Pétalas caídas

Vi aquele bem alto edifício desconjuntar-se por inteiro; ficar, num ápice, reduzido a insignificante monte de escombros. Horrível, porque sepultara gente. Desta vez não fora drone assassino nem implosão voluntária: o terramoto! Num abrir e fechar de olhos. Quanta documentação, quantos sonhos, quantas histórias a voragem engoliu. A tão dificilmente aceitável precariedade de tudo.

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Gorgoleja a água na fonte, minha única companhia sonora, neste começo de tarde, de breve sesta retemperadora. O Spike, labrador, dorme a meus pés.

Leve, a aragem que sopra. Três pétalas de rosas se deixam soltar, volteiam como que a escolher onde cair. Poisam no largo limbo verde da hortênsia amiga. Acomodam-se. Sem um lamento. É essa a vida esperada. Por longos dias cumpriram o sonho de embelezar o jardim, oferecer cor a quem as admirava. Acolheu-as a folha grande da hortênsia. Ali vão ficar, enquanto nova aragem lhes não venha dizer ser hora da definitiva partida.

De quantas grandes folhas dessas, verdes de esperança não necessitam hoje os humanos a fugir dos drones, vítimas de cataclismos, escorraçados pela ganância!… Lição boa a da acolhedora hortênsia.

Eugénia viu a folha e viu as pétalas nesse aconchego. E escreveu, na saudação que só os Poetas sabem ter:

Também eu não resisti e passei para português a mensagem vinda de Roma, nestes dias prenhe de significado:

Desta vez, não ousei desligar a fonte. Quis que o seu gorgolejar deixasse ecoar, tarde afora, a recordação dos momentos. Pétalas de rosa caídas, que mui serenas se acolhem nos largos limbos verdes das hortênsias amigas…

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