Quando Lula chegou finalmente à Presidência da República do Brasil, em 2002, ele deveria ter tido a noção de que precisava dar certo. Ele deveria ter sabido que, se não desse certo, acabaria por fornecer excelentes pretextos aos seus inimigos de sempre: a direita reacionária e militarista.
Quase ia dando certo. A primeira Presidência foi gloriosa. Foi reeleito. Na segunda vez, foi submergido pelas suspeitas de corrupção e nepotismo.
Os governos de Lula ficaram na memória dos pobres, pela implementação de programas sociais. A “Bolsa Família” ou o programa “Fome Zero”, foram novidades absolutas num país marcado pela pobreza e desigualdades sociais. O Brasil triplicou o PIB e teve um Presidente bastante popular em todo o mundo.
Depois de ter deixado a Presidência, a investigação judicial “Lava Jato” incriminou Lula e foi condenado a 9 anos de cadeia pelo juiz Sérgio Moro que, mais tarde, acabou como ministro do Governo de direita de Jair Bolsonaro.
Entretanto, o Supremo Tribunal Federal anulou a condenação de Lula por considerar que esse juiz tinha agido com parcialidade no julgamento que dirigiu. Agora, o regresso de Lula à política oscila entre a redenção e a vingança.
Conheci Lula em 1989, quando ele se batia com Collor de Melo, nas primeiras eleições livres do Brasil. Fui a São Paulo, entrevistá-lo (para a RTP) numa sede do Partido dos Trabalhadores. Lembro-me bem das bandeiras com as estrelas vermelhas, das esfinges do Lenin e de Prestes nas paredes, da voz rouca e gramaticalmente desobediente, do dedo decepado (na mão esquerda) pelo torno mecânico. Lembro-me de ter pensado que aquele tipo nunca seria eleito presidente da república. Faltava-lhe o dinheiro e os compromissos com quem o tem. Enganei-me redondamente.
Lula é a prova que a vida dá muitas voltas, realmente. Tudo tem solução, exceto o dedo decepado na jornada fabril.