Num gesto deliberadamente pacífico e simbólico, os ativistas desafiam o bloqueio total imposto por Israel à Faixa de Gaza. Um cerco que, segundo diversas organizações internacionais, configura punição coletiva e constitui genocídio. Levar ajuda humanitária, mesmo que apenas simbólica, é neste momento um ato político de altíssima relevância. E é isso que Israel teme: a força de um símbolo que não pode controlar.
O barco, o “Madleen”, não chegará a Gaza. É certo que será abordado pela marinha de guerra israelita, desviado, e os seus ocupantes detidos. No entanto, nenhuma dessas ações impedirá o que já está em curso: a mobilização da opinião pública global, o reforço da crítica internacional ao regime israelita e a amplificação da luta palestiniana por outros meios que não os da violência.
Ao interceptar este veleiro, Israel não estará a garantir segurança. Estará, isso sim, a confirmar que é um um Estado que, diante de arroz e leite, responde com navios de guerra.
O paradoxo é evidente. O uso da força contra civis desarmados, longe de dissuadir protestos, multiplica-os. Cada bloqueio, cada prisão, cada disparo, ainda que apenas simbólico, amplia a dissidência, expõe a desproporção, e revela o que muitos já suspeitam: que Israel perdeu o domínio moral da narrativa.
O “Madleen” não chegará a Gaza. A ajuda humanitária que leva não vai aliviar o sofrimento de ninguém. Mas a verdadeira carga a bordo é a denúncia viva, concreta, corajosa, de uma barbárie normalizada. Israel pode afundar barcos, mas já não consegue impedir um gesto cuja força já corre mundo.



