A guerra na Ucrânia é uma consequência de actos anteriores considerados uma ameaça pelos dirigentes russos. Houve avisos que foram negligenciados e a guerra aconteceu.
A Rússia já falou. Não quer a Ucrânia na NATO, não quer mais bases da NATO perto das suas fronteiras, sente-se ameaçada com essa vizinhança. Para lá destas linhas vermelhas, não se conhecem outras exigências da Rússia e não se vislumbra qualquer objetivo estratégico para dar início a uma guerra mais ampla e contra inimigos muito poderosos.


Ao contrário, vários líderes ocidentais, membros de diversos governos e da NATO, confessaram que a Ucrânia lhes servia perfeitamente para ir minando a capacidade militar e económica da Rússia, no sentido de, um dia, estarem reunidas as condições para provocar ali uma mudança de regime, esfrangalhar a Federação russa e poderem ser abocanhados o petróleo, o gás, os diamantes, o lítio e as terras raras da Rússia.
Para a Rússia, é provável que os recentes apoios de líderes europeus a Zelensky e as promessas de apoio contínuo ao esforço de guerra ucraniano, sejam interpretados nessa lógica de interesses no desmantelamento da Federação.
Depois da clivagem que surgiu entre Trump e Zelensky, os líderes europeus prometeram um apoio mais robusto à Ucrânia, incluindo a disposição de enviar tropas para garantir a segurança no país. Ou seja, é a Europa ocidental que mostra vontade de ir para a guerra.
O primeiro-ministro inglês Starmer anunciou que o Reino Unido e a França liderariam uma “coligação de voluntários” para apoiar a Ucrânia, estando preparados para fornecer aviões, tropas e assistência financeira substancial. Embora haja ampla concordância quanto à ajuda a prestar à Ucrânia, sobre o envio de tropas para o terreno não há consenso. Para vários países europeus, enviar tropas para a Ucrânia só no âmbito de uma força de manutenção de paz, depois de haver um acordo assinado entre os beligerantes.
A questão é que no actual regime de direito internacional, uma força de manutenção de paz precisa de um mandato da ONU, geralmente aprovado pelo Conselho de Segurança. Esse mandato define a missão, os objetivos e as regras de engajamento das tropas. No caso da Ucrânia, conseguir esse tipo de mandato seria muito complicado, já que a Rússia é um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e tem poder de veto. Dificilmente Moscovo aprovará uma força de paz internacional em território ucraniano, especialmente se essa força for vista como contrária aos seus interesses.
Por isso, há a possibilidade de que, caso se forme uma força de manutenção de paz para a Ucrânia, ela seja criada fora da estrutura da ONU, através de uma coligação de países europeus ou da NATO, se houver consenso nesses grupos. Esse tipo de força seria politicamente sensível e de grande risco militar, já que poderia ser vista pela Rússia como uma provocação ou uma escalada do conflito.
Estamos neste ponto e os povos não têm uma palavra a dizer, os líderes não querem saber o que as pessoas pensam, decidem como se estivessem mandatados para enviar mancebos para a guerra. Mas ninguém lhes deu esse voto.