Com ou sem acordo que pare com a matança de palestinianos na Faixa de Gaza, Israel perdeu a guerra. Perdeu porque não conseguiu eliminar o inimigo. O Hamas continua operacional, mesmo se ficou sem milhares de militantes combatentes. A chacina indiscriminada de civis, com milhares de crianças mortas, apenas serviu para que os sobreviventes tenham aderido à organização. Afinal, o Hamas é a única estrutura palestiniana que se revelou suficientemente forte para resistir a 500 dias de bombardeamentos impiedosos que provocaram a destruição total das infraestruturas de Gaza.
Embora não se conheçam os pormenores do acordo que está em vias de ser aplicado, só o facto do primeiro-ministro Netanyahu ter sido forçado a aceitar aquilo que antes sempre rejeitou é a “bala de prata” do Hamas que trespassou o coração do judeu.
Quando os EUA aceitam que tal acordo deve ser assinado, mesmo que seja apenas para parar com a carnificina de gente inocente e ganhar tempo, o resto do mundo percebe que a guerra de Israel não tem, nunca teve, qualquer justificação. A destruição de hospitais e escolas, a morte de dezenas de milhar de crianças, de 50 mil civis, não pode ter qualquer justificação.
Mesmo contra a vontade dos sionistas que governam Israel, o Hamas acaba por sair reforçado deste conflito. Apesar de vitórias no campo de batalha, Israel não apresentou um programa político para substituir o Hamas nem removeu o grupo como força governante em Gaza. Israel não obteve conquistas políticas. Isso, na prática, anulou todos os seus avanços militares.
Muitas linhas vermelhas de Israel foram esquecidas, sobraram apenas as questões sobre a libertação dos reféns e a devolução dos corpos dos que entretanto faleceram. A vitória para o Hamas é significativa, mantém-se a “governar” a Faixa de Gaza, os inimigos reconheceram que não há outro interlocutor.
E o facto de Israel continuar a bombardear Gaza porque o acordo só entra em vigor domingo, só dá maior visibilidade à derrota que sofreu.
Esta guerra serviu, mais uma vez, para demonstrar que não são só as armas, nem apenas o poderio militar, que trazem a vitória. É a capacidade de resistir.