Faz hoje 30 anos que Alcindo Monteiro foi brutalmente espancado até à morte por um grupo de neonazis no Bairro Alto, em Lisboa. A sua “culpa”? Não ser branco. Tinha 27 anos, era português de origem cabo-verdiana, e foi assassinado por racismo. Um crime cobarde e hediondo que expôs, com brutal nitidez, aquilo que muitos preferem ainda hoje negar: o racismo estrutural e violento que existe em Portugal.
Três décadas depois, o país que celebra o seu “dia nacional” é o mesmo que nunca pagou um cêntimo à família de Alcindo Monteiro. A pequena indemnização estipulada pelos tribunais nunca foi paga pelos agressores, e o Estado, na altura, não tinha nenhum mecanismo legal para compensar as vítimas de crimes de ódio. Como se a justiça se esgotasse na prisão dos culpados e não passasse pela reparação às vítimas.
Mas o que mais assusta hoje não é o passado, é o presente. Trinta anos depois, Portugal tem 60 deputados da extrema-direita no Parlamento, muitos deles alimentando discursos racistas, xenófobos e revisionistas, normalizando o ódio e distorcendo a história. Hoje, nas cerimónias oficiais, gritaram insultos racistas e saudações fascistas. Não é uma coincidência, é um reflexo.
Portugal está a tornar-se um país perigosamente mal frequentado. Onde se bate continência ao colonialismo, se banaliza a violência policial contra negros e ciganos, se fala de “portugueses de verdade”, e se propõe rasgar a Constituição sob o disfarce de “ordem e segurança”.
Celebrar Portugal sem lembrar Alcindo Monteiro é escolher um esquecimento cúmplice. É um insulto à sua memória e à de todas as vítimas que continuam a cair num país que se recusa a ver o espelho que tem diante de si. Falamos, por exemplo, de Bruno Candé, de Miguel Cesteiro, Odair Moniz, entre outros.
Se queremos um país digno de celebração, precisamos de começar por reconhecer o que há de vergonhoso na nossa história e no nosso presente. E isso começa por dizer o nome de Alcindo Monteiro em voz alta. Hoje e sempre.