Trabalhadores atacaram o Maio em Trajouce

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Já lá vai o tempo em que, no 1º de Maio, os trabalhadores, designadamente das pedreiras da zona ocidental de Cascais, faziam o seu feriado, mesmo que feriado não fosse. Abalavam até à orla marítima, onde se dedicavam à pesca, para comerem, de seguida, uma boa caldeirada com as espécies que haviam pescado.

Hoje, tal já não é possível, porque está proibido fazer fogo naquelas zonas e, por outro lado, os pinhais da Marinha deixaram de estar abertos à população. É pena, porque se tratava de uma tradição, em que as comunidades vindas das mais variadas regiões de Portugal aqui se reuniam em confraternização o dia inteiro.

Também já vai longe o tempo em que havia, designadamente entre as gentes do Algarve, a tradição de «atacar o Maio», ou seja, ir de porta em porta, para tomar um cálice, normalmente de bom medronho caseiro, acompanhado pelos bolinhos feitos à maneira pelas donas de casa. Há, no entanto, a tradição que felizmente se mantém: a de alguns restaurantes terem como prato do dia uma caldeirada. Nem sempre de peixe, mas, pelo menos, de bacalhau. Algumas coletividades ainda mantêm a tradição da caldeirada com os seus associados.

EM TRAJOUCE

Há um grupo de trabalhadores, primeiramente ligados ao trabalho da pedra e hoje englobando já várias profissões, que anualmente, desde há mais de duas décadas, se reúnem no barracão que Carlos Sabino tem no coração de Trajouce. Um barracão que é um verdadeiro museu de antiguidades, como já tivemos aqui ocasião de dizer aqui…

(Só não temos dito, a esse propósito, por uma certa deferência, mas desta vez não hesitamos: é que a Cascais Ambiente, a empresa que garante a limpeza no concelho de Cascais, devia olhar com mais atenção para a ribeira que passa nesse coração de Trajouce e que está uma vergonha de lixo e de ratazanas e de água pútrida…).

Mas deixemos esses aspectos desagradáveis e digamos que, neste 1º de Maio, se reuniram cerca de 30 amigos nesse barracão, para se deliciarem com a bela caldeirada que o Carlos Sabino sabe muito bem fazer e que a todos nos delicia.

Foram bons momentos de animação e convívio, onde não faltou o acordeão e, no final, a foto geral captada pela objectiva de Guilherme Cardoso, para recordarmos pelos tempos fora.

Além disso, todos os anos, como o núcleo inicial era de canteiros, temos o sorteio de uma peça, feita normalmente por um dos canteiros presente e na pedra local.  Serve como que um «monumento» de recordação desse dia. Faz-se o sorteio e quem o levar terá, com certeza, a vontade de o colocar em lugar de destaque na sua casa.

Uma tradição, tanto a das caldeiradas como a do atacar o Maio, que vale a pena recordar e, sobretudo, vale a pena lutar para que ela se mantenha como fonte de confraternização, numa altura em que confraternizar está cada vez menos na moda. A direcção da Associação Cultural de Cascais desde 1999 que está presente!

Parabéns, amigos! Gratos parabéns a Carlos Sabino por manter com todo o carinho e também algum sacrifício esta bonita tradição…

1 COMENTÁRIO

  1. Bom, vejo que há senhoras, mas parece que esta confraria gosta que se mantenha maior percentagem de homens a comer a caldeirada. Respeito à tradição, talvez…
    Por mim não morreria a tradição. Já disse o ano passado como gosto de caldeirada, como podia dar uma ajuda nos temperos, embora acredite que o Sr. Carlos Sabino possa dar lições nessa matéria. E depois, talvez morra antes de a tradição acabar, não valerá a pena insistir.
    Congratulo-me com a reunião, com as alegres manifestações de amizade.
    E com este texto.
    Grata, estimado José D’ Encarnação.

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