Judite de Sousa foi ao programa “Alta definição” e sabia ao que ia. Daniel Oliveira nunca brincou em serviço, nem mesmo quando era ainda adolescente e se iniciou na televisão. O diretor-geral de Entretenimento da SIC é um especialista em entrevistas “delicadas e profundas”, conforme se lê no site da SIC onde se promovem os episódios desta entrevista.
Falamos em episódios porque é disso que se trata. Depois de emitida, a entrevista invadiu as redes sociais e os sites de Informação, retalhada por temas e níveis emocionais.
Há umas partes dedicadas à saída intempestiva de Judite de Sousa da TVI, mas o “sumo” é a fragilidade emocional da jornalista, as pulsões suicidas que diz sentir, o desgosto imenso de quem inesperadamente perdeu um filho. Em cada retalho da entrevista, uma ideia, uma frase se destaca. Alguns exemplos:
“Ninguém quer estar ao lado de uma pessoa que está em sofrimento psicológico” “Como é que estou viva?” “Não sei se vai haver velhice…” “Pessoas que eram próximas de mim diziam-me”: - ‘tu estás mal-educada, tu és agressiva’ “A depressão é que pode levar ao suicídio”.
A exposição emocional de Judite é uma espécie de exorcismo que ela faz a si mesma. É uma mulher que se sente sozinha e abandonada, injustiçada pelos acasos da vida. É uma pessoa em sofrimento. Ninguém gostaria de estar na pele dela.
Se é verdade que gostamos de ver o sofrimento de outros, o programa de Daniel Oliveira deve ser um expoente em audiências. Não lhe faltam lágrimas ao canto do olho, alguma baba e ranho. Quase todos os canais de televisão procuram este tipo de momentos, mas no “Alta Definição” é a principal característica do programa.
A Judite de Sousa, enquanto jornalista, demonstrava um certa arrogância intelectual, e a sensibilidade que revelou então perante muitos acontecimentos que relatou, não diferia da forma como ela se queixa ter sido tratada, quando a notícia passou a ser em torno de um acontecimento da sua vida pessoal. Um conselho do velho ditado português “Nunca cuspas para o ar”. O jornalismo de hoje vive das dramatizações que explora para gerar audiências ou vender mais jornais todos os dias, a uma população maioritariamente frustrada que se alimenta de tragédias, mexericos e intrigas. A igreja tem cada vez menos fiéis e o jornalismo vai pelo mesmo caminho.