Gorgoleja a água na fonte, minha única companhia sonora, neste começo de tarde, de breve sesta retemperadora. O Spike, labrador, dorme a meus pés.
Leve, a aragem que sopra. Três pétalas de rosas se deixam soltar, volteiam como que a escolher onde cair. Poisam no largo limbo verde da hortênsia amiga. Acomodam-se. Sem um lamento. É essa a vida esperada. Por longos dias cumpriram o sonho de embelezar o jardim, oferecer cor a quem as admirava. Acolheu-as a folha grande da hortênsia. Ali vão ficar, enquanto nova aragem lhes não venha dizer ser hora da definitiva partida.
De quantas grandes folhas dessas, verdes de esperança não necessitam hoje os humanos a fugir dos drones, vítimas de cataclismos, escorraçados pela ganância!… Lição boa a da acolhedora hortênsia.
Eugénia viu a folha e viu as pétalas nesse aconchego. E escreveu, na saudação que só os Poetas sabem ter:
Sorridono le foglie dell’ortensia
svellate al sole
verde tripudio di Primavera
raccolgono piccole lacrime
ROSSO AMORE
Roma, 23 aprile 2025
Também eu não resisti e passei para português a mensagem vinda de Roma, nestes dias prenhe de significado:
Primaveril folguedo verde
limbos d’hortênsia sorriem
assim desvelados ao sol
lágrimas miúdas acolhem
de mui escarlate AMOR
Desta vez, não ousei desligar a fonte. Quis que o seu gorgolejar deixasse ecoar, tarde afora, a recordação dos momentos. Pétalas de rosa caídas, que mui serenas se acolhem nos largos limbos verdes das hortênsias amigas…