Na última semana foi notícia, um pouco por todo o lado, o famoso kit de emergência da União Europeia (UE) anunciado com grande cerimónia pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen. No documento “Estratégia para a Preparação da União” a UE recomenda que os cidadãos tenham kits de sobrevivência com os quais possam subsistir por um período mínimo de 72 horas em caso de guerra, pandemia, emergência climática ou ataque cibernético. Além de água potável e alimentos não perecíveis, como produtos enlatados ou desidratados, sugerem ainda a inclusão de baterias para manter os dispositivos móveis operacionais em caso de queda de energia e medicamentos, tanto para primeiros socorros quanto para tratamentos crónicos.
Também recentemente a França publicou um manual de sobrevivência no qual recomendava a inclusão de seis litros de água potável por pessoa, comida enlatada, ferramentas, cobertores térmicos e agasalhos. Em caso de possíveis cortes de energia, aconselhavam a ter lanternas com baterias sobressalentes, velas e isqueiros além de dinheiro em numerário.
A ânsia dos burocratas europeus pela guerra é conhecida, mas assistimos ao vivo a um novo escalar do que só posso apelidar de paranóia russofóbica.
Com a mesma preocupação e urgência com que em 2021 sugeria a necessidade de se “começar a pensar” em introduzir a vacinação obrigatória porque a variante Ómicron era “muito preocupante”, Von der Leyen agora quer uma Europa armada até 2030 porque os a invasão russa é uma possibilidade e até Mark Rutte, numa óbvia tentativa de conotar Putin a Hitler, realçou “Se alguém cometer um erro de cálculo, pensando que seria capaz de atacar a Polônia sem consequências ou atacar qualquer outro aliado, nossa Aliança responderá com força.”


Não estou aqui para filosofar sobre a legitimidade russa em invadir um Estado soberano face à violação dos Acordos de Minsk e à segregação dos ucranianos russófobos, ou, segundo a classificação do falecido director do Centro de Estudos da Paz Graham McQueen, o gatilho para a guerra da Ucrânia terá sido um “managed war trigged”, ou seja uma guerra provocada através do incitamento prévio, do adversário, de modo a este ser visto como o “mau da fita”.
Antes vou explanar o que Assange já afirmava em 2011 sobre os EUA e a guerra do Afeganistão: “O objectivo é ter uma guerra infinita, não uma guerra bem sucedida”.

MANTER ACESA A CHAMA DO MEDO
Só que o povo não gosta de guerras! E ante a impossibilidade de convencer o povo a combater em guerras de vizinhos temos de apelar a problemas suprahumanos ou à mitologia do medo russo imortalizada nos filmes do James Bond. Porque no final é mesmo disso que se trata: apelar ao medo do imaginário coletivo para justificar investir dinheiro em “guerras”, sejam elas militares, pandémicas ou ambientais. É preciso manter a chama acesa e dar títulos aos jornais. Se funcionou em 2020 é porque funciona sempre. A Escatologia (do grego antigo εσχατος, “último”, mais o sufixo -λόγια, “estudo”) é uma parte da teologia e filosofia que trata dos últimos eventos na história do mundo ou do destino final da espécie humana, comumente denominado como fim do mundo. Em muitas religiões, o fim do mundo é um evento futuro profetizado no texto sagrado ou no folclore. De forma ampla, escatologia costuma relacionar-se com conceitos tais como Messias ou Era Messiânica, a pós-vida, e a alma.

A maioria dos cultos incorpora estas questões, com os casos mais conhecidos do homicídio de 9 pessoas em Hollywood pelos seguidores de Charles Manson ou o suicídio colectivo em Jonestown, comunidade do pastor Jim Jones. Invariavelmente as teorias de fim do Mundo acabam em morte e sofrimento, mas iniciam-se sempre pela criação de um novo tipo de sociedade. Hitler e Estaline também falavam no fim da história pois era o mote para o Homem Novo. Mais recentemente com Osho percebeu-se que tudo era justificável para criar este Homem Novo e em 2020 o “Great Reseat” de Klaus Schwab abre as portas ao transhumanismo, ou a digitalização total do real, surgindo do Caos da pandemia.
O Homem Novo já não é o puro Alemão guerreiro do Nazismo ou o Operário compassivo do comunismo. Neste momento é o Iron Man ou o Capitão América da Marvel a quem a tecnologia deu superpoderes e capacidade para controlar a sua própria biologia. O Homem Novo é agora Digital!
Curiosamente, apesar de no tal kit de sobrevivência a França realçar a necessidade de dinheiro físico para compensar a inoperatividade dos multibancos, a Presidente do Banco Central Europeu Cristine Lagarde, veio recentemente anunciar, para Outubro, o euro digital ou CBDC, que avança mesmo contra muita resistência europeia. Ao mesmo tempo a Comissão Europeia também já aprovou a Carteira Digital que pretende integrar este mesmo CBDC, o ID digital e o Cartão Europeu de Vacinação (CVE).

