Detido numa prisão sul-africana, dificilmente João Rendeiro poderá atualizar o blog Arma Crítica, criado para poder ter uma via de comunicação sem mediadores com o Mundo. O que lá está são as mensagens que o antigo banqueiro quer passar, o que não é pouco.

Foi ali que ficámos a saber que se tinha ido embora sem intenções de regressar. “Desta feita não tenciono regressar. É uma opção difícil, tomada após profunda reflexão. Solicitei aos meus advogados que a comunicassem aos processos e quero por esta via tornar essa decisão pública”, por se sentir injustiçado, conforme escreveu.
O blog serve para tramar antigos parceiros em negócios, como será o caso de Luís Filipe Vieira (outro caído em desgraça). Numa análise que fez à OPA do Benfica, Rendeiro aventa que “o Benfica quer comprar lebre por gato”, que a OPA seria um artifício financeiro para controlar a SAD e safar o bolso de alguns sócios.
E é também por ali que podemos ter uma ideia dos inimigos que enfrenta. A crónica que dedicou a Francisco Pinto Balsemão é deliciosa e todos a devíamos saber de cor. Na primeira parte da composição, Rendeiro conta uma história do tempo da tropa de Balsemão.
“Um grupo de milicianos (onde Francisco se incluía) tinha resolvido fazer um ‘levantamento de rancho’ como revolta às prepotências que o então todo-poderoso (e protofascista) General Kaúlza de Arriaga fazia aos seus indefesos subordinados. Passado pouco tempo o ‘levantamento de rancho’ estava resolvido e Francisco Balsemão transformado em ‘ajudante de campo’ de Kaúlza de Arriaga. Francisco tinha alavancado a luta dos seus camaradas em proveito próprio”, diz João Rendeiro sobre o carácter de Balsemão.
Não esquecer que Francisco Pinto Balsemão foi parceiro de João Rendeiro no BPP, nos corpos sociais do banco e nos negócios que o BPP ajudou a erguer como, por exemplo, as operações financeiras que em 1999 reforçaram o controlo de Balsemão na SIC. Numa época em que por lá andava, também, Joe Berardo. E Jacques Rodrigues. Um notável friso de figurões.