Televisões privadas, vidas difíceis

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Os dois principais canais privados generalistas de televisão dão sinais de estar com alguns problemas financeiros. Mas fingem o contrário.

A TVI anunciou com alguma pompa a celebração de um acordo com o canal global norte-americano CNN para a criação da CNN Portugal. O anúncio quase dava a entender que a CNN americana estaria desejosa de se associar à TVI. Mas, na verdade, o acordo prevê que a CNN passe a escoar para a TVI o seu portefólio de conteúdos televisivos. Ou seja, a TVI pode encher a programação dos seus canais secundários no cabo com a “tralha” americana. Talvez de modo a aliviar parte da carga salarial que hoje tem de suportar.

Dias depois do anúncio da CNN Portugal, adicionaram nova informação: o novo canal CNN Portugal vai absorver a TVI24 que desaparece como marca. Além do mercado português, a CNN passará a ter maior penetração em mercados lusófonos, nomeadamente em Angola e Moçambique.

A SIC, por sua vez, vai lançar mais uma operação bolsista para se financiar. Estamos a falar de 1 milhão de obrigações a 30€ a unidade. Serão 30 milhões, se a coisa correr bem. Acontece que a SIC anunciou aceitar (aceitar ou desejar?) a troca das obrigações cujo prazo de maturidade termina a 11 de junho do próximo ano, data em que a SIC terá de devolver 51 milhões aos milhares de pequenos investidores que adquiriram as obrigações há 3 anos. Como as novas obrigações têm um prazo para reembolso em 2025, a troca beneficia quem tem de pagar. Deve ser a isto que se chama empurrar o problema com a barriga.

Quem não quiser trocar as obrigações velhas pelas novas, vai ter de esperar pelo dia 11 de julho de 2022. Nessa altura, a SIC, através do grupo Impresa, terá de garantir o reembolso do montante investido nas obrigações SIC 2019-2022. Caso a estação não devolva o empréstimo ou não haja qualquer renegociação, será considerado um incumprimento. E como uma obrigação é um produto financeiro, não há qualquer fundo de garantia que assegure o reembolso dos montantes até aos 100 mil euros, ao contrário do que acontece nos depósitos a prazo – assegurados pelo Fundo de Garantia de Depósitos. Ou seja, quem arriscou pode não petiscar.

Convém não esquecer que o endividamento continua a ser o “calcanhar de Aquiles” da SIC. No estado a que a banca chegou, talvez não esteja fácil obter empréstimos por essa via e o mercado de obrigações será uma boa aposta se as pessoas acreditarem que vão ser ressarcidas e receber os juros prometidos.

Os canais de televisão privados portugueses nunca tiveram uma vida financeira folgada, exceção da SIC entre 1995 e 2001, período em que Emídio Rangel fez da SIC uma máquina de enviar dinheiro para o bolso de Balsemão. De resto, SIC e TVI se não fossem as ajudas dos governos ao longo dos anos, já poderiam ter falido.

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