Um episódio que não posso deixar de o partilhar convosco.
Antes de mim entrou um idoso, com aspecto de quem acaba de sair da horta, horta pobre, de subsistência. Estava um pouco impaciente. Na mão guardava uns papeis, juntos, com, talvez, uma daquelas pequenas agendas que a minha mãe usava, não importava já o ano, mas aí tinha muitos números apontados, telefones, o valor da sua magra pensão, e algumas datas festivas.
Chegou a vez de chamarem o número que possuía para o atendimento. A principio meio distraído, olhar vago, rapidamente se acerca do balcão quando se apercebe que era a sua vez, a ansiedade sentia-se pela forma como rapidamente coloca um papel no balcão.
“-Não há dinheiro!”, responderam-lhe.
Ficou por segundos catatónico, sem saber que dizer, a tristeza baixou-lhe ainda mais pelo rosto, os suores frios adivinhavam-se, mas rapidamente se recompôs, olhando em volta, e apressou-se a sair comentando baixinho, “nunca há dinheiro”.
Acerquei-me, deste “meu amigo instantâneo”, e indaguei… Que vinha levantar a sua parca reforma, já com bastantes quilómetros feitos, desde Pontével até à sede de concelho, à estação dos CTT’s do Cartaxo. Voltava sem dinheiro, para casa, porque o “plafond” desse dia já havia terminado. Era meio dia.
“Que o vale é valido por 30 dias”, mas era hoje que o idoso o queria levantar, esteve um mês à espera deste dia, provavelmente, respondi eu, é inadmissível, não posso ficar calado, e é uma situação recorrente. E quando se tem pouco mais de 250 euros para levantar, qualquer dia de atraso é um dia mais de ansiedade inaceitável. O que os noss@s idos@s menos necessitam, depois de uma vida de trabalho árduo, é que um sistema inumano, e uns tantos burocratas financeiristas os tratem como coisas descartáveis.
Vamos ver se conseguimos que esta denuncia chegue longe, porque não será caso único. Tenham um bom resto de dia, coisa que para este idoso não será, certamente.
Francisco Colaço