O Homem Quebrado é um livro muito especial porque é a homenagem de um escritor para outro escritor, de Tahar Ben Jelloun para Pramoedya Ananta Toer, escritor indonésio censurado, preso e proibido de publicar por denunciar grandes problemáticas sociais e políticas do seu país.
Neste livro de 1993, Tahar Ben Jelloun apresenta-nos a corrupção como o cancro que corrói os países, as sociedades, os homens…
É maravilhosa a maneira como a personagem principal nos é apresentada, num crescendo de angústia mas também de libertação… Um homem tímido em tudo menos na forma como negou ser corrompido pelo sistema. Até que um dia acaba, também ele, por se tornar “maleável”, num contexto social em que toda a gente se vai remediando como pode e em que a vida é isso, maleabilidade, termo utilizado para representar a corrupção numa sociedade que nada mais é do que um interminável jogo de cartas onde é preciso saber driblar, ir de um lado para outro, saltar obstáculos, contornar as dificuldades, anular as coisas inúteis como os escrúpulos e a má consciência…
Farto de ser tão pobre, cansado de não existir aos olhos dos outros, saturado de ser criticado pela própria esposa, acusado de não ter ambição, de viver uma vidinha acabada, de ser um homenzinho abafado pela sua integridade, acaba por cair em tentação e entra na engrenagem. Na vida, não se tem nada se não se arrisca nada… E ao arriscar sair da pobreza, ele sabe que a partir dali haverá uma vida antes do envelope e outra vida depois.
Mas será um homem corrupto um homem livre? A resposta é paradoxal porque o dinheiro embora sujo, parece dar asas. Liberta! O problema é saber exatamente qual o valor dessa liberdade. Quando as rugas lhe surgem no rosto de um dia para o outro, ele procura negociar com o espelho para que este lhe devolva outra imagem, a do homem honesto que sempre fora e que deixou fugir de si.
Tarde… Já nada há a fazer. Como todos os outros funcionários, também ele praticou a maleabilidade. Um livro sobre mais um homem maleável no mundo? De todo. O Homem Quebrado arrasta-nos consigo pelas angústias existenciais de um homem bom, preso na teia de um mundo onde o poder está do lado daqueles que fazem da indiferença uma virtude, desprezando pelo caminho os homens que morrem sem compaixão, sem consolo e sem serem compreendidos.
Eis a história de um homem que gostaria de poder voltar a ser aquela criança no terraço da sua infância aonde, de uma forma ou de outra, todos nós gostaríamos de poder regressar.