Lisboa, negociatas na feira

Se os políticos fossem responsabilizados pela má gestão do interesse público, muitos iriam sentar o rabo no banco dos réus. Eventualmente, a cela 44 da cadeia de Évora teria já tido muito mais ocupantes importantes.

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Quem passa hoje por Entre Campos, em Lisboa, e tem memória do que ali existiu, não pode deixar de sentir alguma revolta ao olhar para o descampado que existe entre o viaduto ferroviário e a praça de Entre Campos.

Ali existiu a Feira Popular durante décadas. A feira era um local querido dos lisboetas, um local de diversão e era, também, o ganha pão de centenas de famílias. Restaurantes e diversões eram o prato forte da Feira Popular, mas também lá havia um teatro e espaços comerciais.

A feira fechou em 2003. Santana Lopes era, então, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e nunca se percebeu bem o que quis fazer. A verdade é que o desmantelamento da Feira Popular obrigou muita gente a mudar de vida, muitos daqueles negócios foram à falência, a Câmara Municipal teve de indemnizar a Fundação O Século (as receitas de bilheteira da feira revertiam para a obra social desta fundação) e, mais tarde, para evitar uma provável derrota judicial, comprou o terreno à construtora Bragaparques por 101 milhões de euros.

A Câmara Municipal de Lisboa ainda não cumpriu com a promessa de refundar a Feira Popular, ninguém sabe ao certo quando isso irá acontecer. Lisboa ficou uma cidade mais triste, o desaparecimento da feira levou por arrasto ao desaparecimento do Parque Mayer, fruto das mesmas negociatas falhadas de Santana Lopes com especuladores imobiliários. Um enorme prejuízo para a cidade que ficou sem montanha russa, sem roda gigante, sem poço da morte e sem teatro de revista. Santana Lopes devia ter sido responsabilizado por tantos erros. Nunca foi. Sem saber como, ainda chegou a primeiro-ministro, de triste memória igualmente.

Anos depois, a autarquia colocou o descampado em leilão. Adivinhem quem comprou aquilo tudo. Sim, foram os chineses da Fosun, através da Fidelidade Property onde a Caixa Geral de Depósitos tem 15% de participação. Na altura, os chineses prometeram erguer ali uma “nova centralidade”, um palácio de betão e vidro para a nova sede das suas empresas em Lisboa, e um paraíso imobiliário para tipos ricos e, dizem as más línguas, para lavandarias de dinheiro. O mistério é que até agora não fizeram nada e já passaram 7 anos. Não é possível que tenham gasto 274 milhões de euros só para fazer um jeito a Fernando Medina.

1 COMENTÁRIO

  1. Era as sardinhadas em familia, as noites de fim de semana bem passadas da minha juventude, estes criminosos hāo-de ter o seu pago, vergonha, vergonha!

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