Estava lá a 31 de Agosto a partir das 16 horas. Posso confirmar, como tantas outras pessoas que junto a mim lamentavam, que era gente a mais para circular no recinto onde estavam implantados os pavilhões. Se tão significativamente aumentava a adesão, o espaço físico não aumentava, era exactamente o mesmo. Nem a beleza natural do lugar se conseguia apreciar devidamente. A preocupação era evitar barreiras de pessoas de todas as idades, que não podiam erguer a cabeça para o alto e admirar o colorido das árvores.
O barulho era ensurdecedor. A rádio da Feira emitia constantemente num volume de som elevado e misturava-se com o ruído dos passantes, que nem sempre percorriam o recinto por interesse no bem cultural. Misturados, amplificados, os ruídos dificultavam a percepção das mensagens emitidas a partir do interior da cabina, e certamente importantes, e tornavam impossivel a comunicação entre leitores e escritores, talvez os agentes culturais mais prejudicados.
Ironia. Afinal são eles que estão na origem da criação do bem que sustenta a ligação coesiva de uma Feira do Livro!
Nada a dizer sobre os espaços adjacentes, para onde eram remetidos espectáculos e lançamentos, a não ser que seriam na mesma proporção escassos. Nada para apontar à fácil acessibilidade aos stands, para os compradores apreciarem e adquirirem os livros junto dos vendedores. Já o espaço destinado às mesas para os autógrafos, às cadeiras necessárias para um diálogo breve nos escasssos 50 minutos que cada autor pode ter com o seu público, era negligenciado.
Se quem lá vai com motivações variadas tem legitimidade para se passear na Alameda das Tílias, por exemplo?
Todos têm o direito de percorrer a Feira com, ou sem interesse literário, mas no espaço onde os stands estavam expostos, tornava-se óbvio que era impossível colocarem-se acessórios tão importantes como os referidos, em número suficiente em frente de cada pavilhão. A relação do público com os autores da sua preferência, não era privilegiada, nem se podiam realizar ali quaisquer actividades breves relacionadas com a sessão de autógrafos.
Dizia a organização à Lusa que tanta afluência se devia a uma boa percepção do que as pessoas desejavam, só se impõe saber quais pessoas. Os visitantes que se passeavam pela alameda principal a comer sorvetes e batatas fritas, ou os escritores, editores, livreiros e alfarrabistas que nos 130 stands, representando 115 editoras, esperavam mais atenção para o seu trabalho e a oportunidade de se fazerem ouvir uns aos outros?
Era uma Feira do Livro. Seria desejável, para o Presidente da autarquia e também vereador da Cultura, que viesse a ser um Festival Literário, num futuro próximo. Um espaço tão especial prestar-se-ia a um dia, dois, três de Festival. No resto do tempo, desejável seria privilegiar a convivência entre autores e seus leitores, para proveito natural do circuito livreiro estabelecido entre os primeiros e os editores.
Os naturais do Porto, os que lá têm raízes como eu, os visitantes de dentro e de fora, gostam de usufruir os encantos da cidade e daquele lugar idílico, mas devo confessar que esta afluência, que tanto deve ter agradado a uns, prejudicava outros que são a trave mestra de um acontecimento do género.
Os jardins do Palácio de Cristal são amplos. O recinto destinado à Feira e às actividades que lhe são afectas, começa a ser mínimo para os acontecimentos que à Feira dizem respeito. Como o Senhor Presidente da Câmara vê com bons olhos tanto a repartição da organização do evento com a APEL, novamente, como o facto de ser estimulante fazer diferente, é neste último contexto que sugiro outros espaços para reunião e convívio, para ouvir música, para jogos infantis. Na generosa extensão dos jardins não falta onde.
Que a rádio emita por pequenos períodos e venha mais tempo para o exterior entrevistar autores, editores, público. Talvez possam todos ter uma melhor percepção do que é sentido no recinto da Feira.
Para os lançamentos no Lago dos Cavalinhos, um toldo-tenda que consiga proteger da humidade, como a que nesse sábado 31 à tardinha se fazia sentir, também não seria de desprezar. Caía uma neblina densa que pedia agasalho e havia uns pingos de chuva registados em imagens no tampo de uma mesa espelhada, que se contiveram, mas que podiam ter ido mais além.
Deslocar mais actividades culturais para lugares com carisma e ligações afectivas ao Palácio de Cristal, seria outra medida para a Feira ser do Livro ser, em primeiro lugar, um acontecimento estimulante para aqueles que o apreciam, que a ele se dedicam, que esperam pelo menos reconhecimento e um tipo de compensação moral.
Leio com mágoa a descrição que nos faz Helena Ventura Pereira sobre a Feira do Livro do Porto. Não tendo podido lá estar, não consigo deixar de pensar que um mesmo tipo de lamento já o fazíamos também relativamente à congénere de Lisboa, no início do Verão. Apesar de tudo, o Parque Eduardo VII oferece espaços mais amplos do que o belíssimo Palácio de Cristal.
Penso que um dos busílis da questão tem a ver com a concepção que os responsáveis têm do que deva ser uma Feira do Livro. E que não pode, não deve, confundir-se com outros certames estivais onde as pessoas se juntam para petiscar e matar a sede nos dias de canícula. Mas é essa a perspectiva que vai ganhando cada vez mais peso, infelizmente.
A Helena Ventura Pereira deixa-nos um conjunto de sugestões de melhoramento, sensatas e exequíveis. Oxalá que elas possam ser levadas em conta por quem decide, a bem da leitura e dos seus cultores.
A crónica vai ao encontro do que ouvi dizer que havia muita gente por lá e que a atividade dos escritores estava a ser ofuscada pelo barulho e por enchentes de público.
É pena porque o espaço é fabuloso mas não pode conter aglomeracoes que mesmo em Lisboa se tornam prejudiciais sendo o espaço muito maior.
Gostei de ler a crónica como sempre e de saber mais novidades sobre um acontecimento do norte que começa a ser referência cultural.