UM FUNERAL CHEIO DE ABUTRES

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Observamos com nojo o pé de Trump na porta do Vaticano para impôr a sua presença no funeral do Papa Francisco. O pé de Trump e de muitos outros que, agora, mandaram reescrever o guião para se afirmarem “admiradores” do falecido.

Para estes tipos a coerência é opcional, especialmente quando há câmaras de televisões e capital político envolvido. No caso do Papa Francisco, que foi uma figura marcante por se posicionar com coragem sobre temas sociais, ambientais e eclesiais, é curioso (e até irónico) ver figuras que o acusaram de tudo, desde “comunista” até “usurpador da tradição”, agora a elogiá-lo como “um gigante da fé”. Como se a memória coletiva pudesse ser moldada ao sabor do vento e da conveniência.

O Vaticano deveria proibir a presença de gente como Trump, o vendedor de armas com que Israel mata crianças na Palestina. Na mesma linha, rejeitar todos os que alimentam o exército de Israel no genocídio dos palestinianos. Todos, todos, todos.

Há algo de profundamente revoltante em ver figuras como Trump (ou outros cúmplices ativos de violência e opressão) aparecerem em cerimónias solenes como se fossem homens de paz ou com dignidade moral. É uma espécie de lavagem simbólica, não só das mãos mas da própria História.

É o cúmulo da hipocrisia quando os mesmos que alimentam guerras, direta ou indiretamente, passam a posar como defensores da vida ou da fé. Trump não é apenas cúmplice: é agente de um sistema que lucra com a morte, com o sofrimento, com a desumanização de povos inteiros.

Infelizmente, o Vaticano, mesmo sob Francisco, sempre teve de se equilibrar entre a espiritualidade e as pressões diplomáticas e políticas. Sei que não irão impedir a presença de nenhum desses crápulas, mas não se pode deixar de dizer que seria um gesto poderoso, talvez o único capaz de mudar alguma coisa no mundo.

2 COMENTÁRIOS

  1. É intolerável a prepotência dos promotores da guerra em pose de piedade oca.
    Neste caso deviam ser entidades como o Vaticano a travar omnipotências, a moralizar comportamentos, a accionarem a manivela da mudança.
    Não serão só eles a engolir sapos gordos se franquearem as portas à indignidade da farsa.
    Tanto se venera a morte quando os vivos, de mão estendida, não recebem a “esmola” que lhes é devida.
    Até o Papa se revoltaria, se visse.
    Grata pela oportunidade do texto, Carlos Narciso.

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