A propósito da história de Cascais no período filipino, ou seja, de 1580 a 1640, teceram-se considerações não apenas sobre as razões por que se perdeu a independência e foi fácil a invasão de Portugal pelas tropas do Duque de Alba, mas também sobre o clima de entusiasmo que, a dado momento, sugeria a vinda da Corte para Lisboa, porque a cidade era mesmo digna de ser capital de Portugal e de Espanha!…
O entusiasmo foi, no entanto, cedendo ao desânimo e um grupo de conjurados, aproveitando a ida das tropas espanholas para a Catalunha, onde a revolução pela independência rebentara, matou Miguel de Vasconcelos, que, embora português, era o esbirro do rei Filipe II. E tudo se começou a preparar para repelir os ataques que de Espanha não tardariam.
Por isso, na década de 40 do século XVII se levantaram fortificações em toda a orla marítima desde o Abano até Pedrouços, para defender a capital, pois se não havia esquecido que as tropas do Duque de Alba haviam entrado calmamente pela Laje do Ramil, ali ao pé do farol da Guia.
Esgotada, mormente após a Revolução de Abril de 1974, a função bélica desses equipamentos fortificados, o Estado depressa pensou em se libertar deles. Boa parte foi, pois, negociada com o Município de Cascais.
Entre os assistentes da conferência realizada no passado dia 7, precisamente num desses fortes, o de S. Jorge de Oitavos, estava o Coronel Alpedrinha Pires, da Associação dos Amigos da Artilharia de Costa, com quem, no final, tive oportunidade de trocar impressões, nomeadamente a propósito da recente entrega ao Município da bateria da Parede. Apesar dos estragos que o abandono permitiu, poderá essa bateria vir a ser um excelente lugar para se compreender o que, ao longo dos anos, se fez para a defesa de Lisboa.
E veio a talhe de foice, falar da bateria de Alcabideche, de que está hoje à vista um dos seus poderosos canhões, no logradouro do Hospital. E informou-me Alpedrinha Pires que Paula Moura Pinheiro fizera sobre o assunto um dos seus programas Visita Guiada. Fui ver e recomendo a quantos estejam interessados nesse tema. O endereço é: https://www.rtp.pt/play/p8647/e536716/visita-guiada.
Uma visita que, infelizmente, já se limitou a muito pouco, porque o demais jaz inacessível. Permita-se-me, pois, que recorte do livro Dos Segredos de Cascais um trecho descritivo da visita pormenorizada que me foi dado fazer em Outubro de 2004:
«Aventuramo-nos, como toupeiras. A retina, depois de longos minutos, começa a adaptar-se à escuridão mais completa. Minúscula casa-de-banho, aqui, logo à entrada. Depois, um corredor estreito. Álvaro Isidoro, o nosso fotógrafo de hoje, faz milagres para fotografar às escuras, com o fiozinho de luz que a pequena lanterna lhe proporciona.
Uma claraboia aqui, outra acolá. Pequeninas. Aqui é o paiol das cargas. Estas madeiras eram os suportes delas. Ali, os geradores: o grande, um monstro, e o alternativo; este, o hidráulico, para movimentar a peça. É de tacos o chão; estão forradas de madeira as paredes até meio (nada pode produzir qualquer faísca). Estamos junto ao elevador das cargas para a peça. Este é o bocal para as comunicações – um processo primitivo mas extraordinariamente eficaz. E ainda em excelente estado!
E de pronto sonhamos com o museu – claro está!».
PALESTRA?
Gostava de ter estado e não consegui.
Era dia 7 de Outubro deste ano. Conforme revela este fantástico texto, abordava-se, no Forte de Oitavos, o conturbado período da História de Portugal entre 1580-1640.
O turbulento governo dos Filipes. A importância de uma independência que nem a Restauração viria efectivar sem equívocos.
Foi preciso Carlos II de Castela chegar ao trono para reconhecer formalmente o esforço do exército e povo portugueses, com mediação do outro Carlos II de Inglaterra.
A Catalunha ajudou, quase sem querer…queria também e já então, a sua independência ainda hoje reclamada. E arrastados os esforços de luta do exército espanhol para esse conflito, os portugueses reuniram os derradeiros esforços para banir o “intruso”.
Estava-se em 1668 e Portugal atravessava de novo uma crise dinástica entre Afonso VI, o rei que ratificaria a assinatura de Carlos II de Espanha, e o irmão, ou filho mais novo de D. João IV, que queria dá-lo como incapaz. E deu.
Mas se isto era o que se conhecia em linhas gerais, muitos detalhes sobre a edificação de fortificações na linha da Costa (desguarnecida quando o Duque de Alba entrou ao pé do Farol da Guia) teriam aproveitado os ouvintes interessados na sala repleta das instalações do Forte que, como eu, já conheciam o seu livro DOS SEGREDOS DE CASCAIS, que recomendo.
O Prof. Doutor José d´Encarnação tem o mérito de aliar o seu imenso saber a um poder de comunicação incomum, sempre em abordagens quase intimistas, como se conversasse com os amigos numa reunião informal.
Ouvir falar dos factos, é uma coisa. Juntar-lhes as emoções e estabelecer o diálogo, é uma experiência bem mais marcante que intensifica o valor do momento.
Foi isso, e mais os detalhes que ainda não conhecia, que me fizeram lamentar a sobreposição de dois acontecimentos nos mesmos dia e hora.
Mas a informação vai correndo. E sem surpresas, tive a garantia de um momento de grande riqueza que dignifica Cascais, pelo mérito dos seus oradores.