O Castanheiro do Ouro

Entre o real e a lenda

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Não longe de Lamego, correndo para sul, fica a novel cidade de Tarouca, sede de um município cujos termos correm ao longo do rio Varosa que recolhe as águas das serras de Leomil e de Santa Helena e as despeja no Rio Douro, que depois as leva ao mar.

Terras fundas e generosas, jeitos de Terra da Promissão, propícias à agricultura e à criação de gado e a esse poético cultivo da baga dos sabugueiros. Ao vir da primavera ei-los a encher de flor a margem do rio e dos ribeiros limitando, em renques, os campos cultivados ou organizando-se, ao jeito de pequenos pomares, que já ocupam na região muitos hectares.

Deram o nome de Vale Encantado a estas terras antigas povoadas de lenda, onde as mouras são heroínas e os guerreiros cristãos, fundadores de uma terra que se chamou Portugal, deixaram largo rasto.

Ficamo-nos pela margem de um desses caminhos que atravessa o Vale Encantado. Por aí terá caminhado Ardinga, a romântica princesa de Lamego, nascida moura também, correndo, enamorada, em busca de D. Tedon, o cavaleiro cristão da sua paixão de menina.

imagem ilustrativa da princesa de lamego, Ardinga
imagem ilustrativa de D. Tedon

A LENDA

Há, no caminho, a duas léguas de Lamego, um povoado de alegre casario marginando a estrada, que recebeu o nome curioso de Castanheiro do Ouro.

Ninguém sabe a razão daquele nome, nem sequer a gente mais velha do lugar, nem o texto de qualquer cronista fez dele menção em pergaminho.

Corre o nome de geração em geração e é fácil imaginar que vem do tempo da mourama, que foi por ali senhora desses lugares, no tempo concreto do reinado do mouro Alboacém, pai de Ardinga.

Diz a lenda – e as lendas são sempre textos dourados pelo tempo… – que os Cristãos se tornaram, um dia, dominadores destes lugares e que os Mouros se retiraram à pressa para Sul, levando consigo as riquezas de que eram possuidores.

Mas houve um, cujo nome não sabemos. Era mercador e não pôde carregar todo o ouro e pedrarias que juntou. Por isso, antes de fugir, escondeu na toca aberta de um velho castanheiro – talvez onde o pica-pau fizera ninho – uma grande bola de ouro. Talvez um dia pudesse ali voltar para a levar. Assim terá pensado.

Mas aquele mouro, desterrado para o Sul, nunca mais pôde voltar.

O castanheiro, esse, cresceu. Tinha já mil anos e ainda dava rasas de castanhas.

E foi quando um pastor se aproveitou do tronco esburacado para nele descansar, numa tarde de calor, que lá achou a bola de ouro, deixada, há muito tempo, pelo mouro.

Não sabia, porém, o pastor que a bola tinha encanto – como os brincos e as pulseiras das mourinhas que haviam ficado encantadas nos outeiros.

Nenhuma voz se ouviu para o avisar. E, quando o pastor tomou a bola de ouro em suas mãos, logo ela em fumo se tornou.

Nunca mais foi o mesmo aquele pastor.

Vezes sem conto contava o pastor aquela história e, para fazer crer sua verdade, apontava a mancha negra que o lume fizera no tronco esburacado do castanheiro velho.

E tanta vez o pastor contou a sua história que o povo do lugar acreditou e deu por nome à sua terra o nome que para sempre lhe ficou e ainda é: Castanheiro do Ouro.

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