2020 começa a falar-nos de um vírus, um morcego e uma China longínqua… Num instante tínhamos um mundo infetado, um mundo a morrer, sem se ter tempo nem de pensar sobre o assunto. Feche-se tudo, fique-se em casa, isolemo-nos. Lavemos as mãos.
Assim fizemos, uns melhor outros pior, mas fizemos. Enquanto isso, uns já tinham sido contaminados outros não e outros -pelo discurso- gostariam de ser e mostrar o seu resultado positivo, como se de um exame de escola se tratasse.
Numa primeira fase, os céus sossegaram por algum tempo, ainda assim era livre o “cá e lá”… a febre, o termómetro apontado à testa era o ponteiro que ditava se ias ou ficavas. Quem, como eu, vivia num outro país, o emigrante, era o grande responsável pelo cá e lá, por levar o “bicho” a passear sem chip ou trela num avião. Os culpados. A culpa, essa puta que serve para outros sacudirem a água dos capotes.
As vozes que se ouviam de quem, sossegado em casa, via a banda passar, era para fecharem fronteiras, numa primeira, numa segunda e numa terceira fase. Não era dar soluções viáveis e práticas para quem usasse o avião como meio de transporte, para quem como nós, pudéssemos ir a casa de uma forma segura e economicamente aceitável. E no último dia de 2020, com as 12 badaladas do Big Ben, desta vez quase mudas, entrámos numa nova era, o pós-Brexit.
Janeiro de 2021. Os números começam novamente a subir, os hospitais a rebentar, a vacinação em massa, uns morrem outros sobrevivem, mas dizem que é a lei da vida … dizem. Os passaportes vão agora ser exigidos para entrar na ilha se não tiveres cá residência. A vacina vai ser exigida para viajar. Vistos serão precisos para cá permanecer. Os preços vão subindo 5p, 10p, 15p, por item… só se percebe no final que a conta encareceu no total mais 1£, 2£, 5£ … 15% foi quanto já notei em alguns dos produtos importados. A falta de trabalho, a exigência cada vez maior para conseguires um trabalho, tudo “on-line”, tantas pessoas a desistirem, uns por falta de meios outros por falta de humanidade.
Estou há 1 ano sem viajar, eu assídua das viagens, da visita aos meus, não vou, não arrisco a vida dos outros para meu conforto ou conforto dos que ainda vão notando a ausência dos que como eu, estão fora de “casa” … não confio no teste de 72h antes da viagem, dá mais que tempo para apanhar o vírus e o levares na “bagagem de cabine”. Fecharam o país onde escolhi viver ao país que me viu nascer. Fecharam a ilha. Dizem que a nova estirpe é inglesa … será!? O mundo está a fechar-se. As fronteiras estão a ficar cada vez mais visíveis. O mundo está aos retalhos, a Humanidade retalhada. E eu, como muitos, continuamos à espera, a sobreviver, com falta de vitamina D, a tão importante vitamina D, que quem a tem como privilégio, nem por ela dá.
Isto para vos dizer que se eu sobrevivi a 7 anos sem quase sol, cercada de água, vocês que o têm quase todos os dias e estão nas vossas casas, também podem sobreviver mesmo sem sair dela. Usem as janelas, olhem o horizonte e pensem que para lá dessa linha que veem há quem como eu queira ver o mesmo horizonte que vocês. Vou esperar o mundo abrir. Um dia destes vou a casa.
(Dedicado aos meus pais que não vejo há 1 ano)
As tuas palavras fazem pensar e sentir aperto no peito. Não desististe, já passaste por muito, e este vírus não te vai deitar abaixo. Força amiga.
Todos aguardamos a tua vinda.
Beijo