Numa tentativa de controlo da economia, a Europa vira-se para o modelo económico chinês e está em vias de abraçar a Estrutura Digital Pública, com uma pequena alavanca da Fundação Bill e Melinda Gates (sempre eles) e do Fórum Económico Mundial, justificando as iniciativas com a promoção da sustentabilidade e para combater “a guerra” das pandemias. O Cartão Europeu de Vacinação (CVE) surge dos resquícios do Passaporte Digital Covid em que, nos tempos mais distópicos dos anos 2020-2023, tinha que ser apresentado para entrar em qualquer sítio público. Não se lhe reconhecem benefícios e não parece ter tido qualquer eficácia no controlo da atividade viral uma vez que as vacinas nunca protegeram contra a transmissão, mas a ideia manteve-se e já decorre o projeto piloto da Iniciativa designado EUVABECO, do qual Portugal é um dos países da Fase Piloto.
EUVABECO é uma inciativa da UE em conjugação com a OMS e várias entidades “independentes” ligadas à indústria das vacinas.
FASCISMO DIGITAL
A Estrutura Digital Pública e o CVE assentam na ideia que as pandemias são eventos cada vez mais frequentes devido às alterações climáticas e que, por conseguinte, é preciso estar preparado. O CEPI, a Welcome Trust e a Fundação Gates promovem, entretanto, o projecto “Missão 100 dias” que promete resolver estes “novos problemas” rapidamente. Mas para ser eficaz é preciso estar conectado com o smartphone de cada cidadão.
A premissa está errada como têm vindo a demonstrar os sucessivos relatórios do grupo REPARRE. A incidência de novos surtos não está a aumentar nem em frequência nem em gravidade. O que temos agora é todo um ‘complexo industrial de pandemias’ montado e preparado para as identificar o mais precocemente possível e se possível lucrar com eles.
Um CVE ligado à nossa identificação pessoal e ao nosso dinheiro. Todo isto promovido pela EU, OMS e grupo de interesses privados. Quanto tempo levará até os Europeus estarem sujeitos a um crédito social? Quanto tempo levará para uma nova espécie de fascismo voltar a destruir a Europa?
Tudo isto nada mais é que paternalismo libertário, a ideia de que é possível e legítimo que instituições privadas e públicas moldem o comportamento, respeitando a liberdade de escolha, bem como a implementação dessa ideia. Richard Thaler, um economista comportamental, defende que é paternalismo no sentido de que “tenta influenciar as escolhas de uma forma que melhore a situação dos selecionadores, conforme julgado por eles mesmos” e é libertário no sentido de que visa garantir que “as pessoas devem ser livres para optar por não participar de arranjos especificados se assim o desejarem”
Mas como convencer as pessoas da opção certa? Talvez dando um empurrão ou aproveitando crises: queres que toda a gente se vacine? Aumenta a percepção de risco de uma doença! Queres armar a Europa? Aumenta a percepção de risco de um invasor! Queres que toda a gente aceite mais impostos sobre o CO2? Aumenta a percepção de evidência das alterações climáticas provocadas pelo Homem! Aqui entram as Narrativas de Fim do Mundo.
Mas a questão essencial e fulcral de todo este movimento e modos operandis da UE é sempre o mesmo: Quem decide? E será que decide bem? As soluções apresentadas são benéficas para todos ou só para alguns? As ameaças são mesmo reais ou aumentadas para vender um produto ou criar uma nova ordem social? E a escolha? É real ou ilusória?





