Yasmina Khadra, pseudónimo feminino do escritor argelino Mohammed Moulessehoul, revela-nos neste livro a sua verdadeira identidade. Em “O Escritor”, temos acesso à sua vida como cadete militar desde os 9 anos de idade bem como à difícil decisão que teve de tomar entre seguir a vida militar ou pura e simplesmente o sonho de ser escritor.

Privado de infância, confiscada a adolescência, a juventude comprometida, estava traçado o caminho de uma renúncia há muito anunciada. O estatuto de cadete imposto pelo pai sobrepôs-se sempre à sua individualidade, anulando-a. O exército não necessita de poetas ou prosadores, dizem-lhe. Porém, para o jovem cadete a leitura era a sua principal forma de evasão; falava-lhe do mundo que lhe faltava, das paisagens e civilizações longínquas com que sonhava.
Desde o início, sentimos a angústia do protagonista, pela sua vida repleta de tentativas para construir um mundo e arranjar um cantinho nele. Sofreu detenção na penitenciária da escola militar com apenas treze anos: e era já um homem. Ousado. Inteligente. Sensível. Nunca desistiu do seu direito de pensar: “Quem cai, levanta-se. Fingir-se morto, seria estúpido, escavar um buraco, ignóbil. Um dia haveria de voar.”
A mãe, uma mulher pobre que serve o marido com uma devoção tão forte como a fé e que depois é abandonada, trocada por uma jovem.
Depois, o perdão ao pai. “Nada esqueci. Tudo perdoei. Em momento algum achei útil lembrar-lhe o mal que nos fizera. Para se viver feliz, há que viver sem rancor”.
Resta sempre a verdade de que “com o passar do tempo tudo passa” (Leo Ferré).
E no fim, a coragem para aceitar o seu destino e nunca desistir daquilo que sabia ser mais forte que o destino: a sua vocação de escritor.