Quando o capitalismo captura as boas obras

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‘Pequena grande vida’ (Downsizing) é um filme de 2017 com Matt Damon sobre capitalismo e boas obras. A ideia do enredo passa por uma experiência científica que diminui o tamanho dos seres humanos como única solução encontrada para salvar o planeta, uma vez que diminui o consumo global de recursos naturais. O projeto inicialmente parece resultar, mas gradualmente os vícios e a complexidade das sociedades humanas interferem na finalidade desta “boa obra”, com pessoas a submeterem-se ao tratamento de “diminuição” apenas para acederem à vida de luxo e livre de impostos que ela permite. Neste universo aparentemente utópico começam também a surgir excluídos: os que reagem mal ao processo médico, os que foram obrigados a diminuir por diferentes razões, os doentes, os já anteriormente pobres, etc.

No final, o grupo que criou o processo médico de “diminuição” revela-se extremista, decidindo ir viver para debaixo da terra, à espera do inevitável apocalipse. Cá em cima, o mundo continua, com o capitalismo a lucrar com o novo mercado em miniatura criado com a finalidade de salvar o mundo.

O herói, uma boa pessoa, é tentado por todas ideias de bem comum que surgem no enredo, acabando inevitavelmente sempre prejudicado. Também se junta ao grupo que vai criar uma nova sociedade mas profundezas da terra, salvando a raça humana do Armagedão. No último instante, porém, arrepende-se e volta para trás. É o seu único ato egoísta em toda a trama. Não o torna má pessoa, apenas humano.

As consequências

Um estudo de Kevin Bardosch ao examinar 600 publicações, concluiu que “o dano colateral da resposta à pandemia foi substancial, abrangente e deixará um legado de danos para centenas de milhões de pessoas nos próximos anos”.

Pesquisadores suecos analisaram quase 3 milhões de mulheres para concluir que mulheres vacinadas com mais de 45 anos têm um risco 23-33% maior de sangramento vaginal grave . Uma descoberta publicada recentemente na Nature mostrou que o risco de cegueira (oclusão vascular da retina) nos dois anos após a vacinação com mRNA aumentou 2,2 vezes.

Uma importante meta-análise revista por pares do Instituto de Assuntos Económicos por pesquisadores americanos, suecos e dinamarqueses concluiu “as vidas salvas foram uma gota no balde em comparação com os custos colaterais impressionantes impostos” e  “quando se trata de Covid, os modelos epidemiológicos têm muitas coisas em comum: suposições duvidosas, previsões arrepiantes de desastres que erram o alvo e poucas lições aprendidas”. O abrangente livro de 220 páginas descobriu que as medidas draconianas tiveram um “impacto insignificante” na mortalidade por Covid e foram “uma falha colossal da política global que nunca deve ser imposta novamente”.

Um artigo na revista Vaccines indica que injeções repetidas de Covid induzem a produção de anticorpos IgG4 que podem reduzir a imunidade à proteína Spike. Isso ajudaria a explicar o aumento de infecções, internamentos e mortes com doses sucessivas das vacinas.

Um estudo da Virgínia, por exemplo, descobriu que veteranos vacinados têm maior probabilidade de serem hospitalizados ou morrer do que veteranos não vacinados, com reforços aumentando ainda mais o risco.

Os pesquisadores da FDA descobriram um risco elevado de inflamação cardíaca em crianças de 12 a 17 anos que receberam a vacina da Pfizer. Pesquisadores sul-coreanos estabeleceram recentemente que 12 pessoas com menos de 45 anos morreram de miocardite causada por vacinas de mRNA . Por outro lado, o ministério da saúde de Israel confirmou que o número de pessoas entre 18 e 49 anos sem doenças subjacentes que morreram de Covid é precisamente zero .

