Uns e Outros

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Na fila do supermercado uma senhora brasileira conta à menina da caixa: ‘Imagina que trabalhava lá há quatro anos. E despedida assim, sem mais, porque contratou uma rapariga ucraniana. Tenho três filhos e sou sozinha’. ‘Mas porquê?’, perguntou a menina da caixa. ‘Que justificação te deu?’. E a senhora brasileira: ‘Dão 280 euros a quem contratar pessoas da Ucrânia’. A conversa seguiu com várias considerações sobre refugiados e emigrantes. Confesso que só prestei atenção quando a senhora, obviamente empregada doméstica, disse: ‘mas agora quem vai decidir sou eu!’. Já a pagar as minhas compras, perguntei à funcionará da caixa, que conheço há mais de um ano, o que é que a senhora despedida vai decidir. Eis a explicação: ‘a patroa despediu-a, ao fim de quatro anos. Mas a nova empregada (pela qual recebe 280 euros de subsídio) não faz trabalhos pesados, como aspirar e lavar chãos’. Diante do meu ar espantado (eu só preciso de empregada exactamente para fazer os trabalhos pesados), acrescentou: ‘E metade do tempo de trabalho fica sentada à mesa a tomar o pequeno-almoço e o almoço. Por isso, a dona da casa decidiu ligar à senhora brasileira para voltar e ajudar a senhora ucraniana a fazer a limpeza toda da casa’. Vim embora do supermercado.

Incrédula, perguntei a uma amiga que trabalha no SEF se isto era verdade. Confirmou-mo. Com espanto, contei a um amigo que vive no Porto. Ele também me relatou a sua história: homem solidário e de posses, disponibilizou a uma associação de refugiados uma casa que tinha vazia. Foi ocupada por uma senhora e dois filhos pequenos. ‘Tudo muito bem-educado, incluindo as crianças’. Mas, um dia, chegou à casa e estava lá um homem que lhe foi apresentado como sendo o pai das crianças, que já não era seu marido. Então, mas os homens não têm de ficar na Ucrânia? Aparentemente este senhor já cá vivia, mas a ex-mulher e os filhos beneficiam do estatuto de refugiados, que também lhe está a servir a ele, pese embora o facto de não o ser. O meu amigo recorda-se bem dos problemas que no final dos anos 90 e no início deste século aconteceram com as máfias do Leste e, naturalmente, está receoso.

Os portugueses foram imigrantes durante muitos anos. Ainda são. Talvez por isso sejamos tão sensíveis aos que vêm de fora. Ai somos? E como tratamos os nossos emigrantes, por exemplo, das ex-colónias? E aqueles que não morrem antes de chegarem à Europa, de barco, em situação miserável? Esses vão para campos de refugiados… Fico parada a pensar que há uns e os outros.

E mesmo em relação aos refugiados, onde estão os sírios, os do Afeganistão e tantos outros? Parece-me que Portugal, a Europa em geral, se arrisca a tornar-se num imenso campo de refugiados e emigrantes, bem como de oportunistas e criminosos responsáveis por tráfico humano.

É bom que as autoridades nacionais e as europeias abram bem os olhos e comecem a fazer a triagem dos que são efectivamente e dos que aparentam ser. Sendo certo que há sempre uns e os outros…

1 COMENTÁRIO

  1. Tenho de todos o motivos para gostar da exposição . . . Pois como sabe , sofro na pele, pelo 4°ano, as consequencias do comportamento de “uns e outros” conforme relata

    Um forte abraço

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