OLHA O BALÃO !

Notícias “estranhas” sobre balões espiões e outros objetos voadores não identificados, mas abatidos, suscitaram uma curta entrevista com Joaquim Fernandes, historiador e investigador da Universidade Fernando Pessoa, coordenador do Projeto Stellar - Observatório Internacional de Fenómenos Anómalos, projeto englobado na ICER Association (International Coalition for Extraterrestrial Research), que conta com membros de 30 países de 5 continentes.

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Para Joaquim Fernandes, apesar dos avistamentos de objetos voadores não identificados terem quase deixado de ser notícia, tem havido novos casos, para além dos chamados balões espiões.

Joaquim Fernandes refere 171 casos registados, “de acordo com o relatório anual do ‘Departamento de Resolução de Anomalias de Todos os Domínios (AARO)‘, departamento do Pentágono fundado no início de 2022 para investigar supostos avistamentos de UAP (sigla para Unidentified Aerial Phenomena, em inglês, o que significa fenómenos aéreos não identificados) por testemunhas e meios militares.

Joaquim Fernandes, Duas Linhas em 19 de abril de 2022

Ou seja, nos EUA os militares voltaram a dedicar alguma atenção a estes casos, provavelmente na perspetiva de terem origem em potências militares estrangeiras e não pela hipótese de serem de origem extraterrestre.

P. – Depois dos casos recentes de balões espiões abatidos, voltaram a surgir relatos na internet sobre avistamentos de OVNIS. Considera que se trata de mero oportunismo dos militantes da causa OVNI ou há alguma razão nesta relação?

R. – Embora os militares dos EUA não tenham revelado a propriedade de nenhum dos três objetos aéreos abatidos em fevereiro, os governos dos EUA e do Canadá sugeriram um “padrão” entre esses objetos e o balão espião supostamente chinês entretanto abatido. Não descartam, contudo, a possibilidade de que todos os artefactos façam parte de um esforço de espionagem de várias agências estrangeiras, agora mais exacerbada no contexto da guerra e da geopolítica atual.

John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, informou numa conferência de imprensa, a 13 de fevereiro, que a China vigia os EUA com balões espiões de alta altitude desde há vários anos – pelo menos desde a administração de Donald Trump – mas que esses objetos nunca haviam sido detectados antes.

A associação desta fenomenologia aérea suspeita no contexto geopolítico actual favorece, não apenas a confusão com potenciais casos de objectos aéreos mais sofisticados e complexos do que meros instrumentos de espionagem, mas estimula de certo modo a atenção do público informado desta situação a olhar mais atentamente os céus e a buscar algum sinal que venha a validar o imaginário ET.  Mas, como sugere Jack Weinstein, professor de internacional na Universidade de Boston e tenente-general aposentado da Força Aérea dos EUA, “se alguma civilização tiver inteligência e capacidade científico-técnica suficiente para viajar para a Terra ou a qualquer outro planeta distante, então seriam igualmente capazes de evitar ser intercetada e apanhada” …

John Kirby em 6 de fevereiro de 2023

P. – Pelo menos um dos balões apanhados a sobrevoar espaço norte-americano foi abatido em território americano, em condições de ser recuperado e analisado. Sabe alguma coisa sobre isto? Ou mantém-se tudo em segredo?

R. – Pelo que se conhece, no período de duas semanas, em fevereiro de 2023, os pilotos militares dos EUA abateram quatro objetos misteriosos que sobrevoaram os Estados Unidos e o Canadá. O primeiro desses objetos, sabemo-lo, seria um balão espião chinês de 200 pés de altura (60 metros), flutuando a aproximadamente 60.000 pés (18.200 metros) sobre o Alasca, no final de janeiro. Os militares rastrearam o balão por vários dias enquanto ele flutuava para sudeste em todo o país, eventualmente derrubando-o na costa da Carolina do Sul com um caça a jato em 4 de fevereiro.

Os outros três objetos – que incluem um cilindro do tamanho de um carro abatido sobre o território gelado de Yukon, no Canadá, e um estranho objeto octogonal que caiu nas águas do Lago Huron – permanecem não identificados e foram todos destruídos entre 9 e 12 de fevereiro. Seriam menos sofisticados do que o balão espião, sendo que o último engenho flutuou entre altitudes de 20.000 e 40.000 pés (6.000 e 12.000 m). Segundo a Casa Branca, foram abatidos porque voavam em espaço aéreo usado por aviões comerciais, o que aumentava o risco de segurança do tráfego.

Esses inesperados incidentes em sucessão levantam de facto essa questão: por que o governo está repentinamente a detectar – e a destruir – tantos objetos não identificados no espaço aéreo dos EUA e do Canadá? Existem realmente mais objetos “lá em cima” do que o normal? Aparentemente as forças miliares e de segurança dos EUA têm vindo a escrutinar mais de perto o espaço aéreo nessas altitudes, aprimorando os radares, o que pode explicar, pelo menos em parte, o aumento de objetos detetados e intercetados em fevereiro. De facto, após a detecção do balão de vigilância chinês no final de janeiro, os militares dos EUA ampliaram a busca de objetos aéreos estranhos em altitudes semelhantes, aparentemente com sucesso.

avião de caça F-16 da Força Aérea dos EUA

P. – O segredo sobre este tipo de eventos é um pau de dois bicos. Por um lado, percebe-se que haja sigilo em situações de segurança do Estado, por outro o segredo alimenta todo o tipo de especulações teóricas que, ao fim de um tempo, apenas contribuem para descredibilizar as teorias de que “não estamos sozinhos no Universo”. É um dilema sem solução?

R. – Pelos ecos que vão escapando entre as linhas dos recentes comunicados da nova agência do Pentágono para o estudo dos UAP’s, a prioridade é sempre o da “segurança do espaço aéreo do país” e só depois a eventual recolha e análise ponderada de eventuais sinais e rastos físicos de hipotéticos engenhos com capacidades muito além da nossa aeronáutica. Por tudo isto, não é de estranhar que se conheçam cerca de três dezenas de projetos de investigação incentivados pelo governo dos EUA – os chamados “Black Projets” – que estão a apostar em novos (meta)materiais furtivos e que possam escapar aos meios de detecção comuns e iludir a sua visibilidade e novos meios de propulsão, muito mais capazes dos que as fórmulas químicas atuais.

Essa incógnita que destaca – estamos ou não sozinhos no Universo? – é uma questão filosófica que vai perdurar. Se, por hipótese académica, passarmos doravante a poder identificar e explicar todos os fenómenos e objectos aéreos invulgares que se passeiam pelos nossos céus, o problema da existência de outras potenciais civilizações, culturas exo-terrestres com milhões de anos de avanço face à Humanidade, continuaria a colocar-se. Como uma questão filosófica, central e existencial do homo sapiens neste pequeno, mas belo, humilde planeta em redor de uma estrela, ela própria na periferia de um braço da nossa galáxia, a Via Láctea, mais uma apenas, entre infindáveis milhões de aglomerados iguais no Cosmos infinito. Aí, sim, quando obtivermos a resposta, findará então a nossa sobranceria antropocêntrica e começará a nossa maior desilusão por deixamos de ser o centro do Universo.

A histeria dos balões bateu forte. Durante uns dias, objetos arredondados encontrados inesperadamente nem precisavam de voar para causar alarme. Aconteceu no Japão, por exemplo, com uma simples boia marítima que deu à costa numa praia deserta. O local foi isolado, o objeto foi inspecionado, analisado, revirado, até ser considerado inofensivo.

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