Enquanto o “perigo” se chamou Tesla não soaram alarmes. Quando o perigo se passou a chamar BYD, ergueram-se barreiras alfandegárias e mandaram-se às urtigas todos os preceitos da livre concorrência.
A União Europeia decidiu proteger os complexos industriais da Alemanha e da França, nomeadamente no setor da construção automóvel. Os impostos sobre veículos elétricos (EV) chineses podem ir até aos 30%. A China vai reagir, não sabemos ainda como.
A Comissão Europeia esquece que a maioria das construtoras automóveis têm fábricas na China. Beneficiam do custo da mão-de-obra local e do imenso mercado chinês, com uma população cada vez mais consumista. Quando a China acordar para esta guerra comercial, veremos o que irá acontecer às empresas ocidentais que deslocalizaram para lá boa parte da sua produção. Por alguma razão, as construtoras de automóveis europeus estão contra essas barreiras alfandegárias decididas pela Comissão Europeia.
Ao contrário dos empresários ocidentais (norte-americanose europeus), os chineses dedicaram-se a controlar todo o ciclo de produção. Por exemplo, no caso da BYD (fundada em 2003), a empresa tem as suas próprias minas de lítio, capacidade para transformar o minério e fábricas de baterias. O último passo foi dedicar-se à construção dos veículos,em vez de ficar apenas com o fabrico de baterias. Em 2023, a BYD obteve 17% das vendas globais de carros eléctricos. Ou seja, o segredo para colocar no mercado EV baratos não está só na mão-de-obra barata nem nos subsídios estatais à produção, o argumento da Comissão Europeia para levantar barreiras alfandegárias aos EV chineses.
O que está agora a acontecer com os EV chineses, aconteceu com os telemóveis da Huawei. Os Estados Unidos proibiram a Huawei de participar em leilões de 5G. O argumento foi a “espionagem” da China através do controlo das telecomunicações. Um argumento estapafúrdio, que está a ser repetido nas medidas para obrigar o proprietário chinês da rede social Tik Tok a vender a empresas norte-americanas.
A Huawei não morreu, só o mercado interno chinês gera receitas mais do que suficientes para garantir a sustentabilidade das empresas. A Huawei é hoje uma empresa ainda mais avançada tecnológicamente. Se não acreditam, experimentem um Xiaomi (que mais não é que outra denominação para telemóveis da Huawei nos mercados europeus).