrado em Antropologia, a área dos seus estudos académicos.

fotografia no Facebook de Manuel Morais

Em junho de 2019, num discurso perante a Comissão de Assuntos Constitucionais, Manuel Morais reafirmou tudo o que já tinha dito antes sobre racismo no seio da polícia e apresentou aquilo que poderia ser a solução para travar o avanço da extrema-direita na PSP e noutras forças de segurança e Defesa Nacional.

“É urgente remodelar os programas das escolas de Policia, escola de formação de agentes e Escola superior de Policia, enriquecendo-os com uma componente de formação em humanismo, elaborada, fora da policia, por especialistas qualificados com objetivos bem determinados. É necessário detetar através dos psicotécnicos, gente que não preenche os requisitos mínimos em termos de respeito pelo próximo e não permitir a entrada neste tipo de organizações e por ultimo monitorizar os elementos que nas suas “paginas”, nas suas atuações, demonstrem claramente sentimentos de ódio e desprezo por outros seres humanos. Não merecem a confiança do povo, do governo, e não devem exercer este tipo de profissões.”

Foi há quase dois anos. Não sabemos se alguma coisa mudou, desde então, mas a perceção é que está tudo na mesma. O que é estranho, porque uma Democracia não é compatível com corporações de defesa e segurança infiltradas por elementos fascistas.

Já chega de Chega (3)

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A culpa do vírus e dos males que afligem a sociedade, meu caro André Ventura, não é dos ciganos, nem dos angolanos, nem dos brasileiros, nem sequer dos ucranianos, dos russos, ou dos chineses. A culpa do vírus, e de tudo o resto que anda mal no Reino da Dinamarca, é de todos nós, que andamos a brincar com esta m#rda, como se a natureza fosse um saco de pancada que tem de aguentar os caprichos de uma espécie que decidiu tirar mais do que deve de um planeta minúsculo, que já se percorre de um lado ao outro em menos de um dia. A culpa do vírus é dos engravatados em quem votamos – incluindo o meu caro – que se têm preocupado mais com reeleições – e encher os bolsos – do que em resolver problemas efectivos.

Deixemos de apontar o dedo a quem não tem culpa e a assumir que todos contribuímos para isto. Deixemos de dar ouvidos a quem se tenta aproveitar da situação para ganhar palco. Já chega de Chega.

6 de janeiro de 2021

Este artigo terminaria na linha anterior, se não fossem os acontecimentos que ocorreram no Capitólio da capital norte-americana no dia 6, durante o qual uma multidão – incitada por um dos muitos Andrés Venturas ululantes que pululam por esse mundo – invadiu um espaço, considerado inexpugnável, pela força das armas, gritos, murros e pontapés, vandalizando depois esse mesmo espaço, em nome duma eleição fraudulenta que só ocorreu nas suas mentes. Pelo caminho deixaram cinco mortos, dezenas de feridos (a maioria dos quais agentes da lei) e meia-dúzia de detenções, num contraste grotesco com os protestos Black Lives Matter, no mesmo local, uns meses antes.

Seguiram-se os intermináveis comentários nos media e redes sociais (incluindo este que lêem agora), mas há um tipo de comentário que me merece particular atenção, para não dizer “vómito”, que é a frase “Em Democracia, todos têm direito à sua opinião, incluindo o André Ventura.” Pois bem, esse raciocínio está errado, pelo facto de ignorar a carga de ódio e violência que o discurso de André Ventura – e similares – encerra.

Diz-se que “a liberdade de um acaba onde a de outro começa” e esse princípio é violado vezes sem conta quando um palerma se empoleira numa caixa de sabão e apregoa que um segmento da população devia ser mandado para casa e é culpado de todos os males do mundo, incitando os seus seguidores acéfalos a mandarem essas minorias de volta para a sua terra. Este discurso não pode ser admitido como “igual aos outros” e, portanto, beneficiando do direito de antena que os outros merecem. Este discurso merece prisão, não merece tolerância, porque viola os mais básicos direitos da Humanidade, e é isso que os defensores da “democracia” não entendem.

Liberdade de expressão, sim; desde que essa não incite à violência (física, psicológica, financeira, ou de qualquer outro género), como até um bonobo com Alzheimer entende…

Conta-se que, se colocarmos uma rã numa panela de água a ferver, ela salta para fora. Mas, se a colocarmos numa panela de água fria e ligarmos o lume, ela ficará lá dentro até morrer, porque se foi habituando lentamente ao aumento da temperatura. Não faço ideia se este cenário trágico é real e não tenciono ensaiá-lo. Mas o que os acontecimentos no Capitólio nos mostraram é que estamos todos dentro de uma grande panela e a pele de alguns já se começa a descolar dos ossos, tal é a temperatura a que o caldo já chegou em algumas partes do mundo, nomeadamente do outro lado do Atlântico. Vimos isso em Washington no dia 6, mas também vemos isso diariamente nos debates presidenciais televisivos, durante os quais o Ventura se esforça por angariar votos apelando ao pior que há nos seres humanos, dando lume a sentimentos que enviaram, por exemplo, milhões de judeus para salas de gás há quase um século. Mas o pior de tudo é a inacreditável desculpabilização desse discurso em nome da “liberdade de expressão” e “democracia”. Não, não, não e mil vezes não.

Incitar a população a exercer violência contra grupos dessa mesma população não é “liberdade de expressão”, é crime.

Esse discurso não pode ser permitido e até o Mark Zuckerberg finalmente abriu a pestana e cortou o pio ao Donaldo até ao dia em que abandonar a Casa Branca. Permitir a perpetuação do ódio, em nome da “liberdade de expressão” é ser cúmplice das atrocidades que se cometeram na Alemanha nazi, na Arménia, no Sudão, no Ruanda, no Zimbabwe, na Coreia do Norte, e ficávamos aqui o resto do dia a elencar palcos de violência inenarrável, que começou sempre com discursos que tinham de ser ouvidos em nome da “liberdade de expressão”. Não, não, não e um milhão de vezes não.

Se não quisermos ver os venturitas a assaltarem São Bento com barretes de campinos na cabeça e as caras pintadas de verde e vermelho (e o nariz de amarelo), enquanto tiram selfies com os pés em cima da secretária do António Costa, quiçá de lábios bem encarnados, é melhor que comecemos a cortar o pio dos venturas desta vida.

Já chega de Chega.

Este artigo tem três partes: