Dizem que visitamos Portugal dos Pequenitos, em Coimbra, duas vezes na vida: quando somos crianças e quando temos filhos. Eu tenho uma quota bem mais elevada e talvez tenha roubado a oportunidade ou a vez a outros. Fui muitas vezes ali quando era criança e outras tantas com as minorcas da casa.
Viajar até lá pode ser uma boa proposta para passar um dia ou um fim-de-semana.
Todavia, este Portugal dos Pequenitos já nada tem a ver com o da minha infância. Pode ser o romantismo da recordação. Mas não me parece…
De facto, os bilhetes não são baratos, ainda por cima tendo em conta a degradação do interior que magoa profundamente. No site anuncia-se a venda de ingressos online. Não funciona. Resta esperar em filas que atravessam o largo fronteiriço. Uma vez entrados, há dois pavilhões que estão muito bem cuidados. O de Timor, por exemplo, tem a história do crocodilo e a presença portuguesa, entre outros pormenores interessantes. É o primeiro espaço a visitar. Depois, há as casinhas, mesmo os pagodes chineses, e os museus e monumentos nacionais em miniatura. A fechar, o espaço dedicado a África também está razoavelmente ilustrado. Pelo meio fica o pavilhão do Brasil, com um filme sobre a Amazónia, que se revelou uma boa surpresa.
O problema é que à porta das casinhas portuguesas e dos monumentos, fechados em pleno Verão, tem os qrcode que não vão dar a lado nenhum e informação ZERO. Em 2019, uma notícia dizia: ‘Um novo mapa infográfico, uma aplicação para smartphones inovadora e a abertura de uma exposição foram as novidades tornadas públicas (…) pelo Portugal dos Pequenitos, que celebra este ano o seu 79.º aniversário’. Passada pelos polígrafos, esta notícia seria falsa.
Em diversos espaços surge a informação: ‘encontram-se temporariamente inacessíveis, em virtude do processo de renovação de conteúdos’. Pois, mas o preço dos bilhetes é o mesmo… E não seria grave se, por exemplo, nos degraus de acesso ou no interior de alguns monumentos, naturalmente desgastados pelo tempo e por muitas visitas, houvesse uma tira antiderrapante, que não será muito cara e teria impedido uma senhora de cair e abrir a cabeça, como vi em Setembro, no dia em que ali fui com as minhas netas.
Não há um folheto, uma visita guiada, uma explicação… Com tanta gente no desemprego ou mesmo com recurso a voluntários das escolas, a Fundação Bissaya Barreto não encontrou três ou quatro jovens que se dispusessem a acompanhar os mais pequenos? São pequenas soluções que impediriam a sensação de abandono e desleixo que nos fica.
Será que a Fundação se esqueceu que, ‘no âmbito da sua ação em defesa da criança, Bissaya Barreto idealizou este parque-jardim, de características únicas (…)’, inaugurado a 8 de Junho de 1940?