A espada oferecida por Portugal ao Imperador Guilherme I

Completou 90 anos, a 22 de Março de 1887, o imperador Guilherme I da Alemanha. Portugal quis associar-se ao júbilo e ofereceu-lhe uma espada magnífica.

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Fiquei tão encantado com a descrição da fabulosa espada portuguesa oferecida ao Imperador Guilherme I da Alemanha (também Rei da Prússia), pelo seu 90º aniversário, que resolvi transcrever tudo para partilhar esta alegria.

Nessa época, os meus antepassados Daehnhardt (von Weyhe) eram os diplomatas imperiais creditados na Corte Portuguesa e os meus antepassados Wimmer (von Frankenstein) os diplomatas da Saxónia e do Império Austro-Húngaro na Corte Portuguesa.

Ambos foram também conselheiros das suas Majestades D. Luís I, D. Carlos 1I e D. Manuel II, pelo que se guardaram muitas recordações deste período. Minha avó nasceu em Belas na Quinta Wimmer (1885), no que ainda hoje se chama o Palácio Villa Saxe, onde a junção das duas famílias permitiu que se guardassem muitos documentos durante gerações. Deste núcleo nasceu o Museu Luso-Alemão.

A descrição da espada em 1887

Quem tiver O OCCIDENTE, Revista Ilustrada de Portugal e do Estrangeiro, 10º ano, Volume X, Nº 298 de 1 de Abril de 1887 pode ler nas páginas 74 e 75 o relato que, sob o título  «Espada de honra offerecida por el rei D. Luís ao Imperador Guilherme», agora aqui se apresenta para todos a ela poderem ter acesso. Mantém-se a grafia da época.

“O sr. general Sá Carneiro foi recebido pelo imperador, que lhe certificou o alto apreço e sympathia que lhe merecia el rei Dom Luíz e a Nação Portugueza, folgando de manter com Portugal as mais cordiaes relações.

A espada de honra de que era portador o sr. general foi justamente apreciada pelo imperador, tanto como a mais significativa offerta ao seu valor militar, como uma obra de arte de inestimavel valor artistico; pela sua belleza e perfeição com que está executada.

É essa preciosa espada, que Lisboa mal poude ver na rapida exposição que d’ella fez no seu estabelecimento do Largo das Duas Egrejas, os Srs. Leitão & Irmão, que a nossa gravura, copia de uma photographia, representa.

Não nos consta que modernamente se tenha produzido no nosso paiz obra de ourivesaria mais primorosa que esta, e tanto mais nos deve orgulhar isso por sabermos que ella foi produzida exclusivamente por mãos de artistas portuguezes nas oficinas dos já bem conhecidos ourives e joalheiros da Casa Real, os Srs. Leitão & Irmão.

Isto nos é confirmado n’uma carta dos Srs. Leitão & Irmão, que temos presente, e diz :  

« … Cumpre-nos participar-lhe que essa peça encommendada por el rei Dom Luíz à nossa casa, foi feita nas nossas oficinas, e que n’ella só trabalharam mãos de portuguezes.»

Sua magestade el rei Dom Luíz deu as primeiras indicações, por meio de um dezenho, para os copos da espada. O punho é de tartaruga com uma espiral de ouro mate, cinzelado, encruzada de rubis e brilhantes, e os copos de ouro, representando palmas e louros, tendo ao centro uma braçadeira, onde, entre as scintillações de muitos brilhantes, com a base em esmalte vermelho, circumdado por um largo annel de rubis e esmeraldas.

As guardas são lindíssimas: d’um lado vê-se, sobre palmas cravejadas de esmeraldas, uma aguia de brilhantes, que sustenta, n’uma das garras, o sceptro imperial, e na outra um globo de ouro.; do outro lado, em forma de concha, nota-se um grande número de rubis.

Os copos desdobram-se n’umas volutas, terminadas por dois brilhantes, e completam as guardas por um ramo, onde as palmas e os louros, entrelaçando-se, abraçam uma enorme saphira rodeada de brilhantes.

A bainha tem o bocal de ouro com uma tira de rubis e o guarda-bainha tambem de ouro cinzelado. o gancho é formado por uma cabeça de leão, segurando um brilhante entre os dentes.

O peso do ouro empregado n’esta obra sobe a 600 grammas, e o numero das pedras preciosas é superior a 500, das de mais fino quilate.

A lamina de fino aço, foi fabricada nas officinas do Arsenal do Exército. É custosamente gravada, lendo-se de um dos lados D. Luiz I, Rei de Portugal, e do outro Fabrica d’Armas. Lisboa 1887. Este trabalho foi superiormente executado pelo sr. Cassiano Maia artista gravador em metaes, de grande merito, e aspirante a gravador da Comissão Geodesica.

A gravura que publicamos melhor completa a descripção que deixamos feita desta preciosa espada, dando uma ideia muito perfeita da sua beleza a quantos a não poderam ver no original.”

(continua)

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