O repórter norte-americano Evan Gershkovich nega tudo aquilo por que foi condenado a 16 anos de prisão. Considerado culpado de espionagem, vai passar 16 anos numa prisão de alta segurança na Rússia, a não ser que um dia destes seja libertado por acordo político entre os governos da Rússia e dos EUA. Deverá ser esse o epílogo desta história.
O Wall Street Journal, em defesa do seu funcionário, classificou a sentença de “vergonhosa condenação simulada”.
Gershkovich foi detido e levado a julgamento depois de ser acusado de tentar reunir informações confidenciais sobre uma fábrica de tanques. Nas atuais circunstâncias político-militares em que a Rússia se encontra, uma acusação deste tipo é “barra pesada”.
JORNALISMO NÃO É CRIME
Desde o primeiro minuto, o governo dos EUA tenta negociar a libertação do jornalista. Não é, de resto, comum haver jornalistas norte-americanos detidos na Rússia. Este é o primeiro caso desde o fim da Guerra Fria.
Joe Biden disse que Gershkovich não cometeu nenhum crime, que foi detido injustamente e que “jornalismo não é crime”, slogan muito escutado durante anos a fio em que Julian Assange esteve detido a pedido das autoridades norte-americanas que o queriam extraditado para poder ser julgado por… espionagem.

Os EUA fizeram um acordo com Assange: na audiência judicial ele declararou-se culpado de conspiração para obter e divulgar ilegalmente informações sobre a defesa nacional e, por isso, foi condenado a 62 meses de prisão. Considerando o tempo já cumprido, Assange foi libertado imediatamente e reressou à Austrália, em 25 de junho de 2024.
Poucos duvidam da injustiça que está a ser exercida sobre Gershkovich, mas ninguém duvidará também que tudo isto faz parte das atuais circunstâncias da geopolítica mundial.
Nos Estados Unidos há também detidos russos, eventualmente acusados por ilegalidades que não cometeram. O destino destes eventuais injustiçados é servirem de moeda de troca, quando os políticos considerarem que é a hora adequada para esse tipo de propaganda.
Os casos de espionagem muitas vezes levam meses para serem tratados, mas este foi relativamente rápido. Evan Gershkovich esteve detido a aguardar julgamento durante 16 meses e o tribunal decidiu a sentença em poucos dias. Tudo isto leva a crer que haverá proximamente uma troca de espiões detidos entre EUA e Rússia.
Os especuladores da política dizem que a Rússia estaria interessada em conseguir a libertação de Vadim Krasikov, um russo que cumpre pena de prisão perpétua na Alemanha, considerado culpado pela morte de um dissidente checheno, em 2019.

OS NEGOCIANTES
Questionado sobre a possibilidade desta troca se realizar, o presidente Vladimir Putin disse que a Rússia está aberta a uma troca de prisioneiros envolvendo Gershkovich. Acrescentou que há contactos sobre esse assunto com o governo americano, mas que devem permanecer secretos.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, confirmou, há dias, que Washington estava a negociar a libertação de Gershkovich. Referiu ainda o caso do ex-fuzileiro naval Paul Whelan, preso também por espionagem e admitiu que há mais americanos detidos, mas não referiu nomes.

Desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, Moscovo e Washington realizaram apenas uma troca de prisioneiros de alto nível: a Rússia libertou a estrela do basquete Brittney Griner, detida por contrabando de cannabis, em troca do traficante de armas Viktor Bout, preso por crimes relacionados com terrorismo nos Estados Unidos.

Se Biden/Blinken não forem capazes de chegar a acordo com Putin, será Trump a lucrar, se for eleito presidente.