Balsemão, entrevista curta

É bem possível que tenha sido uma entrevista com perguntas negociadas, disse-me um amigo que também já trabalhou na RTP e na SIC. E que foi um dos que integrou o primeiro despedimento coletivo levado a cabo na SIC, em 2002.

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Filho único, neto único, sobrinho único, herdeiro único, “menino preservado e dourado”, não foi à escola como outras crianças menos afortunadas, “estudei em casa, tive professor de francês”. Este é o Balsemão com quem a Fátima Campos Ferreira conversou ontem, naquilo a que se chamou uma entrevista jornalística.

Se o intuito era falar do estilo de vida do homem, a coisa ficou aquém do exigível. Falou-se de um “casamento feliz de mais de 50 anos”, para não se falar de um divórcio anterior que deixou profundas marcas nos dois filhos desse casamento, e nele próprio, e não se falou do filho fora do casamento que, ironia do destino, apesar de reconhecido e perfilhado muito tardiamente é hoje o tipo que conduz a SIC.

Ficámos a saber que sempre gostou de mulheres despidas. “O meu tio Xico, quando chegava de Paris, trazia o catálogo das Folie Bergere, as senhoras todas nuas e eu precipitava-me para aquilo!” LOL. E também se lembra de que gostava de ver a “Maja Desnuda”, uma pintura de Goya. Mas quem não gosta, não é?

Maja Desnuda, Goya

Se era para falar da obra empresarial, a entrevista também ficou curta. Falou-se bastante do jornal Expresso e das tropelias de Marcelo Rebelo de Sousa, mas quase nada da SIC, talvez para não se ter de falar de Emídio Rangel.

Mas foi pena, até porque a entrevistadora fez questão de dizer que Balsemão foi “jornalista”, mas não se quis lembrar de lhe perguntar pelos despedimentos coletivos que afetaram a vida de muitos jornalistas, e das perseguições caninas que moveu a alguns, umas vezes ele próprio, outras vezes por interposto capataz, tanto no Expresso como na SIC. Balsemão não se importa que morram de fome aqueles de quem ele não gosta.

– Guarda rancor?

– Não… rancor é uma palavra muito feia, não é?

– De que serve não esquecer?

– Serve para um dia, talvez, ainda poder ajustar umas continhas, em qualquer lugar, em qualquer momento…

Não se falou da dívida bancária que, segundo diz imprensa menos amiga, ronda os 400 milhões de euros. Uma dívida impagável que, como muitas outras, ainda nos vai cair no regaço.

O que ficou mais desta entrevista é o retrato de um político falhado, nunca venceu umas eleições e, no PSD, não o deixaram, sequer, ser candidato à Presidência da República, lugar onde hoje mora um dos seus inimigos mais queridos.

Sim, o que faz uma grande entrevista não é a duração.

1 COMENTÁRIO

  1. Gostei de ouvir a frase «ajustar umas continhas», porque, na verdade, o veneno do escorpião pode, um dia, voltar-se contra si mesmo e a rã ficar imune. E há sempre uma oportunidade à espreita, amigo Carlos, porque lá dizem os italianos «la vendetta si serve fredda» – e é assim mais saborosa do que um gelado do Santini…

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