A GUERRA DOS CÍNICOS

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Se nos limitarmos a receber informação dos media portugueses, se não diversificarmos as nossas fontes de informação, corremos o risco de ficar mal informados. As televisões só enviam repórteres para o lado ucraniano e esses jornalistas não parecem ter nem vontade nem coragem (ética?) para filtrar a informação que lhes dão para ser transmitida. Funcionam como uma espécie de megafone de Zelensky, é a imagem que melhor retrata o que andam por lá a fazer os repórteres portugueses, salvo raras exceções (que nunca mais voltaram à Ucrânia).

Assim, convém ver, ouvir e ler o que se publica noutras paragens, sabendo que só transmitem o que lhes deixam transmitir, seja do lado russo ou do lado americano. Às vezes, vale a pena.

É o caso, parece-me, do artigo publicado no Washington Post, onde se dá conta de uma traficância que se mantém, apesar de todos os pacotes de sanções decretados pela NATO, UE, ONU, etc. A Rússia continua a fornecer petróleo e gás natural à Europa, os pipelines e oleodutos atravessam a Ucrânia e Zelensky não só permite como cobra a sua percentagem do negócio.

Tudo isto é um bocado surreal. Não só a Rússia continua a ter meios de financiar a guerra como a Ucrânia recebe uma percentagem.

O primeiro parágrafo do artigo diz assim: “Apesar da brutal invasão que matou dezenas de milhares de soldados e civis ucranianos e destruiu parte do país, a Ucrânia continua a permitir que o petróleo e o gás russos atravessem o seu território para fornecer países vizinhos – gerando receita para Kiev e para Moscovo.”

O artigo é longo, bastante interessante, ilustrado com mapas dos gasodutos e pipelines que partem da Rússia e atravessam a Ucrânia, para levar energia para as industrias e lares da Alemanha, Polónia e países vizinhos.

Ou seja, o que se passou com o gasoduto submarino russo Nordstream, que foi rebentado com umas cargas de dinamite, é que não interessava que se mantivesse em funcionamento porque não pagava “portagem”. Não passava na Ucrânia.

Apesar da retórica de guerra que traz Zelensky todos os dias para as redes sociais e canais de televisão do mundo ocidental, com apelos de incremento das sanções económicas contra a Rússia e pedidos constantes de mais armas e armas mais poderosas, a Ucrânia justifica esta situação dizendo que “não tem escolha a não ser manter os acordos comerciais”. Segundo o autor do artigo, nos corredores da política europeia, Zelensky tem dito que, assim, consegue ter “alguma influência no Kremlin e que a manutenção em funcionamento dos pipelines e gasodutos evita que os russos ataquem essas zonas da Ucrânia”. É difícil imaginar maior cara-de-pau, diria o Presidente Lula se lhe pedissem para comentar esta situação.

Mas, se estar ao lado de um pipeline é o local mais seguro em toda a Ucrânia, onde seguramente não caem bombas, não se percebe porque razão ainda não vimos nenhum jornalista português explicar isto tim-tim por tim-tim num intrépido direto televisivo.

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