9 de fevereiro era a oportunidade perfeita para dar visibilidade aos dramas que a geopolítica alimenta e em que a opinião pública não se foca. A final do campeonato de futebol americano (conhecida por Superbowl) dava em direto nas televisões, não só para os EUA mas, também, para muitos outros países.
Quando Zül-Qarnain Nantambu, que participava no corpo de baile, destapou e desfraldou as bandeiras do Sudão e da Palestina para lembrar ao mundo as matanças indiscriminadas que ocorrem nessas regiões, as pessoas que viram perceberam a mensagem.
Nantambu, 41 anos, fez sua escolha. Enquanto os outros 400 dançarinos contratados se moviam em ritmo coordenado com a música de Kendrick Lamar, o herói desta história assumiu a responsabilidade de denunciar crimes de guerra e contra a Humanidade, crimes que as potências mundiais irão tentar fazer esquecer, em nome de conquistas territoriais, de oportunidade para controlar mais uns quantos poços de petróleo.
Foram 30 segundos apenas, até ser derrubado e levado pela segurança do espetáculo. Apenas alguns momentos terão sido transmitidos em direto, o realizador de televisão que controlava a transmissão deve ter reagido com rapidez a tirar o protesto da antena.
Mas nas redes sociais alimentadas por milhares de imagens gravadas com telemóveis, Zül-Qarnain Nantambu teve direito a todo o tempo de antena, exponenciado por milhares de partilhas.

“O que está a acontecer nesses lugares é desumano. A guerra civil no Sudão, a opressão, a guerra e a tirania em Gaza, isso é desumano. E essas pessoas estão conectadas a todos nós como seres humanos, e a mim, especialmente, na fé.” Palavras de Nantambu assim que lhe puseram um microfone à frente.
‘Eu não posso viver num berço de luxo, enquanto aquelas pessoas sofrem, sem tentar ajudar ou chamar a atenção para isso,’ acrescentou. Um dos que assistiu ao vivo a este protesto foi o Presidente dos EUA. Talvez Trump se tenha admirado com a coragem do artista, mas será pouco provável que se deixe sensibilizar para a necessidade de proteger as vítimas dos genocídios em curso.
Foi um ato audacioso, provavelmente haverá alguma consequência jurídica. Mas, para já Nantambu apenas foi proibido de frequentar todos os estádios da NFL, a liga nacional de futebol americano dos EUA, para o resto da vida. Mas isso talvez seja um alívio perpétuo.
Zül-Qarnain Nantambu nasceu e vive em Nova Orleans, é dançarino, designer e youtuber.