Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, diz que a União Europeia (UE) optou por alimentar a guerra na Ucrânia, em vez de encorajar os esforços para um acordo de paz. Mais ucraniana que os próprios ucranianos, a Comissão Europeia quer que os cidadãos da comunidade aceitem que as suas economias depositadas nos bancos sejam utilizadas para comprar armas aos americanos para as enviar para a Ucrânia.
Este tipo de políticas são preciosas para o crescimento da extrema-direita na Europa, com um discurso completamente contrário onde se apela a um entendimento entre as partes de modo a evitar uma guerra de proporções dantescas.
Aparentemente, a UE pugna pela defesa dos princípios democráticos e da soberania, ao considerar que a invasão russa viola o direito internacional e, assim, quer evitar que um país consiga expandir território pela força, o que poderia criar precedentes perigosos. Mas o mesmo fio de pensamento não se aplica à ocupação da Palestina e ao extermínio dos palestinianos, genocídio que se desenrola em simultâneo com a guerra na Ucrânia. Ou seja, é possível que a UE tenha outro tipo de interesses que não sejam assim tão nobres.
O senso comum diz que a Rússia não vai atacar mais ninguém. Primeiro, porque o argumento jurídico russo enquadrou a guerra numa “operação militar especial” com objetivos determinados que, uma vez cumpridos, não servem segunda vez, em princípio. Depois, porque a maioria dos países vizinhos já pertencem à NATO e ninguém acredita que a Rússia pense em desafiar uma coligação militar tão poderosa. Terceiro, porque uma escalada deste conflito acarreta o risco de uma guerra nuclear. Todos sabemos que as armas nucleares, à excepção das que foram utilizadas pelos EUA em 1945 em Hiroshima e Nagasaki, não são para serem usadas, servem apenas de dissuasão.
O cinismo europeu é evidente, na comparação dos casos da Ucrânia e da Palestina. A UE impôs sanções severas à Rússia, cortou laços económicos e forneceu armas à Ucrânia. Com Israel, a UE mantém relações comerciais e diplomáticas, limita-se a condenar inconsequentemente a ocupação de territórios palestinianos. A diferença de tratamento reflete hipocrisia e padrões duplos. E deixemos o racismo de fora desta discussão, para não azedar mais a converesa.
A verdade é que Estados europeus, muitos deles antigas potências coloniais ainda com muitos interesses económicos e geopolíticos em África, Ásia e América Latina, deveriam ter algum cuidado para não agravar a imagem que deixam que se implante pelo mundo fora. Mas a verdade é que a UE responde de maneira diferente a diferentes conflitos dependendo dos seus interesses e das relações com os envolvidos. Nem a justiça nem a democracia são para aqui chamadas.
E se pensarmos que quanto mais desgastada a Rússia estiver mais se aproximará da China, concluímos que a estratégia europeia é um bocado estúpida.
