Capitular está fora de questão, mas, sem que cause mossas, por vezes perco a vontade de refletir sobre o “inverno de vida ou de morte”, que se vislumbra. “Tréguas” de curta duração, porque diariamente me chegam mensagens de encorajamento de “resistentes”, tal como eu inconformados com o “golpe de Estado em câmara lenta” que há anos se desenrola no nosso país:
– desde logo na política, onde uma “república aristocrática”, que discretamente protegia uma nova “nobreza”, hoje já nem disfarça a exibição de “direitos hereditários”, inadmissíveis em qualquer democracia;
– na economia, onde o malbaratar de recursos e o despesismo prosseguem, em prejuízo da plebe e proveito dos “cortesãos”;
– no social, onde a injeção de milhões não inverte a degradação do SNS, da SS e da Escola Pública, enquanto a pobreza aumenta e a classe média encolhe;
– na justiça, que servida por Instituições crescentemente manietadas, se revela um “paraíso de pecadores e um inferno de justos”;
– e na cultura, esta uma questão transcendente para a nossa identidade nacional e para o nosso desenvolvimento, enquanto sociedade livre e estruturada.
A notícia que hoje me “faz doer o coração” vem de longe, oriunda de uma senhora perturbada a quem atribuímos o estatuto de deputada da AR, e que, em dia de inspiração, entendeu exigir a devolução, à Guiné-Bissau, de peças de arte alegadamente “roubadas” por Portugal. Uma exigência bem enquadrada nas patuscas declarações de um seu “colega” do PS que, pertencente à tendência maioritária, defendia a demolição de monumentos emblemáticos alusivos às Descobertas. Qual a admiração, se ainda insistem em reescrever a participação “direitista” do PS, no 25 de novembro?
Tais declarações provocaram então um forte abalo, mas o assunto depressa “morreu”: porque, reconhecidamente, Portugal deixou incólume todo esse património, muito dele vandalizado e pilhado após a independência; e porque, que eu saiba, também nunca nenhum dos PALOPS alguma vez reclamou oficialmente tal “dívida”.
Então, como explicar que, sem discussão pública e aprovação na AR, o Ministro da Cultura tenha agora anunciado a intenção do Governo em devolver, às ex-colónias, as peças africanas existentes nos museus nacionais? Uma “dádiva” sem qualquer critério e que nem os “interessados” se atreveram a reclamar? Pelo menos que eu saiba…
E até sei algo destas matérias porque, tendo reunido dezenas de milhares de artefactos da época colonial, e não só, entretanto doados ao Museu de Arte e Colecionismo de Cantanhede, nunca obtive qualquer avanço nos meus insistentes contatos para se erguerem “museus da lusofonia” nesses territórios. Intenção que, largamente anunciada, sempre mereceu o total desprezo de todos os Ministros da Cultura do século XXI, com exceção do “malogrado”, e honrado, Luís Castro Henriques. “Alheamento” a que não posso deixar de associar alguns Ministros dos Negócios Estrangeiros, o Instituto Camões e outras entidades, até porque o acervo também se estende às Ilhas.
Tendo, durante duas décadas, tido inúmeros contatos com várias Embaixadas e Consulados, e até efetuado deslocações a Angola e Goa, tendentes à transferência dessas inúmeras peças, nunca nenhum desses esforços obteve qualquer resultado. Resta de toda esta minha ação um protocolo subscrito em tempos com a Embaixada da Guiné-Bissau, com quem ainda mantenho excelentes relações.
Não é meu hábito nomear quem sobressai do comum dos mortais pela sua ignorância, incompetência e irresponsabilidade. Desta vez, porém, não resisto. A personagem que deve aos portugueses uma clara explicação sobre uma decisão absurda e precipitada, até porque “herdou” um processo que desencadeei e que apodrece no silêncio do seu Ministério, dá-se pelo nome de Pedro Adão e Silva.
Aposto que, continuando a agir assim, terá o futuro garantido…