A Ericeira está cheia de turistas, a maioria estrangeiros. Portugueses há poucos e, daqui em diante, haverá menos ainda, depois do encerramento do parque de campismo.
A Câmara Municipal de Mafra quer remodelar o parque e decidiu fechar para obras. O problema é que há dezenas de utentes deste parque de campismo que lançaram âncora ali há muitos anos e, agora, não têm para onde ir.
Não falamos apenas de campistas. Há muitos casos de pessoas que habitavam no parque a tempo inteiro. Ali era a casa deles. Não se trata apenas de pessoas que gostam de ar livre e contacto com a natureza. Muitos dos residentes são pessoas pobres, sem capacidade para pagar as rendas de casa que hoje os senhorios pedem. Pessoas que juntaram umas moedas e compraram roulottes em terceira mão, ou as chamadas mobile-homes (casas móveis) ou que viviam, simplesmente, em tendas.

A maioria destes residentes são reformados com pensões baixas ou desempregados. Viver num parque de campismo não sai caro. A diária é a preços acessíveis e não há contas de água e luz para pagar. Agora, andam à procura de novo lugar para viver. O que não é fácil de encontrar. E por isso protestam.

A Câmara Municipal de Mafra tem tido uma atitude de frieza perante estas dificuldades. Até agora, limitou-se a prorrogar o prazo para os campistas retirarem os seus equipamentos. Mas, depois de abril, o que lá estiver será levado coercivamente pelos serviços camarários para outro lugar.
Os campistas dizem que se a autarquia tem um lugar onde esses equipamentos possam ficar guardados, nem que seja temporariamente apenas, poderia disponibilizar esse serviço em vez de optar por medidas coercivas e de tomada de posse das roulottes, que os campistas consideram ser um abuso de poder.
A autarquia diz, ainda, que o parque de campismo é um local de lazer, para férias, mas não local para residência permanente. Ninguém contesta isto, mas a verdade é que o parque tem servido de habitação permanente e nunca a Câmara Municipal impediu essa utilização. Aliás, essas pessoas têm contratos anuais de permanência no parque. Contratos sempre renovados, até que em 2023 não foram.
