Com um passado distante marcado pela luta pela igualdade de género, décadas antes do conceito se banalizar, mulher feita, decidi ir fazer um mestrado em Estudos sobre as Mulheres na Universidade Aberta.
Entre uma dezena de propostas apresentadas para a dissertação, teve especial acolhimento a análise de revistas femininas. Contei com a orientação de uma feminista militante, a Professora Doutora Lígia Amâncio. Tendo em conta o meu passado, eu presumia ser já uma autêntica feminista. Nas aulas, bem como na posterior orientação da dissertação, eu tentava antecipar-me ao seu pensamento. Grande presunção! Quando eu lá chegava, já ela de lá vinha!
Revistas femininas não eram bem a minha praia. Muita exibição do corpo, demasiado corpo. Mas tinha curiosidade pela Cosmopolitan, revista surgida no final do século XIX nos Estados Unidos, veículo de ideologia ambígua, entre feminina e feminista, pelo que 12 números da edição portuguesa da Cosmopolitan foram parte do corpo empírico do meu estudo.
Na viragem do século, as teorias feministas eram mais do que muitas, e do que me foi possível conhecer, esta e outras revistas eram corretamente referenciadas como femininas. Traduziam um dos pontos de chegada de décadas de luta, o neofeminismo, que pode resumir-se assim: “Ok. Agora, que homens e mulheres já são iguais, cada qual pode voltar para o seu lugar”!
Nas academias e em círculos restritos, o género tornara-se o conceito da moda. Mas a comunidade LGBT ainda não era +, e na vida real, a valorização das características de género continuava desigual. Um homem grisalho era um charmoso, uma mulher grisalha continuava a ser uma velha.
Já na segunda década do século XXI, emerge por essa Europa fora o movimento Going Gray. Aderir era uma questão de tempo. Ele se encarregaria de tornar o grisalho feminino também charmoso. Estamos na terceira década e os ecrãs já são pontualmente ocupados também por cabelos grisalhos de mulheres. Este hábito vai eliminando o juízo negativo ‘cabelo grisalho igual a velha’.
Esta luta parece estar ganha. Demorou décadas, séculos. As tintas boicotaram longamente o Going Gray. Torcemos para que as justíssimas reivindicações de docentes e outros profissionais, cujas imagens das lutas têm enchido os nossos ecrãs, sejam mais rapidamente satisfeitas. Para que não tenhamos, quiçá, de vir a lutar também pela igualdade de charme das cabeças rapadas masculinas!