EL HÚSAR MELANCÓLICO

JOSÉ LUNA BORGE ou O FULGOR DA QUIETUDE

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El misterio del tiempo
Qué mistério?
me digo,
si tu amor fue un momento
y ya no estás conmigo.

Podíamos partir deste breve poema El mistério del tiempo e do pressuposto de que o amor tudo comanda, para analisar o poemário de José Luna Borge, poeta, ensaísta, ex-director do suplemento de cultura “La Mirada” no Correio de Andaluzia e da revista El Mirador de Los Vientos.
Nascido em Sahagún, Léon, mas a viver desde 1980 em Sevilha, Luna Borge é autor de um longo continuum poético, onde cada composição vai recebendo abrigo numa quietude reverente, imperceptivelmente fulgurante.
Como veremos pela leitura comovida de El Húsar Melancólico, além do amor há outros sentimentos fortes que impulsionam a vida, mesmo quando o indivíduo a vive num silêncio reconhecido: amizade, ternura, capacidade de sonhar intensamente.
Reconhecimento das experiências que o estruturaram enquanto ser humano, das belezas da existência que vai retendo em cada olhar desde criança, e de que lamenta não poder despedir-se um dia, tão afeiçoado a essas companhias, visuais e sonoras, musicais até, sejam elas uma sonata de Schubert, ou a melodia alegre das andorinhas – Golondrinas.
Sem nunca comprometer o rigor formal e a musicalidade das estrofes, José Luna Borge tem a capacidade poética de se exprimir de várias formas, em diferentes géneros temáticos e modelos discursivos, para assinalar a passagem do tempo e a mudança inevitável que ele opera em cada um de nós.
Testigos, um dos belos poemas deste livro, comprova-o. Há trechos do percurso de cada indivíduo que a poeira do tempo, e alguns momentos menos ditosos, vão apagando, mas se a inevitável mudança tem aspectos indesejáveis, também lhe dá de presente a certeza de que, um dia, o vento que cobriu de pó as camadas de vida mais ditosas fazendo-o duvidar se existiram, voltará a passar em sentido contrário e a descobrir o brilho em que reconhece a sua identidade. Mesmo consciente de ser outro, aprecia rever o passado pintado com cores garridas e dizer: aquele era eu.
Assim como considera que o amor é motor da vida, Jose Luna Borge também não deixa de assumir que, quando ele acaba, é melhor deixá-lo ir. Nada o trará de volta para alimentar o mesmo encantamento antigo – Sólo Fábula – seria sempre um esforçado repetente de gestos que já nada representam, mesmo que tentasse renovar-se.
Talvez sejam este tema e o da morte, envolta em brumas e visita inesperada, duas angústias existenciais de José Luna Borge tratadas com serena frontalidade. Afinal, as lutas que empreendemos pelo sucesso, que pode ou não acontecer, acabam todas nessa linha de finitude que ninguém consegue evitar, nem vencer regressando, uma vez ultrapassada. Tanto empeño.
Dessa luta inglória ficam as saudades, o buraco fundo de um vazio que nada mais consegue preencher. A não ser que chegue alguém com um perfume novo, ou acenda as luzes que mostrem os recantos sensoriais que importam e não tínhamos descoberto. Em Las lâmparas del tiempo, Luna Borge assume que talvez escrever Poesia seja isso mesmo, uma forma de “…escapar por las cárcavas del tiempo”., e encontrar no já olhado, mas não visto, uma razão de vida em forma de evasão.
A melancolia em composições como A veces, em que o Poeta considera renunciar como sendo a atitude mais acertada, faz-nos voltar à simbologia do título, à consideração das razões para partir sem rumo certo, ou permanecer e aceitar acomodar-se à “muelle de las brumas”.
Importa ainda dizer que este livro, com 71 páginas de puro encanto, foi publicado pela editora AVERSO em Granada, em Novembro de 2024. É um documento literário elaborado com o maior cuidado estético no grafismo, respeitando a importância dos recursos estilísticos, da inegável delicadeza na composição harmoniosa das estrofes, tornando-o irresistível a novas releituras.
É Poesia no seu estado mais puro, desde o título ate ao último poema, En silencio.

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