Ingenuidade

43º Salão Internacional de Pintura Naïf – a encher de colorido as tardes do nosso Verão!

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Com vem sendo hábito há mais de 4 décadas (!), a Galeria de Arte do Casino Estoril reincide na maldade de querer encher de colorido as tardes do nosso Verão! É que, na verdade, se algo distingue o modo de ver a realidade de um pintor a que se convencionou dar a classificação de naïf é a sua sensibilidade à cor. Não há para ele – não pode haver| – um mundo a preto e branco. Tudo é uma explosão de cor, a mostrar pormenores da realidade em que, amiúde, na pressa em que se nos vão os dias, acabamos por nem reparar! E, depois, quando a paisagem correria o risco de ser monótona, vamos lá salpicá-la de humor!

Emil Pavelescu

Veja-se, a título de exemplo, esse campo de golfe do romeno Emil Pavelescu (1944-2015): taco no ar, até a vaquinha espera a tacada, a senhora aguarda em biquíni (!) no trecho de areia e até imaginamos que os santinhos, nos altares da ermida, estão a dar uma ajuda para que tudo saia certo. Há lá cena mais colorida e mais ingénua! Ah! Importa não nos esquecermos de olhar para o céu, que, aí, o panorama ainda é mais deslumbrante: balão-matrafona carnavalesca de Torres, balão-galo de Barcelos esticado, balão-salsicha!… E, nos cestos, o pagode goza o espectáculo!

Manuel Castro

A paisagem de Manuel Castro (nascido em Vila Nova de Gaia em 1945, só começou a pintar em 1986) é, por seu turno, um hino à biodiversidade, porque há amendoeiras floridas, há um bem disciplinado rebanho de ovelhas, o obediente canito, o pastor é assim a modos de um alentejano com safões, e tem gansos, um casal de pássaros namora num galho, casinhas térreas espalham-se mais além e, nos céus, um bando (de aves de rapina, quiçá, para melhor se enquadrarem na biodiversidade!

Cada quadro, uma história por contar, neste 43º Salão Internacional de Pintura Naïf, salão que se orgulha de ser o mais antigo do mundo desta modalidade pictórica, sempre no Casino Estoril. Abre a exposição no próximo domingo,  28 de Julho, a partir das 17 horas, e estará patente durante todo o Verão, pois encerra a 16 de Setembro.

Estão patentes obras de A. Barbosa, António Poteiro (o consagrado Poteiro, bracarense que no Brasil se notabilizou: 1925-2010), António Réu, Augusto Pinheiro (a ingenuidade em pessoa neste nisense – 1905-1994 – que só aos 66 anos lhe deu para pintar!), Bento Sargento, Conceição Lopes, Dupont, Eduardo Mendes, Emil Pavelescu, Estrela Santos, Evaristo Navarrete, Feliciana, Fernanda Azevedo, Gutemberg Coelho, João de Deus, Manuel Castro, Maria Tereza, Vilanova, V. Peleja e Zé Cordeiro.

3 COMENTÁRIOS

  1. De: Alberto Correia
    25 de julho de 2024 09:54
    Belíssima amostra de pintura naif. Fiz em Viseu várias exposições dessa pintura no Museu e fora dele, as primeiras com a colaboração do Casino do Estoril e a presença do seu Director. Há cerca de dois anos estive no Casino, falei com o filho, para ajudar a classificar um conjunto de 150 quadros oferecidos por um benemérito coleccionador à Vila do Sátão onde ainda organizei uma mostra.
    Dos pintores representados, todos surpreendentes, gostei do quadro de Manuel Castro.
    Um abraço.
    A. Correia

  2. Uma bela análise desta “pintura naïf” exposta na Galeria de Arte do Casino do Estoril.
    Este é o género que no final do século XIX (no Salão dos Independentes de Paris em 1886) Henri Rousseau ousava apresentar para ser logo ridicularizado.
    O que durante uns tempos caracterizava os seguidores deste estilo de pintura, era o facto de serem autodidactas (o Salão dos Independentes devia ter centenas em outras áreas) mas no fundo, mesmo frequentando uma Escola de Pintura, cada artista tinha de encontrar a sua expressão própria. Só que havia outras correntes estéticas na moda e escolas famosas. Referi-las dava estatuto.
    Eu tentava umas noções num ateliê de pintura e só aprendia a lavar os pincéis sem os danificar com diluente (nada mau) e a pagar bem (péssimo para o retorno que tinha)…
    Hoje, e olhando estes trabalhos que aqui ilustram o texto, até podemos encarar o género como crítica social. Logo a tela de Emil Pavelescu: os cães ladram, neste caso as vacas mugem, os ricos perdem tempo a fazer jogadas, e a caravana do povo alegre passa.
    Muita cor sempre, porque afinal há que manter as características de um tipo de pintura que ganhou o seu lugar. E além da cor manter os elementos que enganam os sabidos. Que vão julgando que os outros são os papalvos.
    Um grande abraço, José d’ Encarnação.

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