Julie Sladden e Julian Gillespie escreveram sobre a descoberta acidental de que as injeções de Covid poderiam conter DNA plasmidial. Ambos alertaram  que se os resultados forem verificados, as implicações são graves. A contaminação generalizada de DNA colocaria em questão a qualidade de todo o processo de fabricação de injeção de mRNA, sistemas de segurança e supervisão regulatória. Além disso, o DNA pode não ser o único contaminante.

O governo de ninguém

Dizem-nos que, num mundo de multiplicação das emergências sanitárias, se tornou necessário abdicar de alguma independência em troca da nossa segurança. Eu diria que em democracias complexas, a burocracia é, citando Hannah Arendt, o governo de ninguém e o capital encontra terreno fértil para apontar uma direção.

O financiamento inicial da Organização Mundial de Saúde (OMS) foi dominado por contribuições “avaliadas” dos países, com base no PIB, e a instituição decidia como usar esse financiamento principal para alcançar o maior impacto da sua ação. A partir de 1993 o financiamento da OMS tornou-se principalmente “especificado”, o que significa que um financiador pode decidir como e onde o trabalho será feito. A OMS tornou-se um canal através do qual os financiadores podem implementar programas dos quais podem beneficiar. Esses financiadores são cada vez mais entidades publico-privadas (GAVI, CEPI) e privadas, com o segundo maior financiador da OMS a ser atualmente um carismático empreendedor de software e investidor farmacêutico.

Ao ceder o poder à OMS, um Estado cederá o poder aos financiadores da OMS. Estes podem então lucrar através da imposição de uma abordagem cada vez mais centralizada e baseada em produtos de base que a OMS está agora a adoptar.

Os Estados democráticos têm sistemas que garantem que aqueles que têm permissão para exercer poder sobre os cidadãos o façam apenas face à vontade dos cidadãos, estando sujeitos a tribunais independentes em casos de desvios. Isto é necessário para enfrentar a corrupção que sempre surge, pois as instituições são dirigidas por seres-humanos. No entanto, como outros ramos das Nações Unidas, a OMS responde a si mesma e à geopolítica da AMS. Mesmo o Secretariado da ONU tem influência limitada, já que a OMS opera sob a sua própria constituição.

A falta de responsabilidade alargada da OMS é demonstrada no seguinte exemplo: ninguém será responsabilizado pelos quase um quarto de milhão de crianças que a UNICEF estima terem sido mortas pelas políticas que a OMS promoveu no sul da Ásia ou pelos 10 milhões de meninas forçadas ao casamento infantil pelas políticas de Covid. Esta falta de responsabilização pode ser aceitável se uma instituição estiver simplesmente a dar conselhos, mas é completamente inaceitável para qualquer instituição que tenha poderes para restringir, mandar ou mesmo censurar os cidadãos de um país.

Antes do influxo de dinheiro privado, a OMS concentrava-se em doenças infeciosas endémicas, como a malária, a tuberculose e o VIH/SIDA. Estas doenças encontram-se fortemente associados à pobreza, assim como as doenças decorrentes da desnutrição e da falta de saneamento. A experiência em saúde pública diz-nos, refere o especialista norte-americano David Bell, ex-funcionário da OMS, que abordar estas doenças evitáveis ou tratáveis é a melhor forma de prolongar as vidas e promover uma boa saúde sustentável. Estas doenças são abordadas de forma mais eficaz por pessoas no terreno que têm conhecimento local de comportamento, cultura e epidemiologia da doença, e esta abordagem envolve capacitar as comunidades para gerir a sua própria saúde. A OMS  enfatizou outrora essa descentralização, defendendo o fortalecimento da atenção primária. Era consistente com a luta contra o fascismo e o colonialismo, que caracterizou a época em que a OMS surgiu.

Já as abordagens centralizadas de saúde exigem que as comunidades e os indivíduos cumpram ditames que ignoram a heterogeneidade local e as prioridades comunitárias.

