A China está longe de ser um regime democrático e o que ontem publicámos é apenas uma das evidências do totalitarismo que caracteriza o regime do Partido Comunista Chinês.
O desaparecimento de potenciais inimigos do Estado chinês é prática recorrente. Talvez o mais famoso preso político da China seja um individuo que se chamava Gedhun Choekyi Nyima, um tibetano desaparecido em 17 de maio de 1995, com seis anos de idade. Hoje, provavelmente, mudaram-lhe a identidade.

A criança era o sucessor designado do Panchen Lama, alto dirigente da religião budista, escolhido pelo dirigente supremo Dalai Lama, através de um processo tradicional.
Desde que a China invadiu e ocupou o Tibete, o Dalai Lama é um elemento a abater, por ser o foco da resistência à ocupação. O rapto da criança e a imposição de um outro Panchen Lama fez parte do processo de criar divisões entre os tibetanos.
A verdade é que desapareceu uma criança de seis anos. A China assume que tem tido a criança (e a família) sob custódia, mas que todos estão bem de saúde. Mas nunca mais foram vistos. Visitas nunca foram autorizadas.
Na Assembleia da República
A denúncia destas práticas chinesas de fazer desaparecer inimigos políticos já foram, antes, objeto de discussão e votação na Assembleia da República.
Em 2019, 24 anos depois do sumiço de Gedhun Choekyi Nyima, os deputados portugueses votaram a condenação do “desaparecimento forçado do prisioneiro político mais jovem do mundo, o 11.º Panchen Lama”, solicitando ao Governo português que apelasse ao Governo chinês pela libertação do prisioneiro.
O PAN argumentou que o desaparecimento de Gedhun Choekyi Nyima era “uma violação grave e flagrante dos direitos humanos e liberdades fundamentais”, que desrespeitava a Convenção das Nações Unidas para a Proteção de Todas as Pessoas contra o Desaparecimento Forçado.
O voto de condenação foi apresentado por André Silva, na época o deputado único do PAN. Votaram a favor Bloco de Esquerda, o deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira, a deputada do PS Isabel Santos e quatro deputados do CDS-PP: Telmo Correia, Filipe Anacoreta Correia, Ana Rita Bessa e João Almeida. Os restantes deputados do PS, PSD, CDS abstiveram-se. Só o PCP votou contra.
Gedhun Choekyi Nyima hoje terá 33 anos de idade.