São duas fotografias quase iguais. Isto é, são bem diferentes, embora enquadrem mensagens parecidas. Nas duas imagens, a mesma parede que serviu de suporte para a montagem da edição do Expresso que sai hoje para as bancas.
Era mais ou menos assim que dantes se faziam jornais. Os textos eram recortados e montados nas páginas que se penduravam alinhadas umas às outras, para que se pudesse ter uma visão global do que seria o jornal que dali a umas horas os leitores iriam comprar e ler.
A principal diferença entre as duas fotos é que na melhor delas não está o patrão. O velho Balsemão está ali por mera deferência de quem escolheu publicar a fotografia. É um afago. Uma bajulice. E foi essa a imagem escolhida para ser publicada no site provisório.
A história que importa contar é a da aprendizagem a que foram obrigados os jornalistas no Expresso, se queriam ter a edição em papel nas bancas, hoje.
Interessante é também o texto que conta a verdadeira história, onde o Balsemão não mexeu uma palha: “Os sistemas digitais onde o jornal é feito morreram e não houve tempo para fazer o luto. As páginas começaram a ser desenhadas à mão outra vez, como se nunca tivessem existido; as notícias foram colocadas e revistas num único computador; a edição foi toda fechada nas paredes e num quadro branco instalado de emergência. Foram encontradas novas dificuldades mas também nervos de aço.”
As mesmas dificuldades tiveram de ser ultrapassadas no conjunto de canais da SIC, com a diferença de que ali não há um jornal para fazer, mas vários ao longo do dia. Dificuldades que se exponenciam no canal de notícias. Como contámos já há dois dias, a “manobra” de produção e emissão dos noticiários recuou décadas no tempo para se voltar a fazer televisão à mão, sem computadores, com alinhamentos de noticiários manuscritos, em gatafunhos apressados, em folhas de bloco de notas.
Nas redações afetadas pelo ataque dos piratas informáticos do Lapsus$ Group, têm sido dias de exaltação e de redenção. Eles estão a viver um momento de crise que, para já, deve ter refeito o espírito de grupo nesses locais de trabalho. Conseguir manter as emissões no ar e o jornal nas bancas é um desafio a que não se vira a cara. É por isso que eu prefiro a fotografia onde o Balsemão não está.