Conforme constata David Bell, os funcionários da OMS raramente são especialistas. A experiência durante os surtos de gripe suína e ébola na África Ocidental em 2009 demonstrou isso. Muitos passaram décadas sentados num escritório e têm experiência mínima na implementação de programas ou no gerenciamento prático de doenças. As quotas nacionais e o nepotismo associado às grandes organizações internacionais significam que a maioria dos países terá muito mais experiência dentro das suas fronteiras do que existe numa burocracia fechada em Genebra.

A (des)responsabilização social do Tratado Pandémico

As novas propostas da OMS levarão à criação de uma burocracia internacional com financiamento significativo. O tratado proposto estipula que os países dediquem pelo menos 5% dos seus gastos atuais com saúde à prevenção, preparação, resposta e recuperação de sistemas de saúde pandémicos. Embora esse dinheiro seja gasto dentro do país, a decisão sobre o que pode ser gasto será feita pela OMS. A instituição passará a decidir também o tamanho dessa percentagem e se ela muda com o tempo.

O artigo 19 do tratado proposto diz ainda que as partes devem “comprometer-se a alocar, de acordo com suas respectivas capacidades, XX% do seu PIB para cooperação internacional e assistência na prevenção, preparação, resposta e recuperação de sistemas de saúde pandémicos”. Ainda não há clareza sobre qual será essa percentagem.

O orçamento anual da OMS atualmente é de cerca de US$ 3,6 mil milhões. O plano faz referência a um montante de US$ 31 mil milhões por ano para este trabalho. Isso quer dizer que a OMS está a propor gastar dez vezes seu orçamento atual puramente no planeamento da próxima pandemia. Para colocar em perspectiva, US$ 4,3 mil milhões foram gastos globalmente no tratamento da malária. Estes fundos centralizados seriam direcionados para várias iniciativas da OMS, incluindo :

 – Rede global de suprimentos e logística pandémica da OMS

 – Acesso a patogénios da OMS e sistema de compartilhamento de benefícios — grande ênfase em vários laboratórios a realizar sequenciamento genómico para um banco de dados centralizado;

 – Exercícios de mesa multipaíses (por ex Evento 201) ou regionais a cada dois anos

 – Uma ‘força de trabalho de emergência de saúde pública global’ para conter surtos – com uma rede de instituições de treino a partir da qual serão implantados;

 – Um mecanismo de compensação global para lesões resultantes de vacinas pandémicas (para um ‘novo’ vírus, a única solução que pode ser considerada pelos promotores de vacinas é (obviamente) uma vacina);

 – A atual definição de pandemia da OMS requer apenas “novidade”, sem exigência de gravidade .

O Tratado Pandémico faz uma declaração de que as partes devem garantir que os benefícios das medidas de prevenção da pandemia superem os custos. Mas como podemos encontrar benefícios que superem o gasto de dezenas de milhões de euros? Só o microbiota intestinal humano tem mais de 100 triliões de microorganismos. Investir fortunas à procura de algo novo é praticamente certo que o irão encontrar.

O tratado exige ainda que, para todos os produtos pandémicos de testes, EPI, vacinas e terapêuticas, 20% vão diretamente para a OMS.

Uma cláusula do tratado é dedicada à prestação de contas. A cláusula inteira é dedicada à responsabilidade dos estados-nação sem uma única menção de qualquer responsabilidade da própria OMS. Na verdade, não haverá prestação de contas.

O tratado estabelece um período de dois anos após a assinatura, durante o qual um país não pode sair. Depois disso, há um requisito para o período de aviso prévio de um ano. Isso significa que a assinatura do tratado comprometerá um país com gastos mínimos de três anos.

O dinheiro dos contribuintes será gasto sem prestação de contas e haverá pouco controle sobre quanto é gasto dessa forma.

A entrada em cena dos metadados e a vigilância

As emendas ao Regulamento Sanitário Internacional e o tratado proposto também exigirão um amplo compartilhamento de dados. Superficialmente, os requisitos são para compartilhamento de dados num contexto epidémico, com ênfase particular em dados de sequências genómicas.

A alegada justificação para isto é que “não existe um sistema eletrónico padronizado e reconhecido internacionalmente para permitir a transferência segura e protegida de dados entre passageiros e as autoridades de saúde competentes de um Estado Parte para fins de rastreamento de contactos, no caso de uma doença infecciosa relatada”.

A questão que se coloca é: por que razão precisamos de um órgão supranacional envolvido nos formulários de localização de passageiros, haja ou não risco de doença infeciosa? Os dados sobre os passageiros que chegam são um assunto para a nação envolvida.

Na verdade, a recolha desses dados a nível supranacional violaria as regras atuais do GDPR da UE, que impedem estritamente a recolha de dados que não são necessários para uma finalidade específica.

Especificamente, o Artigo 23 diz que os formulários de localização de passageiros devem ser produzidos em formato digital que atendam aos requisitos de interoperabilidade da OMS. Também especificam que deve haver “salvaguardas para reduzir o risco de abuso e falsificação”, sugerindo a recolha de identificadores biológicos. Continua no Artigo 35: “ Os documentos digitais de saúde devem incorporar meios para verificar sua autenticidade por meio da recuperação de um site oficial, como um código QR.”  No artigo 36, eles especificaram um requisito “para certificados digitais de vacinação ou profilaxia”.

Dizem-nos que tudo isto é “para fins de rastreamento de contactos”. Mas como será realmente usado?

Em junho de 2023, Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da OMS, anunciou o lançamento de uma “rede global de certificação digital em saúde” , com base no “sucesso do sistema da UE”. Continuou dizendo que seria expandido para incorporar “resumos de pacientes internacionais”. Os registros médicos são pessoais e privados mas aparentemente vão começar a ser necessários para viajar.

A UE anunciou “o Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem” que estará operacional em 2024. Isso significa que os cidadãos que viajem na Europa precisarão de um visto de viagem e especificarão que “ o pedido será recusado se o requerente… for considerado representar… um alto risco epidémico”.

A vida pelo ecrã (ou debaixo da terra)

Uma das ideias inerentes à digitalização do mundo é passar a fazer viagens por realidade virtual. Deste modo, será o argumento, haverá menos pegada de carbono e a pessoa terá na mesma a “experiência”. Pergunto-me se não terá o efeito oposto. Estudos em torno da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima apontam que, por onde a imagem passa, há uma tendência de haver um afluxo de turistas dessas terras nos anos seguintes a Fátima. Quer-se “agradecer” a passagem da virgem com uma visita à sua casa. Logo capacetes de realidade virtual a darem uma pseudo experiência de viagem podem ter o resultado oposto ao esperado e aumentar ainda mais o desejo de viajar a quem estava conformado à sua existência. E o que acontecerá quando esse desejo for impedido por uma classificação sanitária de impeditivo de deslocação, sobretudo quando estão em causa questões espirituais como a religião?

Hannah Arendt afirmou que o seu mestre, Martin Heidegger, havia sucumbido ao mesmo vício de Platão. De tanto se perder no mundo das ideias, a olhar para as estrelas, havia caído no precipício. Heidegger, um dos grandes filósofos do seu tempo, aderiu ao partido nazi, apoiando Hitler e renegando o seu respetivo mestre, Edmund Husserl, pai da fenomenologia. Para Arendt, perdera-se no próprio pensamento, como no nosso filme os cientistas isolaram-se nas profundezas da terra.

Não se colocam em causa as boas obras e o bom coração de quem criou as medidas de gestão pandémica. O problema é ver-se a saúde como um produto, só possível de ser gerida mediante a venda de outros produtos. Ao introduzir a saúde numa lógica corporativa capitalista, acaba-se a olhar para a saúde financeira dos envolvidos, não para a saúde global.

É o princípio que está em causa: quem quer produtividade não pode ter saúde, caso contrário o nosso tempo não seria a época das depressões e o capitalismo não arrastaria atrás de si tantos problemas com os trabalhadores.

Olhemos para os homens antes de nos perdermos nas estrelas. As próximas gerações vão agradecer-nos.

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