Um morrião filipino

Rainer Daehnhardt, Presidente da Academia Portuguesa de Armas Antigas, especializou-se, ao longo de toda uma vida, no estudo da armaria de outrora. Daí que tenha recebido agora, vindo das Filipinas, o pedido para se pronunciar acerca das características do capacete que se mostra na figura.

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Trata-se de uma peça francamente rara, um morrião canelado, modelo que não voltou a ser fabricado. Tem 24 cm de altura e 38 de largura; pesa 2,450 kg.

O canelado, segundo R. Daehnhardt, servia para amortecer os golpes dos adversários, que, ao atingirem a peça, batiam contra rebordos metálicos, que impediam o acesso à chapa protectora da cabeça do portador. Isto apenas se fez na 1ª metade do século XVI na Europa, sobretudo na Alemanha e na Itália, que eram, então, os principais fornecedores de armaduras; no entanto, apenas os fabricavam de ferro, só os espanhóis e os portugueses os faziam de cobre e de latão.

Parece um vulgar capacete, mas – explica Daehnhardt – é um morrião: o capacete, colocado em cima de uma mesa, tem toda a sua borda assente, enquanto o morrião parece que “dança”, tanto para a frente como para trás.

Este exemplar é o chamado “morrião filipino canelado de pera”: tem um pequeno reforço no seu ponto mais alto, para melhor proteger o crânio do seu portador contra um golpe de machado ou de grande moca. A canelura só existe nos exemplares mais antigos, da 1ª metade do século XVI, porque, por a sua produção ser dispendiosa e exigir a mão de grande mestre, deixaram de se fabricar.

Na verdade, se esta cobertura de guerra e de cerimónia nos pudesse “falar” um pouco de tudo o que viu e de tudo em que participou, certamente poderia contar histórias bastante interessantes!

1 COMENTÁRIO

  1. Só um eminente especialista na matéria, receberia convite para se pronunciar sobre o dito “morrião filipino”.
    Temos de concordar que o cuidado na execução do artefacto, devia ser extremo, até no pormenor na parte superior, e por isso moroso (“não voltou a ser fabricado”). E como este parece ser de cobre ou latão (será?) terá origem espanhola ou portuguesa.
    Gostei muito de conhecer este exemplar antigo de defesa, em situação de guerra.

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