PORTAS GIRATÓRIAS

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O poder executivo capturado pelos donos do dinheiro. A democracia é um jogo viciado. São duas das principais preocupações que saltam depois de termos lido o notável artigo de Marta da Silva Gameiro.  

O dinheiro é investido na propaganda e a narrativa dominante é moldada de acordo com os interesses privados que investem nesse “jogo”, ao mesmo tempo que as vozes dissonantes têm dificuldade em ganhar espaço mediático.

O ciclo funciona mais ou menos assim:

  1. As corporações financiam políticos e influenciam governos.
  2. Governos aprovam políticas que favorecem essas corporações.
  3. Comunicação social e redes sociais (também controladas por grandes empresas) moldam a opinião pública para aceitar essas políticas.
  4. Quem questiona é marginalizado, censurado. Por vezes preso.

Estamos a falar da cultura do medo inculcada por essas narrativas de fim do mundo. As ameaças incontroláveis que nos vão matar, sejam elas vírus, alterações climáticas, guerras devastadoras, perigos que nos afetam a todos independentemente do local onde estivermos. Não conseguiremos fugir, se não aceitarmos as regras. É o que nos dizem.

O medo é uma ferramenta poderosa para obrigar à obediência. Se a ameaça parece iminente e grave, as pessoas tendem a confiar nos homens providenciais.

Com o covid-19, vimos que as pandemias acontecem, mas não do modo como nos impingiram.  O clima pode estar a mudar e as guerras existem, claro. Mas a forma como essas narrativas são construídas influencia muito a percepção pública, torcendo os factos ao sabor das conveniências de circunstância de políticos e de quem controla corporações financeiras. O raciocínio é simples, sigam o rasto do dinheiro: o combate às mudanças climáticas impulsiona investimentos em energias renováveis; pandemias fortalecem a indústria farmacêutica; guerras dão lucro aos fabricantes de armamento. Há sempre um negócio a ser feito.

Como vimos no caso do covid-19, uma população amedrontada aceita tudo. Confinamentos, máscaras, distanciamento social, inoculações de vacinas que não eram bem vacinas. Confiámos. Fomos controlados. Há quem diga que fomos manipulados.

A linha entre proteção e manipulação pode ser ténue. Todas as crises sempre foram usadas como justificativa para ampliar o controle estatal. E, nessas circunstâncias, podemos ser obrigados a pegar em armas, proibidos de ir onde queremos, de comer o que gostamos, de falar com amigos, deixamos de ser livres.

Quando organismos privados passam a intervir no controle da sociedade, surge o risco de que interesses corporativos se sobreponham ao bem público. Diferente dos governos, que pelo menos precisam prestar contas à população, empresas privadas operam com objetivos próprios, muitas vezes focados no lucro e no poder de influência.

As grandes empresas de tecnologia (Google, Meta, Microsoft) controlam enormes quantidades de dados pessoais e colaboram com governos em políticas de censura, moderação de conteúdo e rastreamento digital.

Durante a pandemia, vimos como as farmacêuticas multinacionais impuseram políticas globais e negociaram contratos sigilosos com governos.

Na área ambiental, fundos de investimento, como BlackRock, estão a comprar  imensas terras agrícolas em países como a Ucrânia, por exemplo, de modo a prepararem novos monopólios no comércio alimentar mundial.

Na defesa, empresas privadas de defesa e segurança já operam em zonas de conflito, assumem funções que antes eram exclusivas de Estados, além de fornecerem tecnologia de vigilância e inteligência artificial para um dos lados do conflito. Ou ambos os lados.

Já é difícil termos a certeza de quem controla o quê. O poder está a ser capturado pelas corporações financeiras. A transição é dissimulada, negociada em segredo, os povos nem se apercebem.

As pessoas acreditam que os governos têm obrigação de impor limites, mas os governantes são fáceis de comprar. Os governos podem ser capturados pelos próprios interesses que deveriam regular. A influência de grandes corporações sobre governantes ocorre de várias formas, sendo a mais evidente aquilo a que chamamos vulgarmente de “portas giratórias”. Altos funcionários dos governos frequentemente migram para cargos bem pagos em corporações privadas. O contrário também acontece. Os casos do género que se sucedem em Portugal são paradigmáticos.

Hoje, fica difícil termos a certeza de que não estamos a eleger tipos comprometidos com interesses conflituantes.

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