ALTA DEFINIÇÃO, baba e ranho

Tinha 18 anos, quando debutou na RTP, como repórter, em 1978. Depois foi apresentadora de noticiários e programas de debate e entrevistas. Foi sub-diretora na RTP, diretora na TVI de onde saiu em 2019 com uma indemnização de 1 milhão de euros. Voltou dois anos depois, para participar no nascimento da CNN Portugal. Tudo lhe correu bem, até começar a correr mal. Acontece aos melhores.

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Judite de Sousa foi ao programa “Alta definição” e sabia ao que ia. Daniel Oliveira nunca brincou em serviço, nem mesmo quando era ainda adolescente e se iniciou na televisão. O diretor-geral de Entretenimento da SIC é um especialista em entrevistas “delicadas e profundas”, conforme se lê no site da SIC onde se promovem os episódios desta entrevista.

Falamos em episódios porque é disso que se trata. Depois de emitida, a entrevista invadiu as redes sociais e os sites de Informação, retalhada por temas e níveis emocionais.

Há umas partes dedicadas à saída intempestiva de Judite de Sousa da TVI, mas o “sumo” é a fragilidade emocional da jornalista, as pulsões suicidas que diz sentir, o desgosto imenso de quem inesperadamente perdeu um filho. Em cada retalho da entrevista, uma ideia, uma frase se destaca. Alguns exemplos:

“Ninguém quer estar ao lado de uma pessoa que está em sofrimento psicológico”
“Como é que estou viva?”
“Não sei se vai haver velhice…”
“Pessoas que eram próximas de mim diziam-me”: - ‘tu estás mal-educada, tu és agressiva’
“A depressão é que pode levar ao suicídio”.

A exposição emocional de Judite é uma espécie de exorcismo que ela faz a si mesma. É uma mulher que se sente sozinha e abandonada, injustiçada pelos acasos da vida. É uma pessoa em sofrimento. Ninguém gostaria de estar na pele dela.

Se é verdade que gostamos de ver o sofrimento de outros, o programa de Daniel Oliveira deve ser um expoente em audiências. Não lhe faltam lágrimas ao canto do olho, alguma baba e ranho. Quase todos os canais de televisão procuram este tipo de momentos, mas no “Alta Definição” é a principal característica do programa.

1 COMENTÁRIO

  1. A Judite de Sousa, enquanto jornalista, demonstrava um certa arrogância intelectual, e a sensibilidade que revelou então perante muitos acontecimentos que relatou, não diferia da forma como ela se queixa ter sido tratada, quando a notícia passou a ser em torno de um acontecimento da sua vida pessoal. Um conselho do velho ditado português “Nunca cuspas para o ar”. O jornalismo de hoje vive das dramatizações que explora para gerar audiências ou vender mais jornais todos os dias, a uma população maioritariamente frustrada que se alimenta de tragédias, mexericos e intrigas. A igreja tem cada vez menos fiéis e o jornalismo vai pelo mesmo caminho.

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