«Desligado do serviço»

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Um amigo meu solicitara a aposentação, por reunir as condições necessárias e suficientes para o efeito. Acaba de receber a resposta da Caixa Geral de Aposentações e da instituição de que é técnico superior: vai estar «desligado do serviço» a partir de 1 de Fevereiro próximo.

Assim: «desligado do serviço»!

Neste tempo das informáticas, em que a corrente eléctrica é fundamental, a passagem à aposentação não poderia, portanto, equivaler a algo menos elucidativo: «desligado do serviço». Como uma ficha, um computador. Deixa de estar ligado à corrente e, das duas uma, ou deixa de funcionar e morre ou corre a ligar-se a outra tomada!…

Aqui há tempos (eu creio já ter contado esta história várias vezes, tanto ela me chocou), precisámos de saber o contacto de um docente da Universidade do Porto, para uma comunicação de serviço. Acabara de se aposentar e a resposta foi:

            – Não temos os contactos. Esse professor já foi abatido.

A um desligaram-no do serviço; a outro, abateram-no!

Nada se faz por menos! Tanto um como outro estiveram quatro décadas a servir dedicadamente a instituição. Que interessa isso? Por sinal, também eram pessoas e não robôs. Que interessa? Desligam-se! Abatem-se!

Portanto, vocês, meninos, que estão no poder, que ainda têm emprego e trabalho, acautelem-se! De um momento para o outro, vão ser abatidos ou desligam-vos da corrente. Com uma agravante, sabem? É que ambos estes meus amigos foi deles que partiu a iniciativa de se aposentarem antes dos 70 anos. A vocês – os que ora têm na mão o botão de desligar ou a metralhadora para o abate – é bem provável que nem vos seja dada a hipótese de escolher: de um dia para o outro, sem aviso prévio, a ficha cai ou a metralhadora dispara, fatal!

1 COMENTÁRIO

  1. Agradeço este texto, José d´Encarnação que tão bem demonstra quão pouco vale a vida humana nestes tempos.
    O “desligado de serviço” não me choca muito, mas o “já foi abatido” é deplorável.
    Quarenta anos de bons serviços são o quê, afinal, para jovens gestores que foram educados para se sentirem superiores, ou pior, que chegaram aos lugares de topo por amiguismos, apoio de parentes, ou pelo famoso bom capital de relações sociais?

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