O CALDO ENTORNADO

A distância entre o ocidente e o oriente está a aumentar, os conflitos sucedem-se e adivinham-se razões dissimuladas para as fraturas expostas.

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A Índia suspendeu os vistos para canadianos e pediu que o Canadá reduzisse a presença diplomática na Índia. Esta é a resposta às acusações do primeiro-ministro Justin Trudeau que ligam Nova Deli ao assassínio do separatista sikh Hardeep Singh Nijjar, refugiado no Canadá.

Hardeep Singh Nijjar

Este independentista sikh era considerado terrorista pelo Estado da Índia que sempre criticou o Canadá por receber e dar abrigo a extremistas políticos sikh perseguidos.

Uma suspensão geral de vistos para um país ocidental é inédita e marca o ponto mais baixo das relações Índia-Canadá. A embaixada do Canadá em Nova Deli já anunciou ir “ajustar” temporariamente a presença de funcionários no país.

A par da suspensão de vistos, as relações comerciais entre os dois países também congelaram. Veremos qual dos dois tem menor capacidade de resistência à “dor” financeira. O Canadá é o 17º maior investidor estrangeiro da Índia, os investidores canadenses em carteiras têm investidos milhões de dólares nos mercados financeiros indianos. O Canadá é a quarta maior fonte de turistas estrangeiros, com 350.000 visitantes em 2019, um número que caiu após a pandemia covid-19, de acordo com dados do governo indiano.

As tensões entre os dois países aumentaram depois de Trudeau ter dito que o Canadá estava a investigar “alegações credíveis” sobre o potencial envolvimento de agentes do Governo indiano no assassínio de Hardeep Singh Nijjar, em junho.

A UCRÂNIA E O KHALISTAN

Até agora, as autoridades canadenses não esclareceram por que acreditam que a Índia pode estar ligada ao assassinato de Nijjar.

O Canadá discutiu a questão com aliados-chave, nomeadamente com os 5 aliados que formam o grupo de troca de informações Five Eyes, que inclui os Estados Unidos, o Reino Unido, a Austrália e a Nova Zelândia.

Ou seja, é bem possível que a morte do separatista sikh seja cortina de fumo para questões mais preocupantes para os países ocidentais, como seja a aproximação da Índia à Rússia, constituindo-se num dos mais importantes parceiros comerciais dos russos e, assim, contribuindo para o fracasso das sanções ocidentais decretadas após a invasão da Ucrânia.

A Índia faz parte dos BRICS, o grupo de países que está a desafiar a ordem internacional estabelecida e controlada pelo dólar e pelos EUA.

A etnia sikh é maioritária no Estado Punjab, integrado na Índia e palco de uma sangrenta revolta nos anos 80 e 90 do século XX. O movimento separatista pretende criar um Estado independente chamado Khalistan.

Hardeep Singh Nijjar promoveu um referendum no Punjab considerado ilegal

Na sequência do conflito, milhões de sikhs fugiram da Índia e só no Canadá vivem cerca de 770 mil pessoas desse grupo étnico.

Embora hoje quase não haja apoio à insurgência na Índia, grupos de sikhs na Austrália, Grã-Bretanha, Canadá e Estados Unidos apoiam a demanda separatista e, ocasionalmente, organizam protestos em frente às embaixadas indianas. Isto é, o Khalistan é uma carta que ainda pode ser jogada no tabuleiro da geopolítica.

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