No final de 2020 a autarquia divulgou o número de pessoas sem-abrigo em Lisboa. Eram, em dezembro desse ano, 356 pessoas, dos quais 46 eram mulheres. Mas a autarquia não continuou a contar. Agora, depois de ano e meio de pandemia, com a devastação que ocorreu no comércio e serviços, no turismo principalmente, o número de pessoas desamparadas será maior.
Não se julgue que as pessoas sem-abrigo são obrigatoriamente inválidas ou incapacitadas. Nada mais falso. A média de idades está abaixo dos 50 anos e, portanto, são pessoas que, em princípio, têm capacidades físicas e intelectuais suficientes para exercerem uma profissão.
Mas a cidade tem cada vez menos para oferecer a estas pessoas. A crise económica agravada pela crise pandémica, encerrou já muitas pequenas empresas de comércio e serviços. E quem perdeu o posto de trabalho dificilmente encontrou outro.
A autarquia limita-se a colar remendos, pouco mais pode fazer. Há centros de emergência para apoiar os sem-abrigo, mas nem os sem-abrigo gostam de lá estar nem os vizinhos os querem por perto. A ideia de concentrar sem-abrigo não agrada a ninguém como, de resto, se tem visto em Arroios, Areeiro ou Expo, onde a autarquia instalou alguns desses centros de emergência. Os ghettos sociais criam distorções de comportamento e isso arrasta problemas que ninguém sabe bem como resolver.
Hoje, com a chegada do calor e do tempo seco, há gente a dormir pelas ruas, um pouco por todo o lado. No Largo do Martim Moniz, por exemplo, há os que dormem deitados em cima das grelhas das condutas de ar do metropolitano e há os que dormem dentro dos balcões de bar que o fecho dos quiosques deixou sem préstimo e disponíveis para servirem de toca a quem não se quer expor aos olhares de quem passa.
Estão por todo o lado, basta dar uma volta pela cidade às primeiras horas da manhã. Depois eles levantam-se e diluem-se na paisagem urbana.