O lugar é conhecido por Mata Rainha, na bifurcação de caminhos, entre as povoações de Arcozelo do Cabo e de Moimenta da Beira, freguesia de Arcozelos, concelho de Moimenta da Beira. Este caminho está sinalizado como Caminho de Torres – Caminho de Santiago e poderá ter integrado o presumível itinerário romano entre Peso da Régua e Moimenta da Beira – Marialva.

Mede 1,71 m de altura; o braço horizontal 62,5 cm e o braço vertical tem largura de 20 cm em cima e de 30 na base. Assenta numa laje de 92 cm de comprimento. Há uma espécie de nicho escavado na zona inferior, com 34 cm de altura e 24,5/26 de largura; escassa é a profundidade (rondará os 5 cm) para permitir a colocação, por exemplo, de uma jarra de flores. Poderia ter tido, ao invés, alguma pintura que o tempo se encarregou de apagar.

Parece contemporânea da construção do valado a sua inserção ali.
Deriva o enigma que o envolve não do facto de ter na base a data de 1776, mas da estranha inscrição que lhe gravaram no braço.
A classificação de «alminha» poderia ajustar-se-lhe, na medida em que essas evocações das almas do Purgatório – com o pedido da reza de um padre-nosso e de uma ave-maria – estão habitualmente nos caminhos, sobretudo nas encruzilhadas, porque o Homem, já desde mui remotas eras, guarda respeito por esses locais onde se definem direcções e por onde pairam génios capazes de iludir o viandante…
Alminha poderia ser. E, nesse caso, o letreiro encaminhar-nos-ia para uma jaculatória, uma prece de sufrágio pelas almas no Além. Não parece ser. Nada de semelhante às siglas P N A M consagradas.
Cruz num caminho é também sinal de morte. E há mais uma cruz gravada no topo! Morte inesperada, violenta quiçá. Não há lugar aqui para desastre rodoviário que é caminho para pessoas, bestas e respectivas carroças. Nessa 2ª metade do século XVIII (o terramoto há muito ocorrera…), só de morte violenta aqui se poderia tratar. Nesse caso, o desgraçado está identificado no letreiro.
Difícil é a tarefa, agora – sem possibilidade de acedermos, por enquanto, a documentação antiga do lugar. «Lopo» parece a palavra final. Muito mal amanhadas estão, porém, as letras anteriores. Im é claro e atabalhoado está o signo antes do I. Será q? E a primeira letra, um J? Somos tentados a ler Joqim, Jaqim. Depois do m e antes do L, I poderia, assim, ser a sigla doutro sobrenome. Cruzeiro a memorar, pois, Joaquim I. Lopo, que no local, em dia trágico, a morte surpreendeu.
Não deixa de ser este, na verdade, um «monumento» no preciso sentido do termo. Há que preservá-lo, desafiante como é para os historiadores locais: que é que realmente terá acontecido ali no longínquo ano de 1776?

(com José Carlos Santos)