O burnil

A riqueza da nossa língua também se manifesta nas designações de objectos do dia-a-dia. A crónica sobre a gorpelha despertou para isso a atenção. Sabe o que é um burnil?

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Não conhecia a designação gorpelha. No dicionário Houaiss é também referida a relação etimológica com corbelha que significa cesta pequena, leve e delicada. O meu sogro referiu também conhecer a designação de conelha

Essa crónica sobre a gorpelha suscitou-me a curiosidade de procurar saber um pouco mais sobre outro acessório usado na “indumentária” dos animais de tiro.

José Pita, avô da Maria, nasceu e viveu no Redondo e foi um reconhecido mestre na arte de fazer um dos elementos mais complexos e decorativos do arreio dos animais de tracção: o burnil.

Como nenhum dos dicionários que tenho em casa tem entrada para esta palavra, socorri-me do meu sogro, que, do alto dos seus 94 anos, arrumou com grande clarividência a minha curiosidade acerca da profissão do sogro.

O burnil cingia e protegia o pescoço do animal e sobre ele assentava a canga da carroça. Era composto pelo mulim, peça semelhante a uma manga de carneira preenchida com o pêlo proveniente da tosquia. As pontas da manga eram, no dia a dia, apertadas com uma fita de cabedal que ajustava o mulim ao pescoço do animal. Sobre o mulim era cosida outra manga de serapilheira dentro da qual se apertava palha de trigo ou centeio.

Esta peça tinha o nome de burnil e era ela que dava nome ao conjunto. Os lavradores mais abastados faziam gala em apresentar os burnis com rica decoração executada em fio de lã, pedaços de tecido e pequenos espelhos e berloques. O  topo do burnil recebia a designação de castelo e era engalanado com um pompom feito com pêlo de crina de cavalo.

fotografias partilhadas do blog coruche à mão (sapo.pt)

Segundo li no blogue Alcoutim Livre, em Alcoutim, os burnis eram designados por molins ou monilhas.

Se a leitura da crónica sobre a gorpelha foi, como sempre, um enorme prazer, ler no brilho dos olhos do pai da Maria a alegria do Redondo foi enternecedor.

o mestre José Pita

Obrigado aos dois: ao autor da crónica e ao meu sogro, José Pita